Bruuh 22/05/2013"Em busca de um final feliz" é um relato real dos moradores de Annawadi, uma favela que fica ao lado do Aeroporto Internacional de Mumbai.
Katherine Boo morou durante quatro anos em Annawadi e relata nesse livro o dia a dia das pessoas que lá vivem.
"Os eventos contados nas páginas anteriores são reais, assim como o são todos os nomes."
Annawadi formou-se pelos "pedreiros" que construíram o Aeroporto. Ao terminarem a obra, viram que "sobrou" um pedaço de terra. Fizeram dali sua moradia, já que seria prático estar por perto caso o prédio precisasse de alguma manutenção. Agora Annawadi é um assentamento com mais de 300 barracos, onde 3.000 moradores vivem em uma eterna pobreza.
Com base nisso, conhecemos Abdul Husain, um homem (garoto?) de olhos fundos, quieto, corpo rijo e curvado pelo trabalho, ele mora em um barraco com mais 9 pessoas. Abdul é catador de lixo e sua família é a que fatura mais dinheiro com isso na favela, graças a ele, que trabalha em nome da família, pois seu pai tem tuberculose. Porém, a família Husain está enrascada: Fátima, conhecida como Perna Só, atirou fogo nela mesma...
"Ser pobre em Annawadi, ou em qualquer favela de Mumbai, era ser, invariavelmente culpado de uma coisa ou outra."
No hospital, Perna Só culpa Abdul, junto com sua irmã, Kehkashan e seu pai, Karam.
Agora sua mãe, Zehrunisa, luta para tirá-los da justiça. Porém, policiais pedem propina para retirar a acusação contra eles.
Perna Só paga propina para colocarem algo incriminador para os Husain em seu depoimento. E isso vira uma bola de neve.
Dentro da história há Asha, uma mulher de 40 anos que tem como maior ambição tornar-se a Senhoria da Favela. Ela anda com políticos e ajuda-os a criar empresas fantasmas. Ela promete melhoras em Annawadi em troca de voto dos moradores. Sua filha, Manju, é a mais linda da favela e a única que está cursando faculdade. Para Rahul, seu filho, conseguiu que ele trabalhasse como garçom no Hotel em frente à favela. Sua casa tem um ventilador de teto, televisão e piso, algo que os moradores de Annawadi sonham em ter.
Há Sunil, amigo de Abdul, ele é um catador de lixo de 12 anos. Antes de Annawadi, ele viveu em um orfanato de feiras. No orfanato, porém, as freiras desviavam roupas e doações que recebiam e quando Sunil completou 11 anos, o jogaram na rua, pois era "difícil de tratar". Ele tem uma irmã, e tem o orgulho ferido por ela ser mais alta que ele.
Com isso, conhecemos diversos moradores e suas histórias, desde a menina que apanhava por tudo ou o homem que fazia listras em cavalos e dizia que eram zebras para que as pessoas alugassem para aniversários de crianças. As histórias juntam-se para mostrar as realidades dos moradores. Aliás, para contar se Abdul e sua família conseguiram justiça ou não, é necessário conhecermos alguns moradores que ajudam ou que pioram a situação da família Husain. Pontos de vistas diferentes são mostrados.
O livro não tem uma narrativa pesada, porém mostra-nos a desumanização exposta. Políticos
e policiais corruptos, e a consequência disso para os moradores de Annawadi que lutam para sobreviver e criar seus filhos. Pessoas com virtudes, defeitos, ambições. Pessoas cheias de sonhos que moram ao lado de Aeroporto e Hotéis de luxo e que vivem dos lixos dos mesmos, quando não conseguem algo melhor. Katherine também relata no livro muito da cultura indiana, desde as castas de cada morador, suas superstições, seus deuses, etc. Ela introduz palavras indianas ao livro, o que faz você realmente entrar em Mumbai.
Essas páginas mostra-nos o que há por dentro de uma favela dentre as milhares que existe por aí. Uma crítica às políticas desumanas, às condutas daqueles que tem o poder de ajudar, mas que fazem exatamente o contrário. Um livro super recomendado.
" (...) Uma vida decente era aquela em que o trem não o atropelava, onde você não ofendia o senhorio da favela e a malária não te pegava. (...) "