Gabi 19/10/2013
Impossível não ler!
O tema da adoção é muito frequente, principalmente em novelas, mas de modo geral, se pensarmos bem há muito mais histórias de órfãos do que imaginamos. A palavra "órfão" parece sinônimo de tristeza, histórias de órfãos são em sua maioria tristes, órfãos não tem pai nem mãe, foram criados por parentes, quando não tem ou o pai ou a mãe, são criados por madrastas ou padrastos que por sua vez também são palavras de conotação ruim porque na maioria das histórias são pessoas más que criam o órfão quase que por obrigação. A literatura, o cinema, os quadrinhos, tem inúmeros exemplos de órfãos. O clássico "Os Miseráveis", de Victor Hugo tem Jean Valjean, Fantine, Cosette e Marius, praticamente todos os personagens principais. "Oliver Twist", de Charles Dickens tem o próprio Oliver, um dos órfãos mais sofridos da literatura. O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Éxupery também não tem pais. Nos quadrinhos temos Super Homem, Homem Aranha, Batman, Homem de Ferro, todos poderosos órfãos. Mas onde mais ouvimos falar de órfãos é nas novelas, principalmente pelo seu alcance e grande apelo popular. Nas tramas sempre há um personagem, em sua maioria crianças que não tem pai nem mãe ou um dos dois, e também há os órfãos que não são órfãos, mas na verdade não sabe quem são seus pais ou onde eles estão.
É o caso de nossa personagem Sara Gallagher, que é adotada, trabalha com restauração de móveis, tem uma filha, Ally, de seis anos de idade, que é órfã de pai também, claro. Sara teve um marido que morreu em um acidente de carro, um namorado, e vive com Evan, dono de pousada com quem pretende se casar. Sara não se considera uma pessoa normal, justamente por isso frequenta uma psiquiatra, que ela considera uma das únicas pessoas que realmente consegue ajudá-la. O livro se detém em grande parte na análise e detalhamento da personalidade e comportamento da protagonista. De personalidade complexa, Sara tem que estar sempre atenta em como se comportar, o que falar e como falar com outras pessoas e com a própria família. Logo no começo já sabemos que Sara é órfã e adotada, e somos levados a crer que esses "problemas" são a causa de seu comportamento diferente, e é um comportamento chato, enfadonho, dá até pra ficar com raiva dela em vários momentos, de mandá-la as favas com suas manias. Percebemos que temos que ter muita paciência para lidar com pessoas assim e que não temos tanta paciência assim, realmente parece que só a terapeuta dela, Nadine, consegue ter jeito e paciência para lidar com Sara.
Ficamos sabendo que a infância de Sara com os pais e irmãos adotivos não foram lá muito agradáveis, a mãe era bondosa, mas o pai não se dava bem com ela, e as irmãs eram indiferentes a situação dela, mesmo depois de adultas. Então Sara cresceu sentindo um grande complexo de rejeição, mas pelo menos é uma pessoa que tem plena consciência de seus defeitos. Por conta disso tudo, depois de já ser mãe e prestes a se casar novamente, Sara decide descobrir quem são seus pais verdadeiros. E é algo que teria sido melhor que ela não soubesse, pois acaba descobrindo que seu verdadeiro pai é um serial killer, há anos procurado, e que seu nascimento é resultado de um estupro cometido contra a única vitima que conseguiu escapar do assassino. O que era pra ser apenas uma descoberta casual vira um pesadelo na vida de Sara, envolvendo quase todos ao seu redor.
John, conhecido como o assassino do acampamento quer se encontrar com Sara e conhecer a filha que ele nem sabia que existia. Sara por sua vez com a ajuda de dois policiais, aceita se encontrar com John, mesmo com todos os riscos, pois não quer ser a culpada por mais uma morte caso John fique bravo por ser contrariado. Agora Sara começa até a achar que sua personalidade vem do fato de ser filha de um assassino, que mesmo ela sendo uma pessoa decente poderia, em um momento de raiva, machucar ou até matar alguém. Ela começa a perceber esse tipo de comportamento depois que a sua antes pacata e controlada vida começa a se desorganizar e virar um caos e também começa a se cansar de ter que se comportar e fazer o que os outros querem para não irritar ninguém e manter as aparências. Começamos então anos solidarizar com a situação de Sara e a achar que ela é quem está certa, talvez porque no fundo somos mais parecidos com ela do que pensamos.
Será que um assassino e serial killer realmente é uma pessoa totalmente má? Será que sabemos quem realmente é normal ou sabemos o que é ser normal? Sara começa a pensar nessas possibilidades e a tensão entre a relação de pai e filha vai crescendo. O desfecho é inusitado, pois as aparências enganam, não sabemos quem são ou como são as pessoas que nos rodeiam, talvez não saibamos como nós mesmos somos, e as respostas para as questões que surgem talvez seja melhor não saber.
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