Jordana Martins(Jô) 10/11/2015Sob o céu do nuncaO selo juvenil da editora Rocco apresenta mais um romance situado em um futuro distópico. Sob o céu do nunca ou Never Sky, como é tratada a Trilogia, é ambientada em um mundo assolado pela fome e pela destruição causada pelo Éter. O mundo está d divido em dois tipos: aqueles que vivem sob cúpulas, são chamados de núcleos e os que não conseguiram entrar, e vivem como podem do lado de fora e são conhecidos como selvagens, por aqueles que vivem dentro das cidades encapsuladas.
Além de personagens cativantes Sob o céu do nunca nos apresenta a dois mundos totalmente opostos. Um de extrema tecnologia, que pode até prolongar em séculos a vida humana e o outro, completamente arcaico. A história se dá inicio quando Ária, uma Ocupante dos núcleos resolve junto de outros ocupantes explorarem uma cúpula que se encontra com defeito. Nada sai como o planejado e um incêndio acaba ceifando a vida de três dos cinco jovens exploradores. Ária é salva por um selvagem o Peregrine ou Perry, como é comumente chamado.
Por conta disso, Ária leva toda a culpa pelo o que aconteceu e acaba expulsa do núcleo e jogada na Loja da Morte, termo utilizado pelos Ocupantes para o mundo exterior.
“Ela ouvira todas as histórias sobre a Loja da Morte, como todo mundo. Um milhão de maneiras de morrer.”
Ária estava propensa a morrer em questão de horas, mas o destino foi-lhe solicito e pôs em seu caminho Perry, que mesmo contra a sua vontade a ajudou para que pudesse sobreviver. Claro não sem um propósito. Ambos fariam uma aliança bem improvável para conseguirem o que almejam e nisso uma história de amor nada provável também surge assim como muitas perguntas sobre ambas as civilizações.
“- E quanto ao Éter? Ele some em algum momento?
– Nunca Tatu. O Éter nunca some.
Ela olhou para cima.
– Um mundo de nuncas sob o céu do nunca.”
O enredo é muito bem construído, assim como as peculiaridades de cada personagem. Por falar em peculiaridades, algo realmente interessante no livro é sobre os selvagens. O Éter, além de causar devastações e morte por onde suas tempestades passam também é responsável por uma mutação genética que faz com que determinados sentidos sejam extremamente apurados. Perry é tanto Olfativo como Vidente. Ele é capaz de sentir até se você está mentindo, só pelo cheiro que a pessoa exala e sua visão é muito apurada, mas somente à noite, o que faz com que seus olhos reflitam as luzes assim como os olhos dos gatos.
“-Você estava fazendo isso o tempo todo? Sabia como eu estava me sentindo? Eu o diverti? Minha infelicidade o distraiu? Por isso que não disse nada?
Ele passou as mãos nos cabelos.
-Você sabe quantas vezes me chamou de Selvagem? Acha que eu podia dizer que tenho o olfato melhor que de um lobo?”
Além de Perry, temos seu amigo Roar um Audi (Auditivo) e Cinder, um garoto magrela que possui o poder de queimar as pessoas, pois o Éter circula em suas correntes sanguíneas. No mundo dos selvagens o ideal é casar-se com pessoas que possuam o mesmo dom que você, pois do contrario eles acreditam que uma maldição pode cair sobre aqueles que misturam os sentidos. O que torna o romance entre Liv e Roar impossível. Ela é olfativa. O que acaba deixando o amor entre Perry e Ária também impreciso.
Para os humanos que vivem dentro das cúpulas tudo é aparentemente um mar de rosas. Enquanto fora todos tem que batalhar pela sobrevivência tendo que enfrentar alcateias de lobos selvagens, canibais e tempestades de Éter, os Ocupantes meio que vivem entrando por meio de um dispositivo ocular os “olhos mágicos”, que cada um possui. Estes dispositivos, os levam para reinos diversos criados para manter os sentidos dos Ocupantes, mas claro, nada é como viver no real. Tanto que isso acabou afetando o cérebro dos Ocupantes causando uma síndrome intitulada de SDL (Síndrome de Degeneração Límbica) que leva a ruína do discernimento e da cognição. O que faz com que as pessoas tenham um colapso psicótico, fazendo com que a pessoa não consiga tomar decisões em momentos de pressão e perigo.
“O que você acha, filha,que acontece com algo que passa muito tempo sem uso?
-Ele fica inutilizável – disse Ária.
-Ele se degenera. Isso tem consequências catastróficas quando temos de recorrer ao instinto. O prazer e a dor passam a se confundir. O medo pode ser emocionante.”
Mesmo com os aperfeiçoamentos genéticos essa disfunção pode causar um colapso nas pessoas que vivem nos núcleos. Os Ocupantes são criados praticamente em laboratórios e aparentemente não possuem imperfeições. Por isso quando Ária entra em contato com o ser humano em sua forma bruta sem beneficiamento genético ela os acha totalmente Selvagens.
No decorrer uma conspiração é descoberta. Pois a mãe de Ária, Lumina é uma geneticista responsável pelo estudo que pretende curar essa síndrome nos habitantes dos núcleos e para isso, ela usa crianças selvagens para estudá-las e assim encontrar um meio de restaurar essa área do cérebro dos ocupantes, já que o povo Selvagem continua fazendo o uso desta parte do cérebro para manter o seu instinto de sobrevivência.
Não é só um romance, tem outras coisas envolvidas a serem descobertas na Trilogia Never Sky, das quais estou ansiosa para descobrir. Confesso que não esperava muito pelo livro, mas fiquei muito contente quando a realidade excede as expectativas. Um livro de linguagem fácil, com temas bem construídos e com personagens muito cativantes. Não é preciso nem especular que vai ser mais um blockbuster, já que seus direitos já foram vendidos para a Warner. Tradução muito primorosa e capa bem interessante. Agora é esperar pelos próximos volumes.