Bella Nine 17/01/2015Mórbido demaisSam é um programador de software extremamente criativo e talentoso. Ele trabalha em uma empresa que desenvolve um site de relacionamentos. Sim, como aqueles que você vê a propaganda na televisão, algo do tipo E-Harmony. Vendo que o número de usuários tem caído, é pedido aos programadores que desenvolvam novas ferramentas para melhorar o site e seus relacionamentos no ciberespaço. Acontece que Sam é fenomenal naquilo que faz e desenvolve um programa que é capaz de as pessoas encontrarem as suas almas gêmeas. Sim, o software vai além de reles respostas bobas em páginas sociais como Facebook, encontrando outras pessoas que de fato são parecidas com você. Claro que para isso, ao menos o que diz no livro, o programa precisa xeretar e-mails das pessoas, uma certa invasão de privacidade. Mas, tudo bem, a coisa toda é um sucesso, inclusive para seu criador que conhece o amor de sua vida, a publicitária Meredith, que trabalha para o mesmo site.
O software de Sam é tão brilhante que os usuários que passaram a utilizá-lo, assim que passam a viver o relacionamento no mundo real, simplesmente descadastram-se do site, dando muitos prejuízos para o seu criador. Desta forma, Sam é mandado pro olho da rua, junto de sua maravilhosa criação.
Quase que ao mesmo tempo, a avó de Meredith, Livie, falece de maneira inesperada. Tanto a neta, seu primo Dash e seus muitos familiares ficam arrasados com a perda. Todavia, dá a entender que Merde – como o namorado a chama carinhosamente, apesar de significar merda em francês – parece sentir ainda mais a ausência de sua avó e, com o coração dilacerado pela dor da amada, Sam consegue inventar algo ainda mais brilhante do que o software de namoro. Ele junta todas as informações de Livie, no ciberespaço, assim como as inúmeras chamadas de vídeos e e-mails enviados para a neta, e recriou teleconferências para que Meredith conseguisse realizar a transação entre o luto e a continuidade de sua vida habitual.
Acontece, que na minha cabeça a coisa toda fosse parar por aí e o romance em si fosse ocorrer e desenvolver-se de uma vez por todas. Não, isso nunca aconteceu. Meredith conta a Dash sobre o invento de seu namorado e os três fundam a empresa RePose, para aqueles que não conseguem dar adeus àqueles que amam.
De verdade, o enredo todo é uma depressão sem igual. A ideia das pessoas viverem eternamente em luto, vivendo uma realidade totalmente irreal, nesse chat do além, sério, a coisa toda é muito mórbida. As pessoas só falam de morte e se prendem ao software como se fosse mais importante do que seguir em frente. Eu sei, cada um tem o seu próprio tempo para vo0ltar ao normal. Mas o que era para ser uma coisa temporária, simplesmente passou a ser algo primordial.
Tenho apenas que dar o braço a torcer para as reações dos muitos personagens que se vêm perdidos sem a pessoa querida entre os vivos. Cada um reage de uma maneira; um compõe músicas para a mãe, outra grita com o vídeo chat do marido e diz o quanto ele foi um parceiro filho da puta. E as pessoas são realmente desse jeito; alguns choram por meses, até anos, outros simplesmente precisam dizer o quanto a vida delas foi uma droga ao lado dessa pessoa. Seja como for, todos nós temos reações únicas.
Eu não posso classificar ao certo esse livro porque, para ser sincera, ele não funcionou comigo como eu imaginei que funcionaria. Eu fiquei bastante “perturbada” com toda esse enredo mórbido e depressivo. Eu não gosto dessa ideia de estender o luto e das pessoas não conseguirem se desprender dos mortos. Eu acho sim que o luto é peça fundamental para que as pessoas transitem entre a morte e a vida. O que eu não aceito são as pessoas acharem que viver em uma mentira, em uma extensão da vida de um morto é muito mais interessante do que o novo presente.