Quando solicitei o novo livro do autor italiano Alessandro D'Avenia não fazia ideia do que esperar. Já tinha ouvido muitas críticas positivas ao primeiro livro do autor e outros tantos comentários ansiosos pela nova história, mas jamais imaginei gostar tanto de um livro. Não pela história, que é até comum, mas pela escrita única e poética permeada por referências literárias e reflexões. Estou encantada com a capacidade de recriar, reimaginar e enxergar o cotidiano de forma tão única. Sentimentos e palavras de forma nunca vista antes.
Margherita está entrando no primeiro ano do liceu, algo como o começo do ensino médio, porém na Itália o liceu possui quatro anos, portanto um ano antes do daqui. Cheia de medos e temores, afinal um novo colégio, novos amigos, novos professores e novas experiências podem ser assustadoras na sua idade. Ela não se sente segura para enfrentar aquele mundo e tudo piora quando na véspera do começo das aulas seu pai deixa uma mensagem na secretária eletrônica avisando que não voltará para casa. Simplesmente partiu sem se despedir e sem explicações. Margherita se sente traída e abandonada por todos. E o começo das aulas não poderia ser mais incomodo, fora de hora e errado. No contra ponto temos a história do professor, que começa a dar aulas no colégio de Margherita. Apaixonado por livros ele acha mais fácil se entender com as páginas do que com Stella, a namorada que quer casar. Entende o amor nos livros, mas não consegue transpor os próprios medos na realidade e permitir-se amar. Fechando a ponta tem Giulio, três anos mais velho que Margherita e acostumado a solidão. Fechou-se para o mundo quando a mãe morreu, observador e solitário encontra-se fascinado pela dor tão transparente no rosto e nos gestos de Margherita.
Um trio de protagonistas improváveis e um desenrolar simples em belas palavras. Esse é o ponto de partida da história contada por D'Avenia. De uma maneira sensível e desconcertante o autor nos leva a uma imersão completa nos dramas dos personagens de sua história. Toda a narrativa é permeada de sentimentos, por pensamentos sutis e metáforas profundas sobre tudo, sobre as tantas perguntas da vida que são sem respostas. A vida através dos olhos de três pessoas singulares em momentos únicos de suas vidas. A sensação é de estar presenciando o momento que antecede a descoberta. Aliada a belas descrições e um ambiente vívido a trama segue um ritmo linear, subjetivo e cheio de clareza, que entrelaça leitor e personagens numa linha de pensamento e análise. A beleza da dor, do amor, de enxergar o mundo com outro olhar, mais claro e sincero. E essa capacidade do autor de ligar ambos é fascinante.
Os personagens são marcantes e impressionam pela complexidade tímida. Gostei bastante da forma despreocupada com que o autor fala dos assuntos. Uma narrativa tão poética, repleta de referências literárias e ligada de forma tão afetuosa a Odisseia, mas que conquista o leitor. É tocante, chegando a um nível de profundidade pouco visto, mas que fica com o leitor de forma tão simples. O autor consegue captar o momento de forma tão única, algo que poderia ser descrito como o momento em que nos damos conta que certas perguntas só terão respostas se vivermos. Três personagens interligados não pelo caminho, mas pelos erros, medos e acertos do momento à parte em que vivem
Leitura agradável e gratificante, com um final ótimo, uma narrativa inesquecível e reveladora. Fiquei surpresa com Alessandro D'Avenia já nas primeiras páginas. Um autor que merece sua atenção e que recria vidas comuns e cotidianas de forma singular. A edição da (...)
Termine o último parágrafo em: http://www.cultivandoaleitura.com/2013/06/resenha-coisas-que-ninguem-sabe.html