Priscilla 01/02/2024
Tinha muitas expectativas sobre esse livro por já ter ouvido muitos comentários favoráveis a ele. O resultado é que me decepcionou um pouco, pois não me encantou tanto nem se tornou meu livro favorito (nem de longe). Talvez eu não tenha captado muita coisa dele.
O que retiro de mais importante nesse livro é a constatação que a vida não permite ensaios, que tudo o que a gente faz e todas as decisões que tomamos são como a "primeira vez", pois não é possível comparar com outra situação vivida (por não ser igual), assim como não é possível tentar de um jeito e depois voltar atrás pra tentar de outro (pois o momento é único e se esvai e a vida segue em frente). A vida é uma grande aposta, um grande jogo de tentativa e erro, não há garantias, não dá pra saber o que vai acontecer lá na frente após a tomada de decisão, mas precisamos tomá-la e pagar pra ver, pagar o preço pelas nossas escolhas e viver a vida como ela se apresenta.
"Não existe meio de verificar qual é a decisão acertada, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado." (p. 14).
"Mas o homem, por ter apenas uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese por meio de experimentos, por isso não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a seu sentimento" (p. 39).
O livro também me relembrou sobre a sorte de um encontro amoroso, cada encontro é um pequeno milagre, pois decorre de uma série de "acasos", de sorte, de surpresa, do inesperado e de compatibilidade entre as pessoas. "...ele compreendeu subitamente que fora por acaso que Tereza se apaixonara por ele e não por seu amigo Z. Que, fora do seu amor consumado por Tomas, havia no reino das possibilidades um número infinito de amores não consumados por outros homens" (...) "foram necessários seis acasos para levar Tomas até Tereza" (p. 39/40).
Pequeno léxico de frases para refletir:
- "Trair é sair da ordem. Trair é sair da ordem e partir para o desconhecido" (p. 91). - aqui a traição não está necessariamente num sentido amoroso, mas no sentido de trair as expectativas colocadas sobre nós, seja pela família seja pela sociedade. Muitas vezes, essa traição é necessária para que sigamos nosso próprio caminho, para que nos desvinculemos do que não faz mais sentido pra nós e possamos viver uma vida mais livre e mais autêntica.
- "O objetivo que perseguimos é sempre velado. (...) O que dá sentido à nossa conduta sempre é totalmente desconhecido para nós" (p. 122) - não conhecemos o que nos move quando está inserido no nosso inconsciente/subconsciente, daí a importância do autoconhecimento (na medida do possível).
- "Se somos incapazes de amar, talvez seja porque desejamos ser amados, quer dizer, queremos alguma coisa do outro (o amor), em vez de chegar a ele sem reivindicações, desejando apenas sua simples presença" (p. 291).
Após ouvir algumas resenhas, a história me fez refletir sobre a relação peso x leveza, trazido no próprio título do livro que aparece contraditório como a "insustentável leveza" quando partimos do pressuposto de que a leveza é boa, sustentável e desejável, enquanto que o peso não é desejável. Mas o autor, Milan Kundera, traz a reflexão se realmente a leveza é mais desejável que o peso. Nos faz pensar que uma vida leve demais, sem responsabilidades, sem consequências, sem vínculos verdadeiros, sem ter que dar satisfação a alguém, sem precisar abrir mão de algo, sem sofrer por algo importante, é uma vida insustentável. Por outro lado, o peso que pode nos esmagar, nos deixa mais próximos da terra, do chão, da realidade, e confere um certo "peso" de importância à própria vida, dá um sentido, uma direção e um propósito. Uma vida leve demais, sem raízes, sem vínculos, como a que leva Sabina e Tomas (antes de Teresa) é mais desejável que uma vida mais pesada (como a de Teresa, que passou por muitas dificuldades desde jovem)? Talvez não seja necessário escolher um ou outro, mas vivenciar cada momento e fase da vida em que experimentamos mais leveza ou peso.
Me fez refletir sobre o peso de decisões importantes na vida e, depois, a possível leveza (ou peso) em lidar com as consequências; assim como o peso de não poder decidir sobre algo na vida, em contraposição à leveza de poder fluir com o fluxo da vida.
Enfim, traz de volta o ponto principal do livro sobre a relação peso x leveza e o que realmente é mais desejável: uma vida que de tão leve se torna insustentável ou uma vida mais pesada, que nos aproxima da terra e talvez da dor? Ou uma alternância em cada momento, a depender de como lidamos com cada decisão?
"Quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é.
Em compensação, ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semirreal, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes.
O que escolher, então? O peso ou a leveza?".