Fabio 13/08/2023
Na realidade, nada é insustentável, e muito menos leve na obra de Kundera...
Não costumo fazer críticas que desestimulem leituras de obras que por minhas mãos passaram, porém no caso da “ A Insustentável Leveza do Ser”, me sinto na obrigação de tecer alguns comentários sobre minhas impressões (bem pessoais), do que permeia a obra, suas inspirações e a vida do autor.
Outro ponto a salientar é que neste caso (que não é habitual), desejo iniciar a resenha com algumas informações sobre a obra e o autor, para somente depois exprimir opiniões, referente as minhas impressões sobre a leitura.
Milan Kundera, escritor e pensador tcheco, exilado na França, publicou “ A Insustentável Leveza do Ser”, em 1983, tornando-se sua obra mais famosa, após a adaptação para o cinema em 1985.
O livro nos leva a Tchecoslováquia dos anos 60 até meados dos anos 80, e nos conta a história de quatro personagens principais, seus relacionamentos, suas lutas em meio as opressões de um país sob o regime comunista.
Composto de uma narrativa fragmentada, o qual não me agradou tanto, o livro, nos conta a história de Tomas, Tereza, Franz e Sabina, que de alguma forma tem suas vidas entrelaçadas, pelo acaso, e compartilham entre si, histórias de amor, sexo, traição e amizade.
A ideia central do livro se dá na reflexão do autor quanto a dicotomia entre a leveza (positivo) e o peso (negativo) da vida, e explora os preceitos da filosofia de Parmênides, mas, são sobre os pensamentos de Nietzsche, que Kundera baseia praticamente toda a sua obra.
O autor, por diversas vezes interrompe a narrativa, para devanear em pensamentos filosóficos, e leva o leitor a refletir sobre o amor, ciúmes, pátria e política, e que para mim, é o ponto alto do livro, porém, muito mais pela reflexão do que propriamente pelos pensamentos do autor.
“ A Insustentável Leveza do Ser”, é um livro que não me agradou, pelo excesso ideológico, sobretudo na segunda metade do livro, que o autor coloca tudo e todos sob o prisma dos pensamentos extremamente pessimistas, e das elocuções sobre a teoria do Eterno Retorno de Nietzsche, sem ao menos levar em conta as contraposições dos pensamentos do filósofo, e que na minha opinião, acabou distorcendo a própria ideia filosófica original.
O livro é recheado de cenas de sexo, traições, intrigas, e ideologias políticas, que me levaram do riso ao asco, e na maior parte do tempo, me questionei sobre os intuitos levianos de Kundera, ao desdenhar do teísmo e dos pensamentos mais conservadores, ao tecer comparações esdrúxulas, e enaltecer condutas degradantes. Mas, vale ressaltar, que encontrei na obra, muitos pensamentos valorosos, ideias construtivas e desafiadoras, que com certeza, enriquecem o universo literário.
Antes de encerrar, gostaria de dizer que, minhas opiniões não são de maneira alguma para desestimular a leitura, ou menosprezar a obra de Kundera, mas, que meu intuito principal é sempre o estimulo literário, e a valorização da diversidade de pensamentos e debates.
Peço desculpas pelas delongas, e pela prolixidade da resenha, e encerro, recomendando esse livro a todos os amantes da filosofia que desejam enriquecer o repertório no campo de debates filosóficos.
Não poderia terminar sem agradecer minha companheira de LC, pela paciência e pelo empenho nos debates sobre as relevâncias dessa leitura.
E agradecer também, aos amigos que acompanharam e colaboraram com os comentários inteligentíssimos, ajudando a enriquecer ainda mais essa leitura!
Ah,estava me esquecendo...
Esse livro contém Spoiler do final da obra Anna Karenina, de Liev Tolstoi. Então se pretende ler a novela do russo, e não gosta de spoilers, evite a leitura desse livro antes da obra mencionada.
Do mais, recomendo a leitura, com ressalvas.