A insustentável leveza do ser

A insustentável leveza do ser Milan Kundera




Resenhas - A Insustentável Leveza do Ser


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Jonara 15/04/2010

Este é decididamente o livro mais humano e mais profundo que eu já li. Conta a história da vida de 4 personagens, Thomas, Teresa, Sabina e Franz. Kundera é muito delicado e sensivel ao construir cada um deles, e eles são muito verdadeiros em todas as suas atitudes, pensamentos e principalmente sentimentos. É tão raro a gente ler um livro onde conseguimos nos identificar realmente com algo. Onde a descrição das sensações e contradições das nossas atitudes consegue ser tão real. Quantos livros já lemos em que as relações são fantasiosas, idealistas, exageradas, ou simplesmente falsas. Este livro me encantou de uma forma que nenhum outro jamais chegou perto, em se tratando de relações humanas. Me acertou em cheio, justamente por ser tão sincero. O peso e a leveza são bons e são ruins, os instantes em que ocorrem, um ou outro, determinam se são positivos ou negativos. Faz sentido a leveza ser muitas vezes insustentável. Faz sentido as coisas chegarem ao um limite, e o limite das coisas é algo determinante. Sempre pensei nisso, nos limites e bordas das coisas/ cidades/ sentimentos. São as áreas mais delicadas de todo o resto. Quando ele fala das situações em que os polos opostos se aproximam a ponto de unir seus limites, e a questão se torna de uma leveza insustentavel, não sei como explicar mas isso faz um sentido absurdo para mim.

Achei simplesmente fantástico. Não é um livro que recomendo a todos. Acho que é preciso ter vivido um pouco antes de ler ou não vai ser aproveitado como deveria. E também acho que deve ser lido com muita atenção, calma e tempo, para pensar em cada um dos personagens profundamente, para refletir sobre os relacionamentos em geral. Aos que embarcarem na leitura, aproveitem bem!
Graça 27/05/2010minha estante
Que bom que eu embarquei. Que bom que aproveitei. E é por isso que que fico feliz em ler um comentário tão sensível. Parabéns.


Daniel 09/11/2012minha estante
Um grande livro, sem dúvida. Sua resenha me deu vontade de relê-lo


Antonio588 23/03/2019minha estante
Li "A insustentável leveza do ser" aos 25 anos e gostei, a partir da sua resenha vou reler, pois acho que hoje terei outra percepção desta obra. Obrigado por ter me despertado essa vontade.


Douglas 16/09/2020minha estante
Excelente resenha, Jonara


Jimena 06/10/2020minha estante
Acabei de lê-lo e sua resenha não poderia ter sido mais acurada!


Maria 13/10/2020minha estante
Excelente resenha. Definitivamente, eis um livro a ser relido!


gon 02/12/2020minha estante
Terei de ler novamente após essa resenha.


Lana 06/12/2020minha estante
Estou lendo agora e de um terço só falta uma parte pra eu terminar e essa resenha conseguiu me representar perfejtamente


Lari 11/01/2021minha estante
AHHHHHHH terminei esse livro faz três dias e estou em uma ressaca literária cruél. Louca para ter alguém e conversamos sobre. É sem dúvida um dos livros mais sensíveis e mais humano que já li. Kundera é fantástico, poético, realista, visceral. Ele desenvolveu quatro personagens totalmente diferentes, deacreveu o mais íntimo de cada um deles em riqueza de detalhes, dentro de um romance, deixou clara sua visão sobre a vida e acrescentou fatos históricos e movimentos políticos que são presentes e estão em plena ação até os dias de hoje. Estou simplesmente apaixonada pela personagem Tereza, só penso nela desde que terminei o livro, talvez seja um pouco dramático, mas eu sinto como se eu e ela fôssemos fundidas, uma só pessoa.


Juliana 18/09/2021minha estante
Acabei de ler. Gostei muito do livro e de sua resenha.


Ravs 19/12/2021minha estante
Sua resenha é perfeita em cada frase.

Identificar-se com os personagens é algo natural e refletir a cada situação que passam nos faz enxergar a nossa própria vida com aqueles dilemas.


Neiva.Santos 26/07/2022minha estante
Você me convenceu a reler pela terceira vez, a última foi há 20 anos. Obrigada pela sua resenha


Tamires.Sipriano 02/11/2022minha estante
Começando a ler hoje, obrigada pela resenha, me deu ainda mais vontade de começar a leitura.


Adriel 05/07/2023minha estante
Livro excelente. Um dos mais belos e sensíveis que já li. Apenas "o filho de mil homens" se aproxima de dessa beleza e sensibilidade.


Sara 28/10/2023minha estante
Comecei a ler sem tempo e tive que parar. Vou guardar com muito carinho para ler em breve com a calma que ele necessita




Fabio 13/08/2023

Na realidade, nada é insustentável, e muito menos leve na obra de Kundera...
Não costumo fazer críticas que desestimulem leituras de obras que por minhas mãos passaram, porém no caso da “ A Insustentável Leveza do Ser”, me sinto na obrigação de tecer alguns comentários sobre minhas impressões (bem pessoais), do que permeia a obra, suas inspirações e a vida do autor.

Outro ponto a salientar é que neste caso (que não é habitual), desejo iniciar a resenha com algumas informações sobre a obra e o autor, para somente depois exprimir opiniões, referente as minhas impressões sobre a leitura.

Milan Kundera, escritor e pensador tcheco, exilado na França, publicou “ A Insustentável Leveza do Ser”, em 1983, tornando-se sua obra mais famosa, após a adaptação para o cinema em 1985.

O livro nos leva a Tchecoslováquia dos anos 60 até meados dos anos 80, e nos conta a história de quatro personagens principais, seus relacionamentos, suas lutas em meio as opressões de um país sob o regime comunista.

Composto de uma narrativa fragmentada, o qual não me agradou tanto, o livro, nos conta a história de Tomas, Tereza, Franz e Sabina, que de alguma forma tem suas vidas entrelaçadas, pelo acaso, e compartilham entre si, histórias de amor, sexo, traição e amizade.

A ideia central do livro se dá na reflexão do autor quanto a dicotomia entre a leveza (positivo) e o peso (negativo) da vida, e explora os preceitos da filosofia de Parmênides, mas, são sobre os pensamentos de Nietzsche, que Kundera baseia praticamente toda a sua obra.

O autor, por diversas vezes interrompe a narrativa, para devanear em pensamentos filosóficos, e leva o leitor a refletir sobre o amor, ciúmes, pátria e política, e que para mim, é o ponto alto do livro, porém, muito mais pela reflexão do que propriamente pelos pensamentos do autor.

“ A Insustentável Leveza do Ser”, é um livro que não me agradou, pelo excesso ideológico, sobretudo na segunda metade do livro, que o autor coloca tudo e todos sob o prisma dos pensamentos extremamente pessimistas, e das elocuções sobre a teoria do Eterno Retorno de Nietzsche, sem ao menos levar em conta as contraposições dos pensamentos do filósofo, e que na minha opinião, acabou distorcendo a própria ideia filosófica original.

O livro é recheado de cenas de sexo, traições, intrigas, e ideologias políticas, que me levaram do riso ao asco, e na maior parte do tempo, me questionei sobre os intuitos levianos de Kundera, ao desdenhar do teísmo e dos pensamentos mais conservadores, ao tecer comparações esdrúxulas, e enaltecer condutas degradantes. Mas, vale ressaltar, que encontrei na obra, muitos pensamentos valorosos, ideias construtivas e desafiadoras, que com certeza, enriquecem o universo literário.

Antes de encerrar, gostaria de dizer que, minhas opiniões não são de maneira alguma para desestimular a leitura, ou menosprezar a obra de Kundera, mas, que meu intuito principal é sempre o estimulo literário, e a valorização da diversidade de pensamentos e debates.
Peço desculpas pelas delongas, e pela prolixidade da resenha, e encerro, recomendando esse livro a todos os amantes da filosofia que desejam enriquecer o repertório no campo de debates filosóficos.

Não poderia terminar sem agradecer minha companheira de LC, pela paciência e pelo empenho nos debates sobre as relevâncias dessa leitura.

E agradecer também, aos amigos que acompanharam e colaboraram com os comentários inteligentíssimos, ajudando a enriquecer ainda mais essa leitura!

Ah,estava me esquecendo...
Esse livro contém Spoiler do final da obra Anna Karenina, de Liev Tolstoi. Então se pretende ler a novela do russo, e não gosta de spoilers, evite a leitura desse livro antes da obra mencionada.

Do mais, recomendo a leitura, com ressalvas.
Flávia Menezes 13/08/2023minha estante
Se tem um texto perfeito, certamente é esse! Como me encanta ver a sua capacidade de ser direto, franco, mas com esse toque de sabedoria para expor suas ideias e pensamentos sem desmerecer, ou denegrir e nem ser algo altamente pessoal. Seu nível intelectual te faz ler um texto como esse e ainda contextualizar o contexto sócio-histórico da época, com a vida do próprio autor, e ainda esmiuçar a filosofia que embasa essa obra (da qual você tem um conhecimento muito mais profundo que o Kundera!), e chegar a uma visão geral sobre a mensagem final x alguns pontos chaves que precisam ser ressaltados (positivos e negativos). Isso sim é um trabalho de um verdadeiro crítico, e quem dera eles aprendessem mais a ser como você. Assim teríamos mais transmissão de conhecimento do que propagação de discursos de ódio. Parabéns, Fábio! Foi a resenha mais perfeita que eu já li! ??????
Obs.: obrigada pelo presente de ter sido a primeira a ler! Fiquei imensamente lisonjeada!??


Fabio 13/08/2023minha estante
Nossa, eu que fiquei lisonjeado com as palavras...vindo da escritora que você é!!!?
Muitíssimo obrigado pelo carinho, Flávia querida!?
Não mereço tamanho comentário!?


-Rafaela 13/08/2023minha estante
Excelente resenha, Fábio. Parabéns!! ??


Mimi Macedo 13/08/2023minha estante
A gente tem que ser sincero consigo mesmo em primeiro lugar. Bela resenha


Fabio 13/08/2023minha estante
Obrigado, MI!?
Ser sincero é o mais importante!
Fico feliz que gostou!


Fabio 13/08/2023minha estante
Rafa, muitíssimo obrigado, pela presença de sempre!??
Fico Feliz que tenha gostado!?


Carolina165 13/08/2023minha estante
Fábio, adorei sua resenha e tbm acompanhar a LC! ?????
É isso aí, sinceridade sempre, não interessa se é um clássico aclamado por todos. Quero mto ler esse livro, mesmo tendo a impressão que será uma leitura um tanto indigesta ?


Fabio 13/08/2023minha estante
Obrigado, Rô, pela companhia!?
E saiba que muito do que foi escrito aqui tem parte nos comentários sobre a leitura.... Fico feliz que tenha gostado!!!!?


Fabio 13/08/2023minha estante
Obrigado pelo carinho Carolzinha!?
E obrigado também por nos acompanhar nessa nessa LC... Ajudou bastante ao levantar os ânimos quando a leitura não fluía, e os comentários ajudaram e muito na hora confeccionar a resenha!?


Carolina165 13/08/2023minha estante
Ah Fábio, fico super feliz em saber que ajudei a levantar os ânimos ? vcs tbm me animaram mto a ler e sua resenha aumentou ainda mais a minha curiosidade ?. Já estou super animada pra nossa LC que começa amanhã! ??


Fabio 13/08/2023minha estante
Ajudou sim, Carol!?
Também estou ansioso para o início da LC, amanhã!?


Flavia_Lo 13/08/2023minha estante
Suas resenhas sempre são sensacionais, até falando mal dos livros, você fala bem, por que afinal de contas cada um tem sua percepção e gostos


Fabio 13/08/2023minha estante
Muito obrigado, Flávia!?
Agradeço demais por acompanhar as resenhas! ?


Núbia Cortinhas 14/08/2023minha estante
Adorei a resenha, Fábio! ??????


Fabio 14/08/2023minha estante
Obrigado Núbia! ?
Feliz pro ter gostado!


italomalveira 14/08/2023minha estante
Excelente resenha, Fábio. E não se preocupe, ela não desestimula a ler a obra. Muito pelo contrário, será interessante a experiência de ler dando mais atenção a esses assuntos que você ressaltou aqui.


Fabio 14/08/2023minha estante
Obrigado, Ítalo, meu amigo!?
Ainda bem que não desestimulei sua vontade de ler!
Leia, sim e depois me fale o que que achou... É um livro de difícil digestão, mas possui muitos pontos positivos, principalmente, a parte que nos eleva a refletir!


Pedro 14/08/2023minha estante
Resenha magnífica, Fábio. Mais uma. ?


Fabio 14/08/2023minha estante
Muito obrigado Pedro, meia amigo!
Valeu demais!?


Edson 14/08/2023minha estante
Parabéns pela resenha @Fabio ??????


Fabio 14/08/2023minha estante
Obrigado, Edson, meu amigo!
Agradeço demais!?


@Francielly 14/08/2023minha estante
Resenha sensacional, parabéns Fábio! ???


Fabio 14/08/2023minha estante
Obrigado, Francielly!?
Feliz que tenha gostado!


NothingIsHere 14/08/2023minha estante
Resenha maravilhosa, estou com os dois pés atrás para iniciar essa obra, mas encantada com a filosofia que ele apresenta.


Fabio 14/08/2023minha estante
Muito obrigado pelo carinho, Bia!?
Vale a pena dar uma chance ,pelas reflexões que o livro nos trás.


Mary Baratela 14/08/2023minha estante
Arrasou na resenha, como sempre Fabio!!! ??????


Fabio 14/08/2023minha estante
Ahhh, obrigado pelo carinho e pela presença de sempre, Mary! ?
Feliz que tenha gostado da resenha!
Pensa numa leitura que deu trabalho para filtrar e digerir! Kkkkk


Regis 15/08/2023minha estante
Adorei a resenha, Fábio! ???
Ainda não li essa obra, mas pretendo em algum momento. Foi bom entender seu ponto de vista, me deixou curiosa para saber se vou conseguir me envolver na leitura e gostar do livro. ?


Fabio 15/08/2023minha estante
Muito obrigado Regis!?
Fico feliz que tenha gostado da resenha!
O meu intuito em escrever a resenha foi justamente esse....incentivar as discussões e as opiniões de cada um sobre a leitura!
Pelo seu comentário, já valeu muito a pena, Obrigado!?


Aline MSS 15/08/2023minha estante
Vc brilha demais nas resenhas, o pessoal aqui nos comentários super me representa nos elogios. Eu não sabia q esse livro tinha uma carga tão filosófica, lembro q vi um tweet sobre ele e me interessei, mas pela sua resenha já senti q não irei gostar tanto. Obrigada por me poupar, coloquei no final da minha fila mental! ??????


Fabio 15/08/2023minha estante
Ahh obrigado Aline!?
Lisonjeado demais com as suas palavras!?
Aline, vale a pena ler justamente pelo conteúdo filosófico, que nos remete a reflexão dos pesos da vida.
Espero não ter te desanimado demais!?


RayLima 15/08/2023minha estante
Concordo com o comentário do Italo, eu pessoalmente fiquei com mais vontade ainda de ler!


Fabio 15/08/2023minha estante
Obrigado Ray!!!!
Que bom que estou incentivando, com resenha! Kkkkk


Barbar@ 23/10/2023minha estante
Adorei a resenha! Ainda não li, mas depois da sua resenha fiquei curiosa na leitura e me ajuda a ter uma noção do que posso encontrar e a entender algo durante o processo.


Fabio 23/10/2023minha estante
Barbara, fico feliz que tenha gostado da resenha! ? Obrigado!
É um livro fluido, porém, de certo modo, uma leitura densa em certas partes mas, vale muito a pena pelas reflexões filosóficas!
Desejo a você uma ótima leitura!


Amanda 21/01/2024minha estante
Alguém pode por favor me explicar pq Tomas mandou Tereza para o fuzilamento???? Fiquei simplesmente em choque, não consegui entender.




rfalessandra 24/06/2023

Esse livro é totalmente diferente de qualquer coisa que eu já tenha lido.
Leitura densa, por várias vezes tive que voltar porque tinha a sensação de ter perdido alguma coisa.
Tomas é um homem que se adapta aos acontecimentos, mas não se rendeu a humilhação moral da sociedade. Tereza foi seu ponto fraco e mínimo de moralidade, ela tinha o que ele não tinha, e isso o equilibrava.
O livro é incrível e merece uma releitura para poder entender todas as miudezas que o autor proporciona.
comentários(0)comente



Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

A insustentável leveza do ser, Milan Kundera - Nota 9,5/10
Escrever sobre um clássico da literatura como “A insustentável leveza do ser” não é nada fácil! E isso se dá, principalmente, pelo fato de a obra de Kundera ir muito além de uma simples história sobre dois casais, amor e traição. E isso já é facilmente percebido pelo leitor que, logo no início do livro, se depara com diversas reflexões. E é isso mesmo: se valendo do papel de um narrador ativo, Kundera vai preenchendo o enredo com questionamentos filosóficos e reflexões sobre o ser humano e seus relacionamento. E como pano de fundo para essa obra, Kundera apresenta a vida de quatro personagens, Tomas, Tereza, Sabina e Franz, na Praga, ocupada pelos soviéticos, da década de 60. São dois casais que vivenciam conflitos constantes entre sexo e amor e que têm como ponto em comum a busca pelo sucesso em suas relações afetivas. No entanto, o que é esse sucesso? Aí que está a genialidade do autor, que mostra como cada indivíduo, com suas próprias angústias e anseios, possui diferentes formas de enxergar a leveza (e o peso) do ser. E é essa oposição peso e leveza que influencia de forma distinta as escolhas dos personagens e como cada um deles vai reagir aos acontecimentos de sua vida. Também me chamou a atenção a capacidade que o autor tem de entrelaçar os aspectos históricos da República Tcheca com a vida dos personagens, dando uma forte sensação de perda de identidade de um povo.

Um livro profundo e reflexivo, daqueles que fica inteirinho marcado ao final e que ainda vai precisar de novas leituras…Ah, recomendo muita atenção na leitura, já que, apesar de usar uma escrita simples, a narrativa construída por Kundera não é linear, com um intenso vai e volta. Leitura recomendadíssima!

"Quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é.

Em compensação, ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semirreal, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes.
O que escolher, então? O peso ou a leveza?".

site: https://www.instagram.com/book.ster
Fer 20/04/2020minha estante
Adoro as suas resenhas, Pedro! Comecei a ler esse livro depois de ver a indicação no seu insta.


13/01/2021minha estante
Esse livro é maravilhoso!




Alê | @alexandrejjr 23/05/2020

Um livro sobre ideias

Para começar a falar sobre este livro do Kundera vou recorrer a um contemporâneo seu, o escritor espanhol Javier Marías. Marías gosta de publicizar a ideia de que é possível pensar de uma maneira literária, ou seja, assim como existe o pensamento matemático ou o pensamento biológico para entender aquilo que nos cerca, a literatura também possui esse poder. Para mim, "A insustentável leveza do ser" é um exemplo magnífico dessa categoria.

Entendam. Este livro permite, mais do que a maioria dos romances, inúmeras interpretações. Portanto, a minha é esta: Kundera está interessado em provocar o leitor, fazer - e aqui recorro mais uma vez ao Marías - com que você reconheça algo que já sabia ou até mesmo que aprenda algo que desconhecia. O autor está interessado no poder das ideias. Junte tudo isso a cinco personagens - sim, a cadela tem a sua importância -, uma análise histórica sobre a Primavera de Praga, as consequências do totalitarismo comunista, e por último mas não menos importante, um anseio imensurável pela questão da liberdade. Pronto, você tem a fórmula base de "A insustentável leveza do ser".

Ótimo livro com ritmo cadenciado na dose certa. Além disso, é uma recomendação perfeita para quem procura sair da sua zona de conforto, seja ela literária, filosófica ou política.
caroline 16/05/2021minha estante
eu amo tanto esse livro ?


Alê | @alexandrejjr 16/05/2021minha estante
Esse livro é incrível mesmo, Caroline. Vale uma revisita em um futuro incerto.


Cris 28/10/2023minha estante
Quero muito ler




Flávia Menezes 15/08/2023

A INSUSTENTÁVEL VERDADE POR TRÁS DA INDIFERENÇA NAS RELAÇÕES
?A insustentável leveza do ser? é um romance filosófico que entrou para a lista dos 100 melhores livros de todos os tempos segundo a ?Revista Bula? deste ano, conforme a classificação feita pelo site ?The Greatest Books?. Publicado em 1984, e escrito pelo autor e pensador tcheco Milan Kundera, o livro recebeu uma adaptação para filme em 1989.

A história começa falando sobre o ?mito do eterno retorno?, um dos mais intrigantes e misteriosos axiomas propostos na teoria filosófica de Friedrich Nietzsche, de que a vida se repete infinitas vezes, como em um looping. Logo de início, Kundera nos propõe refletir em como nesse eterno retorno existe um grande fardo por trás das escolhas que fazemos. Mas se existe um peso por trás deste fardo, seria mais leve se abster de escolher?

Nesta história somos apresentados a quatro personagens adultos, Tomas, Tereza, Franz e Sabina, dos quais conheceremos todos os detalhes da história de vida de cada um, até entendermos onde, em cada uma dessas vidas, o eterno retorno acontece. E tenho que dizer: Kundera trabalhou brilhantemente nessas histórias familiares. A epigenética certamente está muito orgulhosa dele!

Escolhas... Estando diante de dois caminhos, o que você faz? Você escolhe? Ou fica em cima do muro levando tiro dos dois lados, até que a vida escolha por você? Não sei como você reage em situações como essas, mas nessa história os personagens são confrontados o tempo todo com esse dilema.

Um dos personagens em quem mais fortemente sentimos essa questão da dicotomia, é o Tomas. Parece que em momento algum ele consegue decidir, sem precisar se colocar em dúvida diante de duas opções. E a sensação que fica é que ele nunca tem certeza de nada, e precisa dessa constante dúvida para justificar sua ausência de fazer escolhas, para permanecer confortável em cima do muro. Se é que existe mesmo conforto para quem permanece neste lugar!

De fato, o que me deixou bastante incomodada neste livro, é que a questão das escolhas foi colocada como se um caminho fosse o certo, e o outro o errado. Ou um seria bom, enquanto o outro seria ruim. Mas isso não existe! Porque se um caminho é muito melhor do que o outro, então você concorda comigo que já deixou de ser uma escolha, para se ter uma única opção? Fazer escolhas não é sobre bom ou mau, certo ou errado, mas sim sobre renúncias!

Quando eu escolho um caminho, eu estou automaticamente renunciando a seguir por outro. E por isso mesmo é que devemos refletir com cautela antes de tomar uma decisão, pesando prós e contras, e às vezes até consultando pessoas sábias. Especialmente quando se trata de algo para a vida toda.

Confesso que me senti muito frustrada com a forma como o Kundera tratou o Franz nesta história. Ele foi o único que teve a coragem de escolher, indo até contra todas as convenções sociais, e no final, o Kundera não deu o mínimo crédito a ele por esse feito! Isso foi muito frustrante, e confesso que não gostei nada do desfecho da história dele, porque a verdade era que o Franz nem sequer havia feito uma escolha. Sua decisão veio da única opção que ele tinha de lutar para ser mais feliz e mais amado. E o que há de errado nisso? Mas o Kundera tirou a beleza daquele que se posiciona diante da vida, o fazendo voltar para um lugar de sofrimento. E eu me pergunto: para que?

Já o Tomas é um personagem que me lembrou muito o protagonista de ?Lolita? do Nabokov, o Humbert Humbert, porque ele nos causa tanta repulsa e raiva, que parece até se tratar de uma pessoa real. Se bem que essa facilidade com as quais as nossas emoções são despertadas, é exatamente pela quantidade de realismo que é colocado nesses personagens.

E foi muito desconfortável acompanhar a forma como ele falava das suas conquistas sexuais para a Tereza, fazendo com que ela se sentisse como se fosse apenas mais uma na vida dele. Amá-lo e estar ao lado dele não fazia dela alguém importante. Era como se os esforços dela não servissem para nada, e o ciúmes por vê-lo oferecer às outras o mesmo que oferecia a ela... era revoltante de ver. E até peço desculpas aqui se o meu comentário pode ser muito pesado, mas eu penso que ninguém no mundo deveria ser (mal)tratado assim, ou achar isso algo normal.

Algumas vezes, quando o Tomas começava a falar com carinho da Tereza, parecia que enfim ele iria perceber o laço forte entre eles, mas logo em seguida ele já se ressentia, como se ela fosse fazer algo contra ele, e por isso mesmo não merecesse seu amor.

De fato, esse é o ponto. Sabe aquele ditado que diz: a melhor defesa é o ataque? Então! Quem não ama por achar que ninguém merece seu amor, porque nunca dará o devido valor, no fundo só tem medo mesmo é de ser magoado. Mas amor tem mesmo a ver com mágoa? Ou é o medo de nos magoarmos que nos faz magoar alguém que amamos (e que também nos ama)?

Mas apesar de tudo, eu preciso dizer que o final do Tomas não poderia ter sido melhor. Pelo visto, ele era o preferido do Kundera, porque a maneira como o autor trabalhou na sua história, trouxe até um pouquinho de redenção para ele. E esse foi um momento realmente muito bonito.

Já as personagens femininas, eu confesso que senti muita superficialidade, e um certo excesso de passividade e fraqueza nelas. Algumas coisas foram até bem desenvolvidas, mas já outras eu achei que deixou a desejar.

Uma outra coisa que me incomodou, foi aquele excesso de sonhos por parte da Tereza (e alguns até bem mal interpretados. Freud e Jung certamente se reviraram nessas partes!), me fez pensar que ela só estava ali para o Tomas. Ela só estava vinculada a ele, e não tinha uma ?vida própria?. Não era um personagem por si só.

Já a Sabina, essa pelo menos ainda teve um bom desfecho, porque ela é aquele tipo de pessoa que ficou tanto tempo em cima do muro, que a vida passou, e quando ela desceu, acabou não tendo mais que fazer escolha alguma!

Aliás... aí está o meu ponto de maior incômodo nessa história toda: esses personagens estavam tão preocupados em escolher, e faziam disso algo tão pesado, quando a maior tragédia da vida é não poder fazer escolhas.

E nessa passividade que é um fardo muito maior do que o de fazer escolhas, o desejo que fica é de poder voltar a sentir esse peso, porque de fato ele significa que um mundo de novas possibilidades está se abrindo. E então escolher! E poder enfim voltar a se sentir leve de novo!
Fabio 15/08/2023minha estante
Resenha absolutamente, espetacular!??
Na minha opinião, você transmitiu tudo e um pouco mais sobre a essência dos pensamentos e reflexões da obra do Kundera.
Vontade de reler alguna trechos do livro ,ao para poder degustar as suas observações!
Flávia, querida, parabéns, por está que para mim é a sua melhor resenha!!!
Sou seu fã!?


Flávia Menezes 15/08/2023minha estante
Você é que é absolutamente espetacular! Por sempre me trazer tanto incentivo! Porque sua resenha desse livro é mais do que espetacular. Foi simplesmente perfeita! Seu nível de análise e a forma como você expõe sua visão da obra, é digna de um verdadeiro crítico! Então?se vem aqui me dizer isso..eu te agradeço! Porque que bom que posso fazer algum acréscimo em tudo o que você já viu e disse sobre o livro. E como esses olhos apurados que você tem, eu fico imensamente lisonjeada!
Eu que sou sua fã, lindo! Ontem, hoje e para todo o sempre! ???

Obs.: não deixem de ler a resenha do Fábio!!! Se alguém quiser ler sobre uma opinião perfeita, apontando pontos fortes e fracos sobre esse livro, vai encontrar na resenha dele!?


Fabio 16/08/2023minha estante
Nossa, Flávia, obrigado pela homenagem, você é incrível!???
Mas, eu não mereço mesmo, e você sabe o quão maravilhosa sua resenha ficou.
Sua dissertação tocou todos os pontos que os futuros leitores deveriam saber antes de entrar na obra.
Amo, seu estilo de escrita e já te disse, que daqui a pouco no lugar de resenhas, vai sair um calhamaço Bestseller... E se depender de mim... Serei o primeiro na fila para pegar o autógrafo!!!!
Seu fã! ?


Flávia Menezes 16/08/2023minha estante
Fábio, se está boa, então é porque estou aprendendo a fazer e devo isso a você. Sabe bem que essa foi editada e que você já me mostrou muitos pontos de melhoria na minha escrita, porque você tem formação pra isso, tem conhecimento técnico e isso faz toda a diferença. Nunca conheci alguém com a sua visão, e isso é fascinante pra mim.
Não precisa me agradecer mesmo, lindo! Você é um grande professor na escrita, e eu sou grata por toda a ajuda que você já me deu.
Eu que sou sua fã. E nunca me cansarei de dizer isso! ??


Fabio 16/08/2023minha estante
Eu sou fã da sua escrita!! ?
Quem sou eu pra ensinar alguém como você?
Agora, falando sobre suas resenhas.... são todas técnicas , dignas de trabalhos científicos, e estudos aprofundados de livros.
Isso que é escrita , o resto é resto!?


Flávia Menezes 16/08/2023minha estante
Fiquei até sem jeito agora ????


Vênus_Alice 16/08/2023minha estante
que resenha? estou ainda mais curiosa para ler


Flávia Menezes 16/08/2023minha estante
Alice!! Muito obrigada!! ? E eu vou acompanhar tudo pra ver quais serão as suas impressões! ??


Cassia_kk 27/12/2023minha estante
Nossa, amei muito... Sua resenha foi o complemento que faltava na minha leitura! Obrigada por isso ?? sempre impecável, tbm estarei na fila do seu livro com as melhores resenhas ;) parabéns


Flávia Menezes 27/12/2023minha estante
Cassia querida, muito obrigada! De coração? me deixou sem palavras. ???


Priscilla 05/02/2024minha estante
Muito obrigada pela resenha, não concordo com tudo o que escreveu, mas essa parte final da sua análise realmente me tocou bastante e quero levar pra vida:

"Aliás... aí está o meu ponto de maior incômodo nessa história toda: esses personagens estavam tão preocupados em escolher, e faziam disso algo tão pesado, quando a maior tragédia da vida é não poder fazer escolhas.
E nessa passividade que é um fardo muito maior do que o de fazer escolhas, o desejo que fica é de poder voltar a sentir esse peso, porque de fato ele significa que um mundo de novas possibilidades está se abrindo. E então escolher! E poder enfim voltar a se sentir leve de novo!"

Me fez refletir sobre o peso de decisões importantes na vida e, depois, a possível leveza (ou peso) em lidar com as consequências; assim como o peso de não poder decidir sobre algo na vida, em contraposição à leveza de poder fluir com o fluxo da vida.

Enfim, traz de volta o ponto principal do livro sobre a relação peso x leveza e o que realmente é mais desejável: uma vida que de tão leve se torna insustentável ou uma vida mais pesada, que nos aproxima da terra e talvez da dor?

Do livro:

"Quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é.
Em compensação, ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semirreal, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes.
O que escolher, então? O peso ou a leveza?".




Vênus_Alice 01/11/2023

A insustentável leveza do ser
É um romance filosófico que propõe a nos incomodar com cotidianidades, nada leve e muitas vezes, com o ar insustentável (que se apresenta a vida).

"O homem corta o fio que o ligava ao Paraíso, e nada mais pode detê-lo nem reconfortá-lo em seu voo através do vazio do tempo."

São histórias que se amarram e desamarram ao longo das partes, trazendo as vivências árduas e leve, com inúmeros ensinamentos filosóficos e inquietações.
O romance em si, apresenta momentos monótonos e desinteressantes, mas acredito que seja propositalmente. Pois o livro se propõe a tratar o cotidiano, sendo leve ou árduo. É muito difícil um leitor passar por este livro e não mudar a forma de ver a vida.

"Somos incapazes de amar porque quando chegamos ao outro exigimos que eles nos amem, ao invés do só contemplar a sua presença."

O amor, a liberdade, a traição, a fidelidade e relações, são os temas bem presentes, que me fizeram perder o fôlego em como algo tão rotineiro pode ser visto de forma diferente. É como se o livro tivesse me feito desacelerar e perceber o meu redor e o meu interno, como se fosse novo. Sair do automático é necessário e pode ser bem doloroso.

"O tempo humano não gira em círculos, mas avança em linha reta, é por isso que o homem não pode ser feliz, pois a felicidade é o desejo de repetição."
Fabio 01/11/2023minha estante
Adorei a resenha, Alice!
Belíssima escrita!??


Vênus_Alice 02/11/2023minha estante
Obrigada, fico muito feliz com a sua observação, sempre presente ?




Fabio Shiva 31/07/2022

O insuperável deleite de ler uma obra-prima da Literatura
Existem livros excelentes que se destacam em seu gênero ou categoria. Por exemplo, “O Assassinato de Roger Ackroyd”, de Agatha Christie, é um maravilhoso romance policial, enquanto “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Arthur C. Clarke, é uma sensacional obra de ficção científica. Há outros livros, no entanto, que são incomparáveis: são únicos e nos remetem a um mundo todo próprio. É nessa categoria muito especial que enquadro livros como “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez, “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, “O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, “Laranja Mecânica” de Anthony Burgess e, agora, “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera: na seleta categoria das obras-primas da Literatura mundial.

A maior frustração de fazer a resenha de um livro desses é saber de antemão que vamos ter que deixar de fora a maior parte das coisas que nos encantaram durante a leitura. A medida de uma obra-prima é perceber que teríamos que escrever um livro do mesmo tamanho (no mínimo) para descrever tudo o que aprendemos ao lê-la. Sabendo desde já que pretendo ler novamente esse livro (e portanto, fazer outra resenha), fico um pouco mais tranquilo ao tecer esses comentários que, inevitavelmente, pecarão por omissão.

Mas o que faz de “A Insustentável Leveza do Ser” uma obra assim tão genial? Eu diria que, antes de mais nada, a imensa dificuldade que qualquer um deve sentir ao tentar resumir esse livro em poucas palavras. Kundera começa tecendo intrincadas reflexões sobre a ideia do “eterno retorno”, presente na filosofia de Nietzsche, enquanto vai nos apresentando a Tomas e Tereza, os protagonistas do que poderia muito bem ser considerada uma “história de amor”. Pois bem. Logo nas primeiras páginas o autor denuncia o caráter de invenção de seus personagens, conforme ele vai explicar bem depois:

“(…) os personagens não nascem de um corpo materno, como os seres vivos, mas de uma situação, uma frase, uma metáfora que contém em embrião uma possibilidade humana fundamental que o autor imagina não ter sido ainda descoberta, ou sobre a qual nada ainda foi dito de essencial.”

“O romance não é uma confissão do autor, mas uma exploração do que é a vida humana, na armadilha em que se transformou o mundo.”

Ao contrário do que seria de se esperar, essa denúncia de que Tomas e Tereza são personagens inventados, que atendem a um propósito específico de desenvolver determinadas ideias, não os torna menos reais na mente do leitor. Muito pelo contrário: Kundera consegue a proeza de transformar o leitor em parceiro de sua estratégia ao lhe conferir essa inusitada dádiva de espiar as maquinações internas do autor no próprio ato de criar seus personagens. Ao devassar o caráter ficcional de Tomas e Teresa, Kundera torna-os muito mais reais na mente do leitor.

E que temas são esses, que o nosso simpático casal deve explorar enquanto se engaja em uma autêntica “história de amor”? Uma das ideias principais que movem Tomas é “(…) o provérbio alemão: einmal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca.”

Essa ideia, que parece central na obra de Kundera, aparece com destaque em pelo menos outra obra sua (a única que li até agora): o igualmente genial “Risíveis Amores” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2020/12/risiveis-amores-milan-kundera.html), publicado mais de dez anos antes de “A Insustentável Leveza do Ser”, o que demonstra a permanência desse tema na mente do autor:

“Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado.”

“Em trabalhos práticos de física, qualquer aluno pode fazer experimentos para verificar a exatidão de uma hipótese científica. Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento.”

Mas e quanto a Tereza? Algumas passagens do livro nos dão conta da complexidade e da força dos temas representados por ela:

“Se a maternidade é o próprio Sacrifício, o destino de uma filha é a Culpa que jamais poderá ser resgatada.”

“O livro distinguia Tereza das outras moças, mas a transformava numa pessoa fora de moda. É claro que ela era ainda muito jovem para poder captar o que havia de ultrapassado em sua pessoa. Achava idiotas os adolescentes que passavam por ela com rádios barulhentos. Não percebia que eram modernos.”

E aqui tomo consciência do quanto estou simplificando algo que é bem mais vasto e complexo. Pois essa ideia do livro como algo fora de moda em um mundo progressivamente barulhento vai encontrar sua expressão mais bem delineada em Sabina, personagem que poderia ser entendida (de modo resumido e simplificado) como o terceiro vértice do triângulo amoroso formado com Tomas e Tereza:

“(…) a transformação da música em barulho é um processo planetário que faz a humanidade entrar na fase histórica da feiúra total.”

“Desde então, ela sabe que a beleza é um mundo traído. Só é possível encontrá-la quando seus perseguidores a esquecem por engano em algum lugar.”

E até aqui não falei nem um décimo do que gostaria de dizer a respeito desse livro, que é também uma obra excepcional sobre o amor e suas contradições:

“Entre todos os amantes estabelecem-se rapidamente certas regras de jogo, das quais eles não têm consciência, mas que têm força de lei, e que não devem ser transgredidas.”

“Existem coisas que só podem ser conseguidas com violência. O amor físico é impensável sem violência.”

“(…) os amores são como os impérios: desaparecendo a ideia sobre a qual foram construídos, morrem junto com ela.”

“Os caçadores de mulheres podem facilmente ser divididos em duas categorias. Uns procuram em todas elas sua própria ideia da mulher, como lhes aparece em sonho, subjetiva e sempre a mesma. Outros são levados pelo desejo de tomar posse da infinita diversidade do mundo feminino objetivo.”

Outro tema fundamental nesse livro é o conceito de “kitsch”, que ganha em Kundera uma definição bem original:

“A objeção à merda é de ordem metafísica. Defecar é dar uma prova cotidiana do caráter inaceitável da Criação. Das duas uma: ou a merda é aceitável (e, nesse caso, não precisamos nos trancar no banheiro), ou Deus nos criou de maneira inadmissível.
Segue-se que o acordo categórico com o ser tem por ideal um mundo no qual a merda é negada e no qual cada um de nós se comporta como se ela não existisse. Esse ideal estético se chama kitsch.”

Anotei muitas outras citações que não vou utilizar nessa resenha, só para poder encerrar com essas, que falam de forma espetacular de um assunto muito caro ao meu coração, mas que só aparece no livro de forma secundária. Até as irrelevâncias de Kundera são geniais:

“Nada nos garante que Deus desejasse realmente que o homem reinasse sobre as outras criaturas. É mais provável que o homem tenha inventado Deus para santificar o poder que usurpou da vaca e do cavalo. O direito de matar um veado ou uma vaca é a única coisa sobre a qual a humanidade inteira manifesta acordo unânime, mesmo durante as guerras mais sangrentas.
Esse direito nos parece natural porque somos nós que estamos no alto da hierarquia. Mas bastaria que um terceiro entrasse no jogo, por exemplo, um visitante de outro planeta a quem Deus tivesse dito: ‘Tu reinarás sobre as criaturas de todas as outras estrelas’, para que toda a evidência do Gênese fosse posta em dúvida. O homem atrelado à carroça de um marciano – eventualmente grelhado no espeto por um habitante da Via-láctea – talvez se lembrasse da costeleta de vitela que tinha o hábito de cortar em seu prato. Pediria então (tarde demais) desculpas à vaca.”

“O verdadeiro teste moral da humanidade (o mais radical, num nível tão profundo que escapa a nosso olhar) são as relações com aqueles que estão à nossa mercê: os animais.”

Gratidão à minha amada irmã poeta Neuza de Brito Carneiro, que ao saber que eu ainda não havia lido esse livro tratou logo de me presentear com um exemplar. Feliz de quem tem amigos assim!

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2022/07/o-insuperavel-deleite-de-ler-uma-obra.html



site: https://www.instagram.com/prosaepoesiadefabioshiva/
DANILÃO1505 31/07/2022minha estante
Parabéns, ótimo livro

Livro de Artista

Resenha de Artista!


Fabio Shiva 01/08/2022minha estante
Valeu, amigo!


Paulo Sousa 09/01/2023minha estante
Amigo, que resenha! Li este livro excepcional em 2009, e dele saí tocado profundamente. Essa sua forma de narrar as suas impressões indiscutivelmente fazem eu ter novamente o desejo de reler esta obra singular de Kundera. Outros que citou nas suas linhas, que tb li, figuram nessa preciosa lista de livros essenciais, como o Cem anos?, o Mundo de Sofia, entre outros do mesmo quilate, que li em tempos em que a vida corria devagar e era possível absorver pacientemente e com mais eficácia a beleza desses romances, sem o empecilho do smartphone e da internet. Bons tempos. Se lia, se guardavam passagens marcantes, se sentia de fato o sabor de cada palavra. Obrigado por me legar essa saudade boa?




Otávio - @vendavaldelivros 08/02/2021

“Já disse que as metáforas são perigosas. O amor começa por uma metáfora. Ou melhor: o amor começa no instante em que uma mulher se inscreve com uma palavra em nossa memória poética.”

A vida é uma eterna impossibilidade de voltar a ser. Nada que fizemos uma vez poderá ser feito novamente da mesma forma, no mesmo onde e quando. Viver é uma experimentação eterna e uma busca constante por resultados favoráveis que nos levem à felicidade. Um caminho em linhas, que mesmo tortuosas, sempre seguem na direção inexorável do fim. Não se sai da leitura de “A Insustentável leveza do ser” da mesma forma que se entra e isso é uma prova de que a vida segue seu fluxo ininterruptamente.

Escrito pelo tcheco Milan Kundera e lançado em 1982, “A insustentável leveza do ser” passa pela história de quatro personagens principais: Tomas, Teresa, Sabina e Franz. É através de suas percepções sobre a política, o sexo e principalmente a vida, que mergulhamos na história que não segue uma linearidade de enredo e muito menos uma linha do tempo contínua. Talvez tenha sido esse o objetivo de Kundera: Ofuscar e abdicar de uma linearidade em prol de uma intensidade de experiências pelas quais suas personagens passariam.

O amor aqui é mostrado como de fato pode ser: Plural, particular e único. Cada personagem enxerga o amor pelo seu prisma e faz dele a sua verdade. A Primavera de Praga revela uma história que acaba sendo soterrada nos estudos sobre a Guerra Fria. A forma de repressão da União Soviética, a dominação dos tchecos e a expulsão de intelectuais do país, retratados pelos olhos principalmente de Sabina e Tomas, é latente na obra.

O erotismo, tão julgado por alguns como exagerado, a mim pareceu muito bem dosado. Afinal, tal qual o amor, nossa sexualidade é vivida de forma particular. O sexo é parte fundamental da vida humana e a forma como lidamos com ele diz muito sobre nossa forma de viver a vida. Por fim, o desenrolar da história de Karenin, que me levou às lágrimas por lembrar de uma experiência tão parecida e dolorosa.

Filosófico do início ao fim, a insustentável leveza do ser estimula diversos tipos de questionamentos sobre a nossa própria vida e como encaramos a humanidade. Desperta perguntas, mas deixa claro que nós, na busca do equilíbrio entre o pesado e o leve, é que precisamos encontrar as respostas.


site: https://www.instagram.com/p/CLC7IdOjP-S/
Uil Melo 08/02/2021minha estante
Que resenha maravilhosa!


Flah 10/02/2021minha estante
Que resenha perfeita ??


Otávio - @vendavaldelivros 10/02/2021minha estante
Obrigado, meninas! :)




Lais544 11/08/2020

Este livro acaba levando em diversas
direções, por isso, a
história de cada um dos personagens
é uma espécie de emblema que evolui das
diversas configurações possíveis: necessidade e
contingência, fidelidade e traição, realidade e sonho,
corpo e alma, peso e leveza, uno e múltiplo, força e fraqueza.
Sávio 12/08/2020minha estante
Laís, li esse livro em 2019 e tive percepção muito semelhante a sua...


Pan 14/08/2020minha estante
Esse livro me fez entender melhor os humanos


Sávio 15/08/2020minha estante
Sim...sim...e o quão complexo somos!!




Thaís | @analiseliteraria 10/07/2020

Sobre pesos insustentáveis...
Publicado em 1984, o título do livro não poderia ser mais apropriado. Finalizei a leitura com um nó na garganta, sentindo um peso insustentável que me fez prender a respiração. Filosófico, difícil, veraz. Não é um livro para ler a qualquer momento da vida, correndo o risco de ser incompreendido. É uma sequência de acasos e escolhas que torna a história tão íntima e possível. Não existe como verificar as possibilidades, a vida não permite ensaio, somos condenados a escolher e nossas escolhas e não-escolhas vão se repetir e repetir, tornando-se um peso insustentável. ⁣
Quatro protagonistas, Tomas, Tereza, Sabina e Franz; amor, erotismo e várias traições. Praga está tomada pelo totalitarismo soviético da década de 60 - contextos reais como a Primavera de Praga. Kundera vai questionar a dualidade citando o filósofo Parmênides, que dizia que o leve é positivo e o pesado é negativo. "Teria ou não razão? A questão é essa. Só uma coisa é certa. A contradição pesado/leve é a mais misteriosa e a mais ambígua de todas as contradições". O autor tcheco também se utiliza do Eterno Retorno de Nietzsche na narrativa, não só como teoria que se apresenta nos acontecimentos da história - que tendem a se repetirem-, mas na própria forma como o livro é escrito; não linear, voltando ao passado para repeti-lo.⁣
Tereza, quando se oferece para trazer ao marido suas amantes, me fez querer levá-la para a terapia. A que ponto desce uma mulher emocionalmente dependente. A submissão beira o absurdo. O Franz praticamente se anula por paixão. Tomas e Sabina me interessaram mais, mas a leveza de suas liberdades, uma hora pesou. O destaque vai para Kariênin, a cadelinha que me fez refletir sobre o amor desinteressado. ⁣
Não acho que personagem algum tenha optado pelo peso ou pela leveza, mas que isso se alterne em suas vidas. Não entendo que as coisas sejam dicotômicas. Pode haver algum conforto no peso, que traga leveza. Pode haver um fardo na leveza, que logo pesa. Acho que se trata disso o livro, não sobre os personagens em si, mas sobre relações e escolhas, com seus pesos insustentáveis.

site: @analiseliteraria
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Michela Wakami 25/07/2023

Muito bom
Que difícil falar nesse livro, ele abrange tantas coisas, com tanta intensidade, e ao mesmo tempo com tanta leveza, que ao final da leitura, fiquei me perguntando: o que foi isso?

A insustentável leveza do ser é um livro fundamentalmente sobre relacionamentos humanos.

O autor, não poupa críticas ao regime soviético e ao comunismo.
Rogéria Martins 26/07/2023minha estante
Adorei a resenha, amiga! Você consegue transmitir bem o sentimento que teve com a leitura ??


Michela Wakami 26/07/2023minha estante
Obrigada, amiga.???


Jordana Borges 03/08/2023minha estante
Aí que bom que gostou! É um dos meus favoritos? Sempre gosto de voltar e reler as marcações que fiz! Lindíssimo ?


Michela Wakami 03/08/2023minha estante
Oi, Jordana. Que maravilha! Eu também gostei muito e assim como você fiz várias marcações.
???????




Amanda 12/01/2021

Complexo
Certamente eu preciso de uma releitura para poder opinar melhor sobre o livro. Mas, já recomendo para os que gostam de filosofia, é um ótimo romance filosófico; e as partes políticas - que acabam muitas vezes refletindo nas decisões dos personagens- são bem ricas. Já adianto que é um livro que requer muita atenção na leitura (algumas vezes fiquei confusa/perdida).
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Rodrigo 25/07/2020

E o título de livro difícil de 2020 vai para...
Eis aqui um livro que me incomodou ao longo de um mês inteiro... eu sou do tipo de leitor lento, que busca me certificar que cada frase escrita foi compreendida, e qual era o intuito do autor ao escrevê-la. Nesse sentido, A insustentável leveza do ser foi pra mim um desafio grande, vencido às duras penas de 10p por dia, não mais que isso. Mas, por se tratar de um livro cult, tão querido por leitores mais experientes que eu, fiz um pacto com ele de manter o ritmo nessa maratona literária até o fim, e esse dia chegou.

O livro conta a história de dois casais, que formam opostos entre si. O primeiro, Tomas e Tereza. Ele um médico quase quarentão bem sucedido em Praga, que, após o fim de um casamento sufocante, resolve adotar o estilo de vida descompromissado dos solteirões que trocam de namorada a toda hora. Tereza, uma moça mais nova e vinda do interior, e extramente frágil emocionalmente. No início do relacionamento, ele é a sua razão de viver, enquanto que Tomas se vê incapaz de se livrar dos seus relacionamentos extra-conjugais, mesmo morando com Tereza, o que obviamente, a faz sofrer.
O segundo casal, Franz e Sabina. Ele, preso a um casamento falido, mas sem coragem de abrir mão da segurança afetiva cultivada por anos, se apaixona por sua amante, que é uma jovem artista plástica de alma libertária. Para Franz, Sabina é a sua felicidade, aquilo que lhe dá sentido à vida, enquanto para ela, a possibilidade de transgredir uma regra social universal (não se relacionar com pessoas casadas), é o que lhe prende nesse relacionamento natimorto.

Ao fundo, há uma ficção histórica interessantíssima, que narra a opressão da União Soviética ao povo Tcheco, durante a imposição do regime comunista, com todos os tentáculos dessa ideologia doentia, e que aos poucos vai afetando a vida da sociedade, e também a dos dois casais.

A obra tem como ideia central fustigar o leitor com o seguinte questionamento: o que vale mais a pena na vida: ter uma vida leve e insignificante ou uma vida de cheia de fardos e reconhecimento? Isso fica explícito a cada mudança de rumo, até a última página.

Por fim, o excesso de passagens filosóficas acabou por me deixar extenuado, mesmo tendo havido alguma empatia com o protagonista do livro (Tomas), e, apesar de ter nascido em mim um sentimento bom de admiração pela obra, acho ( e espero) que não sentirei saudades.
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