Sarah 21/03/2014No EscuroNo Escuro tem uma estrutura diferente e inédita para mim: a alternância de tempo concomitante da personagem.
O livro começa com um trecho do julgamento de Lee, sem ainda sabermos exatamente do que se trata. Na sequência, uma morte é rapidamente narrada. E então, somos apresentados à personagem principal e narradora da história.
Catherine é uma mulher livre e dona do seu nariz. Vive a vida com naturalidade e despreocupação, saindo com suas amigas, bebendo, trabalhando, curtindo. Não se prende a nenhum namorado, veste-se como quer, é feliz. Catherine vive.
Cathy é triste, receosa, fechada em si mesma. Vive sozinha em seu apartamento e, seguindo as regras de seu TOC, de lá só sai para fazer compras em dias pares. Conta os passos até o ponto de ônibus, olha da rua se as cortinas permanecem simetricamente arrumadas como ela deixou, verifica seis vezes (sempre seis) se as portas e trancas estão fechadas. Cathy sobrevive.
Catherine e Cathy são a mesma pessoa, separadas por um trauma: a vida antes e depois de Lee. E essa separação, essa divergência de personalidade entre as duas que as faz parecer serem pessoas distintas (e que, no fim, não deixam de ser) é trabalhada de uma forma como eu nunca tinha visto. Não há capítulos muito longos, nem "parte 1" ou "parte 2", para enfatizar o espaço temporal. Não. Cathy e Catherine contam a história alternadamente em capítulos curtos, um após o outro, às vezes até na mesma página.
Essa estrutura confere um ritmo ao livro que combina perfeitamente com a angústia que a personagem sente. Ao mesmo tempo em que vemos Catherine se transformar em Cathy por tudo que vem a passar, vemos Cathy tentando se livrar do TOC, fazendo terapia, conhecendo pessoas novas.
O grande responsável por essa mudança na vida de Catherine é Lee. Atraente, sensual, misterioso, Lee logo conquista Catherine e todos os seus amigos. Mas o que parecia ser um sonho logo vira realidade, com Lee mostrando seu poder manipulador e controlador. Catherine, então livre e dona de si mesma vai, aos poucos, perdendo as rédeas de sua vida.
O sentimento que mais define esse livro, para mim, foi angústia. Angústia por sabermos que Catherine sofrerá algo tão aterrador que a fez se transformar, se fechar. Angústia por sabermos o tamanho do sofrimento que ela passou, mas por não sabermos se conseguirá vencê-lo. Angústia por saber que Lee é não é o que parece, mas por não sabermos de imediato do que ele foi capaz, ou se irá voltar.
Enfim, um thriller psicológico muito bem construído, tanto na história como na escrita. Incrível como a autora conseguiu distinguir tão bem um tempo do outro, a personalidade de Catherine e a personalidade de Cathy, de forma gradual e simultânea. Este se tornou um dos melhores livros de suspense que li. Recomendadíssimo.
site:
http://maedobento.blogspot.com.br/2014/03/projeto-leitura-no-escuro.html