Breno - IG @15paginas 07/03/2020
Desconcertante
Em nome da suposta moral e bons costumes, homens cegos pelo arbítrio e ignorância censuram incontáveis obras e privam a humanidade de conhecimento e arte. Nos anos 1930, foi a vez de Henry Miller ?? sentir a mão do carrasco com seu primeiro livro.
Escrito em linguagem visceral, sem qualquer pudor com palavras e temas, H.M chocou ao descrever as suas próprias aventuras uma Paris das sarjetas, prostíbulos e marginalizados. O autor tampouco poupou os leitores de cenas de sexo explícito, odores e doenças que, aos olhos dos censores, não deveriam ter espaço na Literatura. O livro só foi publicado na terra natal do autor em 1961, o que só contribuiu para aumentar o fascínio por trás da história.
Como bem disse George Orwell, não compartilho com os valores de H.M. A forma como o autor descreve especialmente as mulheres causa ojeriza em determinados trechos, por exemplo. Contudo, importa frisar que a crítica social voraz, e até poética, em meio à uma sociedade febril é, no final das contas, o que torna essa leitura um clássico. Poucos são aqueles que detectam mundo ruma ao horror e trevas, e todos nós sabemos o que aconteceu algum tempo após a sua publicação.
?Por algum motivo, o homem busca o milagre e para consegui-lo caminha em meio ao sangue. Ele vai se corromper com ideias, vai se restringir a uma sombra se, apenas um segundo na vida, puder fechar os olhos para o hediondo da realidade?. (Página 97)