Camila Faria 07/05/2018Existe toda uma aura mística em torno do nome de Henry Miller, especialmente por ele ter tido os seus dois livros mais conhecidos – Trópico de Câncer e Trópico de Capricórnio, de 1934 e 1939, respectivamente – banidos no seu país de origem por décadas (aqui no Brasil eles só foram liberados na década de 70). Subversiva, pornográfica e maldita são algumas das palavras que você vai esbarrar repetidamente quando pesquisar sobre a sua obra.
Foi exatamente isso que eu fiz antes de começar a ler esses dois livros, já que conhecia bem pouco a respeito do autor. Descobri que ele nasceu em Nova York em 1891, filho de pais alemães, e que nunca se encaixou no american way of life. Teve mil profissões quebra-galho: foi açougueiro, lavador de pratos, caixeiro-viajante… mas foi só quando abandonou tudo e se mudou sozinho para Paris em 1930 que começou a reunir textos e experiências, que viriam a se tornar o Trópico de Câncer.
Curiosamente, essa noção de que os “trópicos” são literatura erótica me pareceu equivocadíssima. Agora, depois de ler os dois livros, entendo o furor e o choque de uma América puritana ao se deparar com uma escrita tão libertária e original, mas não classificaria os livros como pornográficos. Miller fala sim sobre sexo (entre MUITOS outros temas), de maneira aberta, debochada e até agressiva (especialmente para quem se ofende com palavras ditas “de baixo calão”), mas o grosso da obra tem um cunho muito mais filosófico e contestador do que obsceno. Vamos ao livro:
Henry Miller abandona sua vida infeliz nos EUA e se muda para Paris, sem um centavo no bolso, onde é apresentado à boemia francesa e redescobre seu talento para a literatura e para a tão sonhada liberdade. O texto é uma mistura de relatos autobiográficos e ficcionais, escrito como um fluxo de pensamento livre, no qual ele descreve seus dias (e noites) de erotismo e deleite em Montparnasse.
O livro é bem humorado e até debochado em determinados momentos. Uma descrição poderosa e franca de um universo habitado por prostitutas, escritores e artistas ~ o submundo de Paris que raramente vem à tona. Acabou se tornando um símbolo da revolução sexual nos anos 60, quando foi finalmente liberado nos EUA.
Uma curiosidade: Trópico de Câncer só viu a luz do dia graças aos esforços de Anaïs Nin, escritora francesa (cujos romances também são impregnados de conteúdo erótico), amante de Miller e de sua esposa June, que financiou a publicação do livro.
site:
http://naomemandeflores.com/os-tropicos-de-henry-miller/