Nath @biscoito.esperto 08/07/2018Meu objetivo na vida é ler todos os livros do Murakami, e eu não estou nem um pouco perto de cumprir essa meta, mas eu digo desde agora que Dance dance dance é um dos meus livros favoritos dele.
DDD é o quarto livro da Trilogia do Rato. Você não precisa ter lido as duas primeiras novelas (Ouça a canção do vento e Pinball, 1973), mas precisa obrigatoriamente ter lido Caçando Carneiros. O plot do livro não fará sentido sem a leitura de CC.
Nosso narrador sem nome encontrou, mais ou menos, o carneiro que precisava encontrar. Desde então ele saiu da sociedade que tinha com seu amigo e decidiu se tornar um escritor freelance. Ele aceita literalmente todo tipo de trabalho, desde matérias jornalísticas a resenhas de restaurantes.
Depois de viver alguns anos num torpor de textos ruins e vida repetitiva, nosso narrador finalmente decide tirar umas férias e revisitar o Hotel do Golfinho. Ele quer reencontrar sua namorada de orelhas bonitas e acredita que o lugar para começar a busca é o decrépito hotel. No entanto, quando viaja a Sapporo, descobre que o hotel foi comprado por uma grande organização que o remodelou completamente, transformando-o num hotel de luxo.
O Hotel do Golfinho antigo não existe mais, mas nosso narrador ainda tem esperanças de que o lugar o leve e reencontrar sua namorada desaparecida. Ele então conhece uma recepcionista bonita que diz ter vivido uma experiência sobrenatural no hotel, acaba fazendo amizade com uma menina médium de 13 anos e se reencontra com um ex-colega de escola que se tornou um ator famoso.
Assim como Caçando Carneiros, DDD é uma caça ao tesouro regada de realismo mágico. Nosso protagonista não é um detetive – pelo contrário, as pistas e situações importantes aparecem para ele quase como por sorte (ou destino). Mesmo assim, tudo o que acontece faz total sentido.
Acho que eu gostei muito desse livro por que realmente me identifico com o protagonista. Ele é uma pessoa comum, que gosta muito de jazz e blues, lê bastante e come muitos sanduíches. Ao mesmo tempo, as coisas que acontecem em sua vida são muito, extremamente absurdas, e ele não tem controle sobre absolutamente nada. As coisas estranhas e horríveis – e maravilhosas – acontecem a ele sem aviso, e ele simplesmente tem que dançar conforme a música.
Alguns dos meus personagens favoritos de toda a literatura do Murakami estão nesse livro. O nosso narrador sem nome é uma pessoa divertida e descontraída, apesar de todas as coisas que lhe acontecem. A recepcionista do hotel é uma personagem dinâmica e curiosa. Yuki, a menina médium de 13 anos, tem uma personalidade trágica e envolvente. Gotanda, o ator famoso, é uma pessoa quebrada e cheia de problemas que ainda consegue manter uma amizade significativa com nosso protagonista. E, claro, temos várias personagens secundárias muito interessantes, como a fotógrafa Ame, o poeta Dick North, os investigadores Pescador e Intelectual, a prostituta May e a volta triunfante do homem-carneiro.
Ler DDD foi uma jornada muito envolvente. Apesar do livro ser um pouco repetitivo e, às vezes, parecer se perder em tramas secundárias longas e desimportantes, foi espetacularmente interessante ver como o autor conseguiu amarrar as pontas soltas e resolver as linhas narrativas de forma magistral e inesperada.
Por mim eu leria mais 15 livros passados no universo da Trilogia do Rato, mas acho que o final do livro foi um encerramento excelente para a jornada que começou em Ouça a canção do vento. Tudo o que precisava acontecer aconteceu, todos os mistérios que precisavam ser resolvidos foram resolvidos e os mistérios que ficaram sem solução não precisam de fato ser solucionados. Eu só espero que nosso narrador sem nome finalmente seja feliz, pois ele merece muito. Sinto quase como se ele fosse meu amigo.
site:
www.nathlambert.blogspot.com