Evy 15/03/2017
Was he kee, she, ke.
Sabe quando você lê um livro bom que dizer apenas ‘bom’ parece ser insuficiente?
E você quer espalhar seu amor por ele aos quatro cantos, falar dele o tempo todo e encher o saco de suas amigas para elas lerem também?
Eis o que esse livro provocou em mim.
A Catherine Anderson é uma autora FABULOSA, quem já conferiu ao menos uma obra dela entende, mas ela sempre tem uma certa fórmula: uma mocinha com algum trauma que por variadas circunstâncias se junta a um mocinho que apaga todos os seus medos e alivia seu coração dos traumas passados, um homem que abarca as melhores qualidades. Mas nesse livro a fórmula sofre alterações.
Cheyenne Amber conta a história de uma mulher nascida no ambiente da riqueza chamada Laura Cheney que ao se casar precipitadamente com um rapaz vê sua vida mudada radicalmente quando ele a leva para o Colorado. Dois anos se passam e um certo dia Laura se vê viúva, com uma cabana caindo aos pedaços, com apenas três centavos e o pior de tudo... com seu bebê recém-nascido sequestrado. Desesperada ela segue até a cidade mais próxima, Denver, para tentar buscar alguma ajuda, alguém que fosse com ela atrás de seu bebê, mas as coisas não saem como ela queria porque Denver estava em uma iminente ameaça de ataque de índios, especificamente dos Cheyennes e nenhum homem queria abandonar suas famílias para ajudar uma desconhecida... Bem, nem todos, havia um homem que todos diziam que não iria lutar contra os Cheyennes, o único que poderia ajudá-la... Deke Sheridan.
Deke Sheridan não era um homem comum. Nascido branco e criado pelos Cheyennes ele era alguém a ser evitado, um homem incivilizado com uma fama temível com armas, um homem perigoso. Mas situações extremas exigem medidas desesperadas, então com isso em mente Laura resolve pedir-lhe ajuda e depois de alguns percalços eles empreendem viagem em busca do filho de Laura.
Deke Sheridan é sem sombra de dúvida um dos personagens mais complexos que já conheci durante minhas leituras. Um homem com um passado muito, mas muito doloroso mesmo, o personagem masculino mais sofrido da Catherine. Um homem complicado que apesar de viver já a um bom tempo entre os brancos tem o pensamento de um índio. Em todos os livros com índios que li (inclusive alguns da própria Catherine) eu nunca realmente senti uma diferença tão drástica de modo de pensar entre os personagens índios e brancos como eu senti nesse livro. A Catherine soube expor muito bem a diferença aqui e por causa disso classificar o Deke como um mocinho não é o ideal, ele tem atitudes durante o decorrer da leitura muito erradas, mas ele soube assumir e se redimir de seus erros, fui aos poucos junto com a Laura enxergando as facetas bonitas dele, fui aprendendo a mudar minha opinião e como a Laura diz: “Por nenhuma culpa própria, Deke Sheridan era diferente de qualquer outro homem que ela já conhecera, julgá-lo por padrões comuns seria tão bobo como esperar que uma maçã parecesse e tivesse o mesmo gosto de uma laranja.”
De certa forma apesar do foco no Deke tendo uma gigantesca influência em relação a amenização de todos os traumas da Laura, dando a ela não apenas amor mas também o sentimento de orgulho em si mesma, para mim houve uma via dupla, os dois influenciaram o coração do outro, aliviaram as dores, curaram os traumas, se deram a oportunidade de serem felizes. A Laura não foi apenas ajudada, com seu amor ela deu finalmente um descanso de paz para o Deke.
“Banido por seu povo adotivo, rejeitado por aqueles de sua própria raça, ele estava tão terrivelmente, terrivelmente sozinho. Ele era tão forte de muitas maneiras, mas debaixo de tudo, ele era vulnerável como só uma criança poderia ser, ainda à procura de um lugar onde ele poderia amar e ser amado, por um mundo que não se afastaria dele.
Laura queria criar esse mundo para ele.”
Outro ponto alto do livro são as interações entre o Deke e a Laura, me renderam muitas risadas. De um lado a Laura com todo seu refinamento de dama e do outro Deke, um Cheyenne de coração que aprendeu inglês com cowboys que tinham uma certa predileção para os palavrões kkk.
Os adoráveis personagens secundários com destaque para a índia Sugar Girl, queria muito um livro dela, ela merece demais um final feliz depois de tudo que passou. A ambientação da época, a ambientação dos índios... tudo impecável e como se já não bastasse tudo isso, quando pensei que tudo seria um caminho claro para o final feliz, a Catherine me dá uma rasteira na reta final do livro que me deixou muito, muito triste e depois me fez terminar o livro com um enorme sorriso no rosto.
Esse é sem dúvida um livro inesquecível para guardar no coração e acarinhar na memória.
“Criado como foi pelos Cheyennes, Deke não acreditava que as coisas aconteciam acidentalmente. Para cada sopro de brisa, para cada gota de chuva, para cada coração que batia, havia um propósito. Seu povo acreditava que a vida era uma tapeçaria, a tecelagem complexa, o padrão controlado por poderes além da compreensão. Deke via o nascimento de um homem e uma mulher como acontecimentos que tinham lugar nas bordas exteriores opostas da tapeçaria, os seguintes dias, semanas, meses e anos um entrançado de texturas e cores que giravam incessantemente em direção a um ponto central onde os seus padrões individuais finalmente misturados se tornavam mais intrincados. Se um homem tivesse sorte, a mulher que ele conhecesse e se tornasse entrelaçada nesse redemoinho central traria com ela um brilho que brilharia tão belamente como o dos olhos de Laura.”