Ramiro.ag 09/01/2024
"O verdadeiro poder de um homem só se adquire quando este conhece a verdade, não importa o que seja essa verdade."
"E o mundo em que ela vivia não era o da ficção. Era o mundo real, repleto de fissuras, incoerências e situações decepcionantes."
O segundo volume de 1Q84 me prendeu tão ou mais quanto o primeiro. Foram proporcionados diversos esclarecimentos, embora a trama ainda permaneça envolta em mistérios. A cada capítulo que percorri, percebi que uma engrenagem avançava gradualmente, e, conforme aludido na narrativa, uma vez que ela gira, não há retorno possível.
"Se o barco em que ele estava avançava rumo à ribanceira, na iminência de despencar, o jeito era se conformar e deixá-lo cair. Àquela altura, não adiantava espernear, pois isso não mudaria o fluxo do rio."
Consegui entender muito mais sobre os personagens e suas relações, especialmente a marcante relação entre Aomame e Tengo, que pareciam meros protagonistas paralelos no primeiro volume. Notavelmente, ao examinar os eventos anteriores à luz dos novos conhecimentos, tudo se encaixou perfeitamente, indicando que nada foi inserido na trama por acaso. A citação de Tchekhov, enfatizada ao longo da narrativa, ressoa de maneira significativa: se uma arma é introduzida na história, ela deve ser utilizada. Sinto que Murakami está e continuará a utilizar todas essas "armas" que nos foram apresentadas.
"Não existe nada neste mundo que não tenha saído do coração de alguém."
No tocante a Tengo, destaco seu notável desenvolvimento neste volume. À medida que ele explorava sua própria identidade e enfrentava verdades que até então evitara, foi capaz de transcender a inércia que o envolvia, iniciando, finalmente, uma trajetória de ação.
"Elas não buscam a verdade que vem acompanhada da dor. O que as pessoas querem é uma história bonita e agradável, que as faça enxergar um sentido em suas vidas."
Quanto ao ritmo da narrativa, embora possa ser considerado lento em determinados pontos, a estrutura de intercalar os pontos de vista dos personagens me mantem profundamente envolvida na leitura. Agora, é inegável reconhecer o "elefante na sala", houveram partes um tanto difíceis de engolir, mas não tenho como opinar com total certeza sobre a natureza delas antes de ler o último volume da trilogia.
"Uma imagem que possui um significado que não se pode explicar por meio de palavras. Há quem diga que vivemos em função do desejo de entender o que esse algo tenta nos dizer."
Enfim, foi uma leitura muito satisfatória e me fez mergulhar de cabeça nesse "novo mundo" de 1Q84, estou ansiosíssima para ler o próximo e finalmente desvendar a causa de toda essa maluquice.
"O bem e o mal não são coisas fixas e estáticas, estão constantemente mudando de posição. Uma coisa pode no instante seguinte se tornar uma coisa má."