A Ronda

A Ronda Arthur Schnitzler




Resenhas - A Ronda


2 encontrados | exibindo 1 a 2


jota 15/06/2022

Enquanto alguns vienenses valsavam ou passeavam pela Ringstrasse, outros faziam a ronda do amor...
Avaliação da leitura: 3,5/5,0
Lido entre 09 e 13 de junho de 2022

A Ronda (ou Reigen, em alemão) é uma peça do austríaco Arthur Schnitzler (1862-1931), médico e amigo de Freud e, como ele, de origem judaica -- e isso queria dizer muita coisa no seu tempo. Além de peças Schnitzler também escreveu romances, alguns bastante conhecidos, como O Tenente Gustl (1900) e Aurora (1926), que li não faz muito tempo. A Ronda é composta por dez cenas curtas com apenas dois personagens, um homem e uma mulher, que dialogam praticamente o tempo todo quase sempre de modo sério ou dramático. Digamos assim que cada pessoa do par estivesse seduzindo a outra para depois partir para o sexo, ou então elas podiam estar discutindo a relação, caso fossem amantes, ou ainda tratando do que o cavalheiro teria de ofertar para ter sexo com uma, vá lá, senhorita.

Mesmo não havendo descrição de qualquer cena de sexo, no início do século passado esse tipo de conversa era tabu e a sociedade vienense polemizou bastante acerca dessa peça. Como Freud, Schnitzler acreditava que o impulso sexual era universal, atravessava todas as classes da sociedade e ultrapassava as convenções sociais. Mas na Viena de 1900 e pouco essas ideias causaram escândalo e A Ronda não pode levada à cena. Foi publicada em livro em 1903, na Alemanha, e vendeu milhares de exemplares, mas a polêmica continuou até depois de 1920, quando a peça finalmente estreou em Berlim.

Em 1964 virou filme homônimo dirigido pelo francês Roger Vadim, e foi bastante comentado, talvez porque a atriz principal fosse então a mulher dele, a sensual Jane Fonda, uma celebridade daqueles tempos. Não sei se havia nudez completa nesse filme, penso que não, mas menores de 18 anos não puderam vê-lo. Em 2011, Fernando Meirelles dirigiu uma versão falada em várias línguas, e contou com a ajuda do renomado roteirista inglês Peter Morgan para a adaptação. O cartaz do filme -- intitulado 360 --, dizia que a vida era um círculo perfeito, e era anunciado como “Um thriller dramático que tece as histórias de uma variedade de pessoas de diferentes origens sociais através de suas relações entrelaçadas.”, o que vai ao encontro do texto de A Ronda. Não vi nenhum dos dois, mas a avaliação de ambos no IMDb não é lá muito boa. A leitura que fiz também não me pareceu assim tão interessante.

Mas há uma versão cinematográfica de 1950, dirigida pelo alemão Max Ophüls, que agradou os críticos, porque parece que essa adaptação levou o texto de Schnitzler mais para o lado cômico do que dramático. O cartaz desse filme mostra casais num carrossel de parque de diversões, daí que parece sinalizar que se trata de uma comédia romântica, mas o IMDb classificou-o simultaneamente como drama e romance, vá entender. Também não vi essa adaptação cinematográfica, claro.

De volta aos trilhos: em cada uma das dez cenas de A Ronda temos um par de amantes. Eles são: a jovem e o soldado, o soldado e a empregada, a empregada e o jovem, o jovem e a dama, a dama e seu marido, o cavalheiro e a moça, a moça e o poeta, o poeta e a artista, a artista e o conde, o conde e a jovem do início. Quer dizer, um dos amantes sempre se repete na cena seguinte em uma espécie de “dança” de emparelhamento sexual, que no fundo é um círculo fechado, como Meirelles e Morgan trataram a peça no filme deles. No livro, as cenas de sexo ocorrem entre os diálogos de antes e depois da relação, situação que não é mencionada em momento algum, apenas simulada. Nalgumas edições com travessões (como na francesa) ou então, nessa que li, com pontinhos, assim: ............, que ocupam toda uma linha. Pois é, muito curioso isso.

Sem os trechos em que os protagonistas fazem sexo o livro não me pareceu nada chocante para os dias de hoje. Mas para a antiga Viena – e também para as autoridades alemãs daqueles tempos, que liberaram depois proibiram a peça e em seguida a liberaram novamente – a coisa tinha outro sentido: tratava-se de depravação dos costumes. Retratando situações de infidelidade e outras, o que Schnitzler realmente pretendia era criticar a sociedade hipócrita de então. Que publicamente ou nas reuniões sociais se comportava de modo extremamente moralista, mas que no escurinho de seus quartos ou do de suas amantes -- e até mesmo debaixo de uma ponte, como ocorre numa das cenas entre um jovem soldado e uma senhorita --, podia agir de modo bastante promíscuo.

A Ronda pode interessar ainda hoje porque revela aspectos de um período conhecido com Belle Époque e as ideias que circulavam na sociedade de língua e cultura alemãs de então. Outro ponto de interesse para o leitor pode ser observar a habilidade de Schnitzler na construção de diálogos concatenados, de cenas que só aparentemente são repetitivas. A linguagem é utilizada para conquistar, para barganhar, para recusar o sexo (quase nunca) ou ceder a ele (quase sempre). O nobre se expressa de um modo, a rapariga de outro, o soldado de outro jeito, a atriz de outro ainda. O que realmente não se encontra em A Ronda é o sentimento de amor.
comentários(0)comente



Sofia 22/03/2024

A ronda
Este foi a peça que serviu de base para o espetáculo que eu fiz na minha escola e e um livro cheio de intrigas sexuais todos estamos ligamos no fim de contas

3,5?
comentários(0)comente



2 encontrados | exibindo 1 a 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR