MayLestat 19/12/2015
Leitura difícil de digerir, uma montanha de emoções
Sherrilyn Kenyon se aprofunda num dos personagens mais odiados do livro focado em Acheron: Styxx, irmão gêmeo de Acheron. No outro livro, que é tão complicado e pesado quanto este, vemos um Styxx ressentido pela relação de sua irmã com seu gêmeo, a autora mostra o ódio, as desavenças, o ciúme e desprezo que ele sente por Acheron.
É uma tarefa difícil comentar sobre isso sem entrar em detalhes específicos ou dar spoiler. Posso dizer que me surpreendi e que definitivamente fui cativada e aos poucos conquistada. Coisas foram explicadas, é o tal "nem tudo é o que parece". É interessante o ponto de vista dele (Styxx), observar os eventos/ações a partir de outra perspectiva. Alguns personagens foram desconstruídos e construídos novamente - a princesa Ryssa que o diga. Eu chorei em algumas partes, em outras me revoltei, me indignei com a ignorância das pessoas, a crueldade, brutalidade, depravação, as perversões, o prazer de assistir a dor e humilhação de alguém. Testemunhei a destruição da inocência. Tive um nó no estômago, a cada página já pressentia uma nova tensão vindo, alguma coisa - algo do pior tipo. Quando você pensa que as coisas vão se acalmar... É mais um soco. É assim, tipo, demais de acompanhar essa jornada sofrida.
É necessário ter estômago e força para ler (caso contrário prepare-se psicologicamente). Sherrilyn não é muito descritiva na miséria que fazem ali, mas é o suficientemente clara para causar repugnância. Para sobreviver numa família disfuncional dessas, realmente... Um pai imbecil com atitudes no mínimo dignas de um bipolar e uma mãe megera meio desequilibrada que dá um coração frio de presente a seus filhos. Sem falar naquele tio.
Do início que foca nos primeiros anos de Styxx e Acheron até os passados onze mil anos depois é um longo caminho, com muitas passagens - umas horríveis e outras onde eu não sabia se ria ou chorava, principalmente com Styxx interagindo com o pai e a irmã insuportável. A autora não poupa ao escancarar o sofrimento, as aflições - eu me coloquei no lugar do Styxx, senti uma puta empatia. Dá uma sensação de impotência. É muito triste, levei uma surra lendo e acabei com a sensação de um aperto no peito. Apesar de achar um certo exagero aquilo tudo (são páginas e páginas de pura desgraça alheia que chega a ser inacreditável), torci para que houvesse algo que chacoalhasse esse circo de horrores. Acheron caiu um pouco no meu conceito, eu não julgo, me coloquei no lugar dele também. Mesmo assim não consegui evitar ficar decepcionada com ele.
O romance é maravilhoso. Beth é uma das melhores personagens femininas: deusa da Ira e Miséria, é forte, doce; ao mesmo tempo podendo ser uma fúria poderosa quando é seriamente contrariada, mas não usa esse poder para o mal ou por arrogância. Depois da egocêntrica e infantil Artemis, fiquei com um pé atrás com outra deusa. Eu senti aqui o que não senti no livro Acheron, senti a química que não encontrei com Tory (fraquinha) e Acheron (Artemis podia até fazer par com Ash - apesar de agir como uma vaca com o homem que dizia amar e da relação conturbada, tinha mais afinidade com ele).
Sobre a segunda parte do livro: não é tão boa. Essa autora se prolonga muito que quando se percebe já está no final e correndo contra o tempo para terminar sem deixar nenhuma ponta solta. Parece que não consegue harmonizar uma época com outra (prefiro quando ela escreve retratando o período da Grécia antiga, a escrita flui melhor). Fiquei com receio da SK estragar isso como fez com Acheron, mas não foi tão ruim se comparado à história dele (que é ótima no início, durante a narrativa nos tempos antigos, mas vai escorregando quase no final). Styxx acabou se tornando meu personagem favorito, me apaixonei de cara, gostei até mais que de Acheron. Não dá para comparar um com o outro; ambos têm seu lugar nessa tragédia grega e cada um lida com a situação à sua maneira. Este é um livro que você pode ler e levar um banho de água fria com o que vai se deparar, você pode amar e odiar, pode sofrer e se chocar com o que um ser é capaz de fazer com outro. É uma história realista, embora fantasiosa. E mesmo com toda maldade humana/divina disponível para se entristecer, você também pode sorrir e se deleitar com uma história de amor que lembra Shakespeare.
"O coração mais bonito de todos é o que ainda pode amar mesmo quando ele sangra, e especialmente depois de ter sido quebrado em mil pedaços."