Tiago 10/12/2021
Um livro impressionante
De início você se recusa a crer que se trata de uma história real, tal é a habilidade com que Huxley conta os detalhes dos eventos e as resoluções interiores das personagens. Depois você se dá conta de que tudo é retirado dos depoimentos, cartas e relatos históricos, e você fica ainda mais assombrado com a genialidade do autor de reviver esta horripilante história.
Horripilante não pelo terror, pois este é leve. Mas sim pela percepção de que se trata do horror gerado pela natureza humana decaída. Ao tratar do caso das possessões demoníacas do convento de Loudun, da biografia nada exemplar do padre Grandier ou da credulidade dos habitantes e da maldade dos exorcistas, muito habilmente Huxley faz a ligação com o nosso tempo, ressaltando que hoje não somos, nem de longe, melhores do que aquelas pessoas. Pelo contrário, nossas razões são bem piores e produzem mais tragédia - lembrando que o livro foi escrito pouco depois da Segunda Guerra.
É igualmente surpreendente a insistência do autor na sua crença profundamente materialista. Ainda que, ao longo do livro, demonstre uma indiferença cada vez mais respeitosa pela religião, nega em absoluto qualquer existência transcendente, reduzindo todo o universo a relações humanas e materiais. Não, novamente, apenas no caso do tema do livro - no qual ele prova que a ação do demônio não esteve presente (ou não diretamente, para os mais céticos). Mas é bastante interessante perceber a incoerência de uma inteligência fértil com uma negação tão pueril quanto à óbvia - e isto partindo de suas próprias relações lógicas - existência do sobrenatural, do divino.
Ainda assim, é um livro não menos que genial.