Belle 17/07/2013Penelope Marin é uma garota esquisita.
O tipo de garota estranha que conta as rachaduras no chão e evita pisá-las, que tem fixação pelos números nove, seis e três, entre outros. Além do fato de que ela nunca deu a mínima para a própria aparência e é uma verdadeira "catadora de lixo". Ou, como ela prefere pensar, é uma "protetora de tesouros". Acontece que Lo, como ela gosta de ser chamada, sempre gostou de "pegar" determinados objetos e protegê-los como se fossem relíquias.
Entretanto, desde a morte de seu irmão, Oren, esse hábito transformou-se em impulsos incontroláveis que a impeliam a vagar aleatoriamente pela cidade, sempre em busca de novos locais para explorar, e os objetos dos quais ela se apoderava passaram a ser uma obsessão sem a qual ela se sentia desprotegida.
“O negócio é o seguinte: eu não escolho pegar as coisas. Eu tenho que fazer isso. Sempre tive que fazer certas coisas... A princípio, não era ruim. Apenas coisinhas. Mas, desde que Oren desapareceu, ficou pior. Muito pior. Agora, quando esse ímpeto aparece, é como se fosse uma força sobrenatural que se apodera do meu corpo e não vai embora, até que eu tenha aquilo que avistei, a coisa da qual preciso. E o meu desejo não é o de pegar ou roubar, mas o de possuir e guardar. Eternamente. Comigo. Em segurança.” – págs 19 e 20.
Em uma dessas andanças pela parte mais barra pesada da cidade, um lugar conhecido como Neverland, após furtar uma escultura de anjo, Lo é testemunha de um assassinato. Apesar de não ter visto nada além da bala que quase acertou sua cabeça, ela foge do local apavorada, mas, não consegue esquecer a situação. Então, depois de uma rápida pesquisa na internet, Lo descobre que a bala que quase a acertou, matou uma garota conhecida apenas como Sapphire e que alguns objetos sem valor foram levados da cena do crime.
No dia seguinte, decidida a esquecer a história, Lo parte para um sábado no mercado de pulgas, uma espécie de feirinha onde todo o tipo de bugigangas (o tipo de coisa pelo qual ela é obsecada) pode ser encontrada. Quando um garoto com um chapéu esquisito de orelhas de urso passa apressado ao lado dela, empurrando-a de encontro a uma das barraquinhas, Lo se surpreende ao dar de cara com os objetos roubados de Sapphire, descritos na matéria online: um cordão de prata com pingente de cavalo e uma estatueta e borboleta. Ao sentir aquele já conhecido ímpeto, Lo não pensa duas vezes antes de enfiar os objetos dentro do bolso.
É quando uma estranha e incrível conexão com Sapphire tem início. Lo parece ser capaz de sentir a presença dela e toda aquela obsessão por objetos é transferida para o ímpeto de descobrir o assassino da striper. Lo não sabe explicar o porquê, mas, sabe que deve isso a garota.
A Lo é total e completamente pirada. Mesmo! E é fantástica! Eu nunca tinha lido um livro com uma heroína tão imperfeita e fascinante. Ela é cheia de manias e obsessões. Ao mesmo tempo, é doce, sensível e forte. Ela é uma contradição e é muito angustiante acompanhá-la no dia-a-dia, observar a luta que ela trava consigo mesma a cada segundo. No início da leitura, eu tive a impressão errada sobre os pais da Lo, aliás, sobre eles e o irmão também. Quando as coisas começaram a se desenrolar e eu passei a criar minhas teorias, só consegui sentir pena e frustração. O Flynt, bem, o que posso dizer sobre ele... O cara é um gatinho, só que, em determinados momentos, ele conseguiu ser bem irritante...
Eu não gostei muito do modo como a autora conduziu toda a "investigação" da Lo. Ficou muito absurdo. Porque é claro que toda adolescente decidiria investigar um assassinato completamente sozinha, logo após quase levar um tiro. Claro! Mas, como eu disse, a Lo é maluca. E a primeira reação dela após sair da cena do crime não foi procurar a polícia, obviamente. Entretanto, meio que dá pra entender os motivos dela, porque, assim como os objetos que ela “salva”, investigar o assassinato da Sapphire não é uma escolha, é um ímpeto.
Quando as coisas começam a se encaixar é muito bacana. O assassino em si não é nada de outro mundo... Na verdade, é até meio óbvio. Não que isso estrague o livro, ou tire toda a graça. É que não há muitos suspeitos, então, não dá pra criar teorias muito loucas sobre ele... Entretanto, o mistério que eu realmente achei interessante é a ligação entre a Lo e a Sapphire, o assassino fica meio que em segundo plano perto das duas. O livro é realmente muito bom. Desde a capa, até a última página. A Lo, com suas manias e sua imperfeição, garantiu espaço entre as minhas heroínas preferidas!
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