Os Melhores Contos de Natal

Os Melhores Contos de Natal Machado de Assis




Resenhas - Os melhores contos de natal


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Karen 04/12/2020

Tramas que acalentam o coração
Narrativas dotadas de curta extensão, o que implica, em sua arquitetura, a adoção de econômico espaço, de breve tempo, de poucos personagens e de rápida ação, os contos fascinam pessoas das mais variadas faixas etárias e dos mais diversos gostos literários, daí sua permanente e expressiva popularidade em meio aos leitores de cada época e de todo lugar. Por sua vez, a versatilidade temática desse gênero textual, tão ampla quanto a de qualquer romance, viabiliza o conhecimento de um diminuto, porém, rico microcosmos dramático, capaz, em certos casos, de enlevar, com a mesma magnitude de um enredo de grande complexidade, os sentidos dos indivíduos que, por suas parcas páginas, viajam. Com efeito, a noção dos múltiplos e cativantes atributos oferecidos por tais modestas e, ao mesmo tempo, marcantes tramas estimulou, na década de 1990, a extinta editora Círculo do Livro a investir na publicação de diferentes coletâneas de contos, entre as quais OS MELHORES CONTOS DE NATAL, de vários autores clássicos nacionais e estrangeiros, destaca-se como aquela que, distinguida por um aconchegante tópico, maior repercussão e maior apreço pareceu obter.

As histórias constantes da compilação supracitada abordam a data consagrada ao nascimento do Menino Jesus segundo conjunturas distintas, de sorte que, enquanto algumas revelam um conteúdo acalentador ou mesmo instigante, outras manifestam um teor superficial ou até enfastiante. Em meio aos escritos fundamentados por excelentes predicados, sobressai-se o de Coelho Neto (1864-1934), literato ilustre e membro fundador da Academia Brasileira de Letras, que contraria expectativas óbvias ao empregar uma farta adjetivação nas passagens descritivas e nas sequências narrativas de "O pároco", porquanto, em lugar do oferecimento de uma linguagem excessivamente rebuscada e de uma leitura inegavelmente maçante, eleva seu texto às raias da poesia, algo que empresta inesperada afabilidade e pureza à abordagem sobrenatural do conto, marcado pela aparição, na primeira noite de Natal posterior a seu falecimento, do espírito do saudoso pároco centenário de uma aldeia do Brasil, que, no além-vida, não se abstém de celebrar, acompanhado, desta vez, por dois anjos, a missa do galo aos fiéis. Também integra a categoria de ótima trama “Os tamanquinhos de Natal”, do francês François Coppée (1842-1908), cuja caracterização dos personagens, orientada não somente por alegorias clássicas do bem e do mal, como também por estereótipos românticos de pobreza e de riqueza, e cuja conjuntura da ação, guiada tanto por macetes recorrentes ao melodrama quanto por elementos condutivos ao happy ending, viabilizam sua equiparação com a atmosfera narrativa das mais populares obras dickensianas, o que equivale a afirmar que, não obstante a exagerada natureza do enredo, seu tom sentimental é, além de comovente, moralizante numa edificativa e positiva acepção.

No que se refere aos textos pautados por consistentes, ainda que medianos atrativos, pode-se ressaltar "Conto de Natal", do renomado contista francês Guy de Maupassant (1850-1893), que se firma na inusitada e audaciosa abordagem de um caso de exorcismo ocorrido em meio a um enregelante e soturno inverno numa pequena aldeia da Normandia a fim de ilustrar o poder da fé como virtude literalmente capaz de salvar a vida do ser humano, quando até mesmo a esperança, a qual, segundo o ditado, deveria ser a última a morrer, já principia a esvanecer-se. Outra narrativa digna de atenção é aquela assinada pela escritora iugoslava Ida Fürst (1850-1900), a saber, “A lenda da casa número 15”, em que se articula uma trama que, entremeada por críticas, entre outras, à corrupção política, ao nepotismo compulsório e à exploração proletária, invoca a retidão de caráter, a sensibilidade de coração e a pureza de alma como pressupostos da literal entrada de qualquer indivíduo no Reino dos Céus, desde que Deus não ignora as abnegações, as penúrias e as angústias de Seus filhos, a exemplo do sr. Casimiro Sukaljevié e de seus entes queridos, os quais, depois de ouvirem, da matriarca da família, um reconfortante conto natalino em que o Menino Jesus intercede pela desgraçada sina de dois irmãos órfãos, veem-se eles mesmos, de seu amargo destino, resgatados por Cristo, que os conduz, com efeito, para Sua morada.

Uma vez que se compõe de 16 tramas de construções únicas que se relacionam umas às outras em função do teor natalino, garante aos leitores a seleção OS MELHORES CONTOS DE NATAL, além daqueles acima discutidos, enredos memorabilíssimos, que, mesmo que não sejam detalhados, devem ser citados, tais quais o conhecido “Cântico de Natal”, do popular escritor inglês Charles Dickens (1812-1870), o meigo “A estrela de Belém”, da prolífica romancista inglesa Elizabeth Goudge (1900-1984), o reflexivo “Sonho de uma noite de Natal”, do eminente literato russo Maksim Górki (1868-1936), e o singular “Markheim”, do famoso escritor escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894). Estabelece-se, de fato, na coletânea proposta pela saudosa editora Círculo do Livro, um leque de narrativas que, conquanto sejam diversos seus fios condutores, seus fundos socioculturais e suas fantasias primordiais, respaldam-se, invariavelmente, em lições que evocam sentimentos e posturas instruídos, entre outros, pela fé, pela esperança, pela confiança, pelo amor, pela paz, pela pureza e pela dignidade, valores atemporais, universais e essenciais, visto que são, nada mais nada menos, do que humanos.

– Karen Monteiro

site: https://tudoquemecomove.blogspot.com/2020/12/resenha-os-melhores-contos-de-natal-de.html
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