Fernando Figura 28/04/2023
Híbrido espirituoso
O livro passeia de um gênero ou estilo para outro. Às vezes romance policial, às vezes ensaio, às vezes diário ou reportagem... A própria composição do livro vira tema na maior parte do tempo: uma espécie de ?making of? do romance. Tudo escrito com uma prosa ágil, despojada, como se o autor estivesse no bar contando uma história para gente.
O autor investiga sobre a inveja. Entrevista mães de santo, padres, psicanalistas, amigos, médicos, conhecidos. Ao mesmo tempo, o autor se vê doente e precisa se tratar. Ao mesmo tempo, conhece uma mulher deslumbrante marcada por uma história de inveja envolvendo uma morte. Ao mesmo tempo, investiga esse caso. Tudo isso tendo um prazo para entregar o romance à editora.
É inventivo e prende a atenção.
Há uma quantidade espantosa de personagens reais na história, dando a entender que o autor-personagem circula numa esfera bem ilustrada.
Mas há também um grau de artificialidade em certas cenas e falas, como se fossem mais ?literárias? que propriamente ?reais?. Todos os psicanalistas parecem só citar Freud e Melanie Klein. E todo mundo no romance parece ter uma língua afiada, raciocínio rápido e inteligência aguçada para chistes espirituosos.
Foi o primeiro livro que li do Zuenir Ventura e confesso que gostei muitíssimo. ?Mal secreto? é também o primeiro livro da série ?Plenos Pecados? que a Objetiva lançou tem uns 25 anos já, série essa composta por sete livros, cada livro um pecado capital e um autor diferente.