Magno 23/10/2012
Estou escrevendo essa resenha um pouco atrasado, já li o livro faz algum tempo, mas preciso alertar alguns leitores acerca das construções do Harlan Oben - ao menos desse livro - que com certeza me impediriam de cometer a burrada que foi comprá-lo:
Apesar de inúmeras questões paralelas que conseguem te prender razoavelmente, o autor peca em detalhes essenciais para mim, que almejo num texto uma boa organização psicológica dos personagens, além de coerente, o que é extremamente mal feito em Confie em mim:
1 - A família que pode-se dizer que seja a protagonista da obra é perfeita em todos os sentidos. A esposa é sempre muito ocupada, mas morre de amores pelos filhos. O marido, do mesmo modo, um médico renomado que consegue encontrar tempo pra ter a relação perfeita com mulher e crianças. A filha é uma menina doce, sensível e de comportamente irrepreensível. O filho, apesar das atitudes, é o garoto de ouro da casa, seu pai é também seu melhor amigo e todo aquele blábláblá incansável da família perfeita e nada humana, difusa da vida real. Além do conflito em que se foca o livro, essa família não vive nenhum outro, já que a relação entre pais e filhos é extremamente idealizada e ilusória. NENHUMA família é assim.
2 - O autor nos empurra, garganta abaixo, uma menina extremamente precoce e madura para sua idade, o que também é terrivelmente irreal do ponto de vista psicológico. Além de ser um anjo - num sentido quase literal da palavra -, tem uma postura de gente adulta em todas as vezes que aparece no livro, de modo que o Harlan Coben esqueceu-se completamente da idade da personagem, lhe atribuindo uma idade mental totalmente incompatível.
Na verdade, o que causa asco mesmo em leitores de obras mais bem elaboradas, ao pegar nesse livro, é a maneira com que o autor claramente escolhe os "vilões" e os "mocinhos". Quem é bom, SÓ é bom, e o tempo TODO, a não ser que cometa algo aparentemente vil, mas que se descobre ser de raiz positiva e consequência benéfica. O oposto acontece com os de conduta desviada. Isso empobrece a alma do livro, que de fato, propõe a lidar com a psicologia de uma família aparentemente em crise. As coisas não são assim, pessoas não têm posturas unilaterais de vida e mesmo os mais santos são capazes de cometer erros. Pois bem, o único "erro" do casal foi o de xeretar o computador do filho diante dos fatos suspeitos - lhes dando direito a isso -, e mesmo assim, se inicia um mimimi despropositado a respeito da culpa que lhes acomete em razão disso. SURREAL.
O bacana mesmo do livro e que garantiu que minha avaliação não fosse pior, foi a abordagem sobre os limites da privacidade nos dias de hoje. Você é testemunha da mais alta quebra nesse sentido por parte dos pais desse novo século, o que é empolgante mas apenas até o autor deixar isso em segundo plano porque afinal, parece que não é o que vende. Faltou uma discussão séria a respeito, envolvendo os jovens e os adultos.
Quanto à trama, é interessante e até certo ponto nos prende. Mas por todos esses defeitos, sua leitura virou um mártir e só se deu pela pena do dinheiro que gastei neste livro. Fica a dica pros que ainda estão se decidindo a respeito da aquisição.