_diogo_ 26/10/2009
Quando alguém escreve um livro de História, recebe a chance de passar uma imagem de todos os países e povos do mundo que ele achar que é a mais correta ou que simplesmente ele quiser. Sendo assim, um livro que fale da História pode acabar sendo muito pessoal, refletindo as coisas que o autor acredita e que não necessáriamente estão corretas. Com isso em mente, quando um livro de História Geral consegue fazer parte das listas dos mais vendidos no mundo todo, é bom darmos uma olhada atenta ao que se está passando pra toda essa gente que comprou o livro achando que encontrou a verdade e os porques do mundo que conhecemos hoje.
O livro "Uma breve História do Mundo", tem como objetivo contar de um modo geral toda a história humana registrada, desde os homens das cavernas até nós, os homens das "cavernas-apartamentos". Existem muitos livros desse tipo por aí. Muitos mesmo. Na escola as pessoas vêem mais de um como esse. Então o que esse livro tem de especial que fez com que ele vendesse tanto? Ele vem com uma caixa de cerveja grátis? Não, não vem.
Temos um autor talentoso em sua escrita, contanto numa narrativa moderna os fatos optando por falar de História vendo mais o mundo como um todo, contanto fatos tanto do Oriente quando do Ociedente. Mas apesar de toda essa modernidade e de toda essa intenção de fazer da História uma ciência menos focada no que aconteceu com as sociedades da Europa ocidental, o livro acaba sendo irresponsável justamente aonde não poderia ser. Em seu conteúdo, isso é, nas coisas que narra.
A narrativa sobre a pré-história, sobre o impacto das grandes navegações na maneira como as pessoas se alimentavam, ou se vestiam, por exemplo, são realmente muito boas, realmente dignas de um professor de quase 80 anos de idade, com pelo menos 50 de profissão. A irresponsabilidade surge na hora de falar sobre a revolução industrial e dos fatos que mais afetaram diretamente nosso mundo de hoje.
Nitidamente em alguns momentos o autor opta por não indicar responsáveis. Ao falar das Guerras Mundiais, ele não deixa claro quais países eram aliados e de que lado cada país estava, nem mesmo discute o que fez com que a guerra em si acontecesse. Ao falar da União Soviética, ou da Guerra Fria, ou da bomba atômica, ou outros assuntos mais recentes, percebe-se um tom diferente, que deixa de querer dizer o que houve e passa a querer dizer o que supostamente seja o bastante que devemos saber. Algo como a mamãe perguntando ao Joãozinho e a Mariazinha quem derrubou o leite no chão e eles respondendo "foi a gravidade".
Uma outra coisa que é estranha no livro é a presença da China sendo citada aqui e ali, nem sempre em um contexto. Fica parecendo que o autor simplesmente quis falar sobre o país porque supostamente ele será a nova potência e já é hoje um mercado muito importante para economia mundial. Sendo propositalmente irônico, podemos então concluir que o país está tão importante que deve ganhar lugar nos livros de história sempre que possível.
Algo que podemos pensar ao chegar nesse período do livro é que "se essa parte esta assim se importando mais em dizer o que se quer e não o que aconteceu, o que garante que todo o livro não seja assim também e agente não perceba porque conhecimentos da antiguidade não são tão fáceis de se obter?". A dúvida fica, mas tentando acreditar em um "sexto sentido", os períodos históricos mais antigos, anteriores a revolução industrial parecem ser mais verdadeiros, o que deixaria claro que o autor sabia o que estava fazendo, que seu livro tem sim uma postura política. Mas isso é só um palpite, claro.
Geoffrey Blainey nos tráz assim um livro de História Geral que vale a pena ser lido, mas lido com muito cuidado, absorvendo as informações não como uma referência, mas como placas de informações que apontam mais ou menos na direção certa. E a resposta de porque o livro foi um sucesso surge assim nítida: ele segue o modelo do "bom livro de história", não culpe ninguém que ainda viva, valorize e bajule quem for interessante bajular no momento e no que você for livre pra falar fale o que quiser, desde de que atenda aos bons costumes da época. Realmente uma pena.
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