Nathaniel.Figueire 09/12/2020Péssimo começo para uma série muito bem comentadaO Bom
Os pontos altos do livro são o conceito por detrás da civilização Culture, as megaships, os orbitals, a supertecnologia de inteligência artificial que envolve as Minds, a guerra entre a Culture e os Idirians... Enfim, o que chama a atenção na história é a ambientação, os elementos que tornam ela como pertencente ao gênero ficção científica.
O Mau
Vamos lembrar qual é a mola propulsora do enredo de "Consider Phlebas"? Uma Mind (uma espécie de IA avançada da Culture) em fase de testes é quase capturada pelos Idirans e se refugia em um "Planet of The Dead" guardado por uma civilização poderosíssima, os Dra'Azon. Nesse planeta, a única espécie com permissão para entrar são os Changers, humanos geneticamente modificados para serem metamorfos. Os Idirans possuem um espião Changer, Bora Horza Gobuchul, e enxergam nisso tudo a chance de capturar uma Mind e estudar a avançada tecnologia da Culture, civilização com a qual estão em guerra.
Tendo essa mola propulsora do enredo em mente, eu gostaria que alguém me explicasse o que exatamente capítulos como "Raid on the Temple of Light" ou aquele longo trecho dos canibais em Vavatch Orbital somam para a trama. São trechos chatos, penosos de ler... A parte dos canibais, então, achei completamente sem sentido!
Parece-me que o autor tentou dar para seu livro a estrutura narrativa da Odisseia: Horza precisa voltar para o planeta onde deixou um antigo amor (ele já viveu no tal planeta e tem um Changer lá que ele já namorou) para completar sua missão de espião e, nesse caminho, enfrenta diversas adversidades. Mas essa série de intempéries no caminho do protagonista são simplesmente enfadonhas, quase me fizeram desistir de ler. Aqui vale a velha regrinha de estrutura narrativa: o que não contribui para o todo, não faz parte do todo. Por esse critério, mais da metade do livro poderia facilmente ser cortada
E nos trechos finais? Toda aquela demora até um trem bater no outro, com dezenas de mudanças de perspectiva que fazem o leitor chegar no ponto de pensar "tá, deu, dane-se, que morra todo mundo e que se exploda essa história".
Para mim, o mais perigoso em um romance, não importa o gênero, é quando o desenvolvimento da narrativa chega em um ponto em que o leitor simplesmente não se importa mais com o desenlace da complicação nem do destino final do protagonista. "Consider Phlebas" sofre fortemente desse problema, o que leva ao meu próximo ponto.
O Feio
No geral, o desenvolvimento do personagens em toda a narrativa é muito fraco. Eles vão morrendo e o leitor simplesmente não dá a mínima, pois são personagens muito rasos e apagados.
Agora, alguém pode me apontar um protagonista de ficção científica mais sem sal do que esse Horza? O ódio dele contra as IA' s e a Culture é totalmente sem sentido! Ele é apresentado como uma pessoa racional que se alia a uma civilização fundamentalista em que ele vê diversas falhas simplesmente porque o outro lado é governado por máquinas? Mas que troço mal elaborado!
Parece-me mais que o protagonista está ali simplesmente para provar a superioridade civilizacional da Culture, um personagem que expõe as ideias nas quais o autor se opõe. Penso isso porque simplesmente não tem como concordar com o radicalismo xenofóbico dos Idirans, a não ser que você seja um trouxa como o Horza.
No fim, o protagonista tem a personalidade igual sua habilidade de metamorfo: é somente uma algo disforme, sem uma personalidade real e marcante.
Considerações finais
Por inúmeras resenhas no Youtube, na Amazon, no Reedit etc, vou insistir no segundo volume da série, "The player of the games". Todo mundo fala que" Consider Phlebas" não faz jus a série Culture, então vou dar mais uma chance para o autor e sua série.
site:
https://universoespeculativo.wordpress.com/2021/03/04/consider-phlebas-pessimo-comeco-para-uma-serie-muito-bem-comentada/