cbarbugiani 24/04/2022Inicialmente um começo maçante e repetitivo até o momento em que o leitor é abocanhado por sua narrativa constantemente questionadora. ? Será que uma vida adulta plena é aquela em que você faz um papel de figurante apenas seguindo os caminhos preestabelecidos pela sociedade, ou a felicidade está no desconhecido, nas escolhas que desafiam as expectativas alheias? Camryn Bennett não sabe o que quer e muito menos onde encontrar tal resposta, mas cansada de esperar por um futuro que não vem, ela toma a decisão de partir em busca do desconhecido e com ela, mergulhamos em uma narrativa vibrante que, para todo jovem que já adentrou na vida adulta, é um lembrete de onde estamos e de onde realmente queremos chegar.
De uma forma totalmente pessoal a busca de Cam por seu futuro tornou-se também a minha busca. Ela perdeu o namorado em um acidente fatal e se não bastasse, assistiu sua família desmoronar em mentiras. Presa em uma dor sem lágrimas ela vive uma vida que não é dela, uma vida pela qual ela não lutou ou muito menos escolheu viver. Depressão, escuridão, solidão, são infinitos termos que poderiam definir sua situação, contudo, não é a dor dessa personagem que dá ânimo a sua história, mas a decisão repentina de optar por viver, a escolha inesperada de sair em uma viagem sem rumo, não com a intenção de fugir dos seus problemas (ou pelo menos não apenas com esse objetivo), mas de solucioná-los com respostas para perguntas que ela nem mesmo foi capaz de formular. Nessa viagem a jovem desnuda o seu coração e finalmente permite sentir algo mais do que a dor da perda, mesmo que para isso precise contar com as artimanhas do destino.
E falando em destino, eis que aparece a figura de Andrew ? bonito, misterioso, livre e bem humorado ? a aparição dele no livro é certa (e óbvia) como um raio em um temporal, entretanto o papel dele na história vai além do que supomos e ler sobre isso é reconfortante, hipnotizante, apaixonante? Esse jovem também está viajando sem rumo. Apesar de saber para onde vai, ele não sabe o que encontrará, e como Cam, não quer fugir, mas pensar, respirar, se encontrar. Viajando juntos, territorialmente e emocionalmente, eles compartilham segredos, medos, paixões e seus mais profundos desejos. Somos envolvidos então em uma mistura de aventura libertadora, com muito rock clássico, desejo físico e um relacionamento de compreensão e auxílio mútuo palpável o suficiente para emocionar e incendiar o leitor. Aqui temos a realidade de ser um adulto, a verdade em ter medo do que ser e fazer do futuro, e ainda, a insegurança em seguir os chamados do coração diante dos conselhos da razão.
Acredito que é a direção tomada por Cam que une a história do leitor com a trama descrita. É fácil se apegar, se envolver, se emocionar e principalmente, sentir as pequenas doses de liberdade que são inseridas na vida de Cam. Imagine, ela vivia o reflexo de uma vida predeterminada pelos erros ou escolhas de outras pessoas e de repente, passa a experimentar dias livres de pré determinações sociais, dias pelos quais ela era a única responsável por ditar qual direção tomar. Essa sensação é tão forte que durante a leitura sentimos o frenesi vivenciado pela personagem e assim como ela, passamos a ser assaltados por um desejo de experimentar a vida, como uma vontade de tomar banho de chuva ou até mesmo de pegar um ônibus sem destino.
Além da intensa carga emocional, seja para o drama, seja para o amadurecimento e superação desses personagens, o livro tem um leve mistério que acabou com as minhas forças (fazia tempo que não me emocionava assim com um livro, ? leia-se chorava como uma boba) e claro, uma paixão arrebatadora. O enlace amoroso foi mais um dos fatores que me surpreendeu na trama, ele é forte e dominador de uma forma completamente compreensível; aqui finalmente temos o que esperamos de um ?bad romance? da vida real. Fora isso tem a escrita da autora: jovem, sentimental, envolvente, e uma narrativa bem explorada que varia sob o ponto de vista de Cam e de Andrew, de forma que cada um deles conta uma parte da história. E de quebra ainda temos infinitas menções musicais, cada uma delas fazendo parte da história de uma maneira tão contagiante que é impossível não se deixar levar.
Para concluir digo que o livro, até agora, é um dos meus favoritos do ano, que com ele refleti sobre minha vida e meus sonhos, que me deixei guiar e sonhar com os personagens e que, me emocionei tanto, que não vou ser capaz de esquecer essa obra tão cedo ? e muito menos o quero. Para os amantes de romance, eis uma obra que vale a pena ler e reler, são tantas emoções, conflitos e lições, que é impossível não indicar esse livro.