Quando soube que a Farol lançaria a trilogia fiquei extremamente feliz. Não pelos motivos de sempre, mas por além de ser uma distopia ser ambientada no Reino Unido e trazer um procedimento que levanta questionamentos sobre sua validade ética e sobre seus efeitos na população de um regime autoritário. Teri Terry nos apresenta um mundo rico, assustadoramente palpável, com uma trama repleta de tensão. Um thriller distópico instigante e inovador que vai mudar seu conceito sobre distopias.
Kyla está prestes a sair do hospital. Faz nove meses que foi reiniciada e tudo o que sabe sobre sua nova família são os nomes. Quando for liberada usará até os vinte um anos o Nivo, um aparelho feito para parecer um relógio de pulso, mas que marca o nível de seu humor. Abaixo de quatro ela terá problemas e se descer mais do que três seu corpo entrará em colapso até levar a morte. A obrigação de todo reiniciado é estar satisfeito, se integrar na comunidade e se dedicar aos estudos. No começo tudo é estranho e novo. Tudo o que Kyla sabe é que ama desenhar. Amy sua nova irmã também é uma reiniciada, o pai está sempre fora a trabalho e a mãe é filha do homem que deu o passo inicial do sistema dos reiniciados. Kyla aos poucos vai para o colégio e descobre as dificuldades de ser uma reiniciada. O preconceito, a constante observação e a terrível sensação de não poder confiar em ninguém. Seus pesadelos continuam a atormentar suas noites e com o passar do tempo Kyla começa a perceber que é diferente dos outros reiniciados. Questiona quando não deveria, seu humor é mais instável. Quando pessoas inocentes começam a ser levadas diante de seus olhos Kyla percebe que a situação é muito maior do que parece. Todo mundo está com medo, as pessoas evitam chamar qualquer tipo de atenção e muito menos ousa desafiar o sistema. Basta a pergunta errada para tudo vir abaixo. E Kyla está cheia delas...
A premissa é basicamente essa e digo isso porque seria impossível apresentar a trama e o enredo de maneira adequada sem escrever demais. Sem falar que essa é uma história que precisa ser descoberta. A história de Kyla e desse futuro tenebroso é sensacional. Teri Terry não só inovou ao conceber os conceitos da Coalizão Central, lugar que hoje conhecemos como Reino Unido, como também surpreendeu ao imprimir um ritmo e um rumo completamente diferente do visto em distopias.
É uma trama mais sutil, mais psicológica e principalmente mais sinistra e sufocante. A constante sensação de que Kyla está sem saída, o constante ar de ameaça, e de que algo ruim vai acontecer. Durante todo o tempo temos a sensação de que ela está sendo observada. A sensação é parecida 1984 de Orwell e o Grande Irmão. Um governo draconiano e uma ferramenta sinistra críveis que levantam na trama questionamentos sobre liberdade civil, expressão, consciência individual e os direitos básicos do cidadão como ser humano.
A narrativa em primeira pessoa torna as sensações ainda mais reais. Kyla é uma personagem interessante com uma história complexa, com uma visão que pouco a pouco vai se tornando mais perceptiva e aguçada para as pessoas ao seu redor. Uma voz narrativa instigante combinada com uma trama de opressão e corrupção que mescla sentimentos como impotência, a sensação de derrota e esperança ainda que oprimida. A ambiguidade que a autora conseguiu dar aos personagens no começo do livro é outro ponto que merece destaque assim como a evolução de cada um deles na trama. Foi bonito ver a relação dela com a mãe postiça se desenvolver e fiquei surpresa com a força que mãe dela demonstrou não só como pessoa, mas como personagem. Ainda não acredito que Kyla ter ido para a família que foi seja mera coincidência.
Leitura fluida, instigante e que leva o leitor a pensar no nosso próprio futuro e a escalada da violência que o mundo vive. Teri Terry construiu uma história forte, que transmite página a página sensações esmagadoras e sombrias, que vão do medo a injustiça. Uma distopia mais eficaz e assustadora, mais próxima dos grandes clássicos do gênero. Não vai agradar a todos, mas com toda certeza resgata a essência do gênero. O ambiente também me lembrou de V de Vingança. A edição da (...)
Termine o último parágrafo em: http://www.cultivandoaleitura.com/2013/04/resenha-reiniciados.html
Slated - Teri Terry
1- Reiniciados
2- Fractured
3- Sem Título Ainda