spoiler visualizarMarcos 07/11/2021
O Caldeirão e a Cruz
As Brumas de Avalon é uma saga épica arturiana, narrada a partir da visão das mulheres da história. A obra é dividida em 4 livros que conta principalmente a vida das protagonistas e seus percursos ideológicos. Pode se considerar como um conjunto de romances de formação, pois acompanha-se a maturidade de personagens como Morgana, desde a sua infância até a vida adulta.
Em A Senhora da Magia, tem-se Viviane, a Senhora do Lago e Sacerdotisa de Avalon. Após fazer o casamento de sua irmã Igraine com Uther Pendragon, rei recém-coroado da Bretanha, e após o nascimento de Arthur, Viviane leva sua sobrinha Morgana para Avalon para que ela se torne sacerdotisa.
A partir desse ponto, a história passa para o ponto de vista de Morgana, que vai crescendo de acordo com os ensinamentos de Viviane. Quando jovem Morgana se relaciona sentimentalmente com Lancelote, e logo também conhece Gwenhwyfar, que viria a ser sua rival no amor. E por fim, Arthur, que é coroado rei da Bretanha (Gamo-rei) primeiramente nos ritos do Povo Antigo. O Rito de Beltane e suas consequências encerram a primeira parte da história.
Na segunda parte, A Grande Rainha é centrada em Gwenhwyfar, que teve seu casamento arranjado com Arthur por ser vantajoso para seu pai e para o recém-coroado rei. Infelizmente, Gwenhwyfar já estava apaixonada por Lancelote, que correspondia com igual fervor e adoração, mas nada poderiam fazer quanto a esse amor proíbido.
Morgana que havia engravidado de Arthur nos ritos de Beltane, tornou-se mãe nas terras de sua tia Morgause, mantendo a gravidez e a criança em segredo. Morgause é uma personagem que vai demonstrando sorrateiramente sua ardilosidade e acaba influenciando muitas decisões na história, principalmente em relação ao filho de Morgana, Gwydion (também conhecido por Mordred).
Morgana tenta voltar à Avalon, mas não consegue passar pelas brumas, sendo obrigada a voltar para o reino de Arthur, em Camelot. Ela terá um papel fundamental para o desfecho dessa parte da história.
Arthur começa a ficar incomodado por não ter filhos e sua esposa, poesia vez, o culpa por não conceber, dizendo que foi por algum pecado dele ou por ele continuar seguindo a Deusa. Arthur cede as chantagens emocionais da esposa por ter bom coração, e acaba sacrificando seus princípios para satisfazê-la. Mesmo assim, Gwenhwyfar se torna amarga e rancorosa. Ela está presa em um casamento por conveniências. Ela não conseguia conceber, pois era estéril.
Começam também os problemas políticos: Arthur foi coroado rei na Ilha do Dragão e tinha prometido lealdade à Avalon, porém não cumpria, seguia apenas a Igreja Cristã. Gwenhwyfar era absurdamente contra Avalon, dizia que os rituais antigos eram atos demoníacos e queria que seu marido se tornasse um rei puramente cristão. Mas muitos aliados de Arthur acreditavam na Antiga Religião, e as novas atitudes de Arthur como cristão os desagradava. Secretamente, porém, Gwenhwyfar não recusaria um feitiço de Morgana que pudesse fazê-la engravidar. Deixando evidente a sua hipocrisia em relação a própria religião.
Em O Gamo-Rei, Gwydion, o filho de Morgana e Arthur ganha certo destaque. Ele é descoberto por Viviane e levado para ter ensinamentos druidas em Avalon. Arthur chega a tomar conhecimento de que tem um filho, ato que gera um grande ódio de Gwenhwyfar pela cunhada (descobre-se o incesto). Morgana, por sua vez, é enganada por Gwenhwyfar e acaba se casando com Uriens, quando queria mesmo se casar com o filho dele, Accolon. Nas terras de seu marido, a Deusa volta a se manifestar nela, demonstrando que ela é a verdadeira sacerdotisa da Deusa.
Viviane é morte cruelmente por um ato de vingança em plena corte, chocando a todos. Avalon ganha uma nova sacerdotisa, Niniane, filha do antigo Merlin, porém não tão forte quanto Morgana. Avalon começa a se perder cada vez mais entre as brumas, afastando-se do mundo externo, tão distante quanto o reino das fadas. Kevin, o Merlin atual, já previa essa queda e acha que é o ciclo natural das coisas. Já Morgana não aceita essa condição. Uma vez que Arthur se recusa a continuar seguindo a Deusa, ela começa a planejar contra o rei.
Finalmente a última parte, O Prisioneiro no Carvalho, chega o desfecho trágico para Camelot. O Cristianismo começa a aumentar e as pessoas ficam cada vez mais conservadoras. Morgana começa a planejar com seu amante, Accolon, para que o mesmo reine no lugar de Arthur, para que ela se torne rainha e que Avalon e a Antiga Religião voltassem a predominar na Bretanha, sem a presença do Cristianismo. Com seu plano fracassado, ela é obrigada a voltar para Avalon como fugitiva. Ela treina Nimue, filha de Lancelote, para ser sacerdotisa e elabora um plano para castigar Kevin, o Merlin, que traiu Avalon e agora está a serviço de Arthur e dos cristãos.
Além disso, Gwydion, também cobiçando o trono, torna-se reconhecido por Mordred, se apresenta na corte de Arthur e passa a integrar a Távola Redonda. Em seus planos ele começa se livrando da rainha. Arma um flagrante entre os amantes Gwenhwyfar e Lancelote, que forçaria um julgamento, e culminaria na morte de ambos. Esse plano, porém, fracassa com a fuga dos amantes. Gwen acaba em um convento e Lancelote pede perdão a Arthur.
Há ainda o confronto de Arthur e Mordred, visto por Morgana pela visão e, finalmente, o destino de Morgana em Avalon.
As personagens principais (femininas) são singulares e complexas. Morgana é definitivamente a mais intrigante. A construção de seu caráter é bem desenvolvida, mostrando as muitas e diversas fases e faces de Morgana. Ela que passa da sacerdotisa bondosa a representante vingativa da Deusa. Morgana perde-se muitas vezes na sua crença, devido a suas fragilidades humanas. Chegando a duvidar de se mesma como sendo merecedora de ser a Senhora do Lago. Enfim, as personagens são fascinantes e os elementos mais significativos dessa história.
As Brumas de Avalon é uma saga intensa, de força e de perspicácia de mulheres que buscam por seus ideais, suas crenças, e principalmente, por serem livres e amadas. Marion Zimmer Bradley conseguiu trazer aos seus leitores um outro lado da antiga lenda de Artur. É algo inventivo e reconhecido por seu primor, um deleite adentrar um universo de magia, guerras e mistérios.