KeniaCandido 19/04/2024
Sem Palavras...
Minha experiência com a história Precisamos Falar Sobre o Kevin começou através do filme. Já sabia da existência do livro, mas ainda não tinha adquirido. 99% dos livros que estão na minha estante e contém adaptações, eu conheci a história através dos filmes e depois eu fui conquistar a versão literária depois. Sei perfeitamente que, os livros costumam ser melhores e isso é fato inquestionável, no entanto ler a versão literária depois do foi nunca me atrapalhou. Estou explicando este detalhe, porque ao assistir Precisamos Falar Sobre o Kevin, eu fiquei com várias perguntas na mente e ao conhecer a versão literária, praticamente as respostas foram respondidas.
Em Precisamos falar sobre o Kevin, o leitor embarca no enredo já sabendo que Kevin Khatchadourian, um adolescente com quase 16 anos, é autor de uma chacina onde matou sete colegas, uma professora e um funcionário no ginásio de um ótimo colégio que estudava em Nova York. Essa informação não é spoiler, pois está na sinopse do livro e Eva Khatchadourian, mãe de Kevin, como ato de desabafo e confissão, escreve uma série de cartas ao ex-marido Franklin, para relembrar vários momentos de sua vida com o marido e especialmente com Kevin. Além de recordar sua trajetória com o filho, Eva também confidência suas visitas regularmente na prisão para menores, onde Kevin está detido após o crime.
Nas primeiras cartas, Eva deixou claro que nunca queria ter filhos e também, não escondia essa decisão à Franklin. Para Eva, ter filhos significava perder várias oportunidades que sua vida tinha para oferecer na área profissional onde tinha muito orgulho em administrar sua empresa especializada em indicar os restaurantes e as hospedagens mais baratas ao redor do mundo e Eva adorava suas incríveis viagens pelo exterior. Fazia pelo menos cinco viagens ao ano. Ao contrário de Eva, Franklin era um verdadeiro patriota. Amava os Estados Unidos, adorava as tradições americanas e não escondia a vontade de ter um filho para carregar seu sobrenome com muito orgulho.
Precisamos Falar Sobre o Kevin é um livro bastante doloroso, forte e pode ter certeza, é um livro para incomodar algumas pessoas, mas acho que deve ser lido em algum momento da vida. O leitor tem a oportunidade de vivenciar as memórias de Eva enquanto vários assuntos importantes são abordados. Assuntos como amor, amizade, consumismo, casamento, família, violência, solidão, arrependimento, culpa e principalmente, maternidade. Precisamos Falar Sobre o Kevin foi minha estreia com a escrita da Lionel Shriver e realmente desejo ler mais livros dela. Apesar da leitura ter sido lenta comigo, a narrativa foi muito profunda e questionadora. Várias vezes, eu precisei fechar o livro e dar uma pausa na leitura, mesmo com ela fluindo bem, para refletir o trecho que foi lido.
Em todas as cartas, o leitor consegue sentir como Eva tornou-se uma mulher destroçada por causa dos acontecimentos provocados pelo Kevin por vários anos. Depois do crime, Eva precisou enfrentar a falta de empatia e diversos discursos de ódio e crueldade das demais pessoas, essencialmente das pessoas que perderam seus entes queridos. Será que Eva também precisa ser culpada pela falta de empatia de Kevin, porque ela não sentiu aquela alegria de ser mãe como as pessoas mencionaram para ela? Será que a negligente e a ausência de afeto da mãe provocou ou nutriu o sentimento de ódio em Kevin e foi transformado em psicopatia desde a infância? Em cada momento relembrado por Eva, eu tive respostas conclusivas e também, manifestava outras perguntas na minha mente.
O que realmente não pode negar e a narrativa de Eva vai demonstrando ao leitor é que Kevin é muito mais parecido com Eva do que com Franklin. Kevin percebeu desde criança que não precisava fingir nenhum tipo de comportamento com a mãe. Ambos eram transparentes enquanto Franklin, não conhecia de fato, o próprio filho. Franklin não conseguiu enxergar os acontecimentos dentro de casa. Ele era um pai cego e não percebeu que Kevin era vingativo, irônico, antissocial e provocativo. Nós leitores, conseguimos enxergar claramente quem Kevin realmente é, os momentos onde Franklin deveria ter ficado ao lado de Eva e simplesmente, ficou do lado do Kevin. Esse comportamento de Franklin também ajudou corromper a personalidade de Kevin durante os anos ao ponto do adolescente abalar a sociedade com uma tragédia cruel?
Posso dizer que a leitura de Precisamos Falar Sobre o Kevin, não foi fácil. É aquele tipo de história que pode ser interpretada de maneiras diferentes por cada leitor que lê. Enfim, é um livro surpreendente e o final deixa uma sensação que tomei um soco no estômago. Então, só me resta recomendar Precisamos Falar Sobre o Kevin para todos os leitor. É uma história forte, mas vale a pena e com certeza, a escrita de Lionel é brilhante e brinca com a nossa mente ao entregar várias interpretações.
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