sasapotter 20/04/2024
Um esboço fidedigno da maternidade
Precisamos falar sobre o Kevin consagrou-se como uma das obras mais incômodas, complexas e fantásticas que já obtive o prazer de debruçar-me sobre.
O livro é narrado em formato de correspondências enviadas pela mãe de Kevin - Eva - a seu esposo. A progenitora realiza relatos excepcionalmente sufocantes, dubitáveis, e sobretudo comoventes. Eva confidência ocorrências pessoais, como o nascimento de seu filho primogênito até o instante em que ele encontra-se sentenciado e encarcerado pela execução de uma bárbara chacina ocorrida em sua escola.
Eva khatchadourian revela-se ser uma mulher independente, espirituosa e detentora de opiniões fortemente nítidas e defendidas. A moçoila jamais demonstrara uma inclinação favorável a maternidade, tanto que somente cogitara a probabilidade de transformar-se em mãe ao conhecer Franklin, seu marido. Para agradá-lo, optara abruptamente em gerar sua prole, porém sua gravidez fora firmada por sentimentos conflitantes e insatisfeitos, porquanto precisara ausentar-se da administração de sua empresa de viagens.
Kevin khatchadourian, concisamente, poderia ser descrito como uma persona taciturna, misteriosa e apática. Entretanto, o garoto porta uma nublagem abastada de indagações irrequietas que ressoam incessantemente, perdurando até o desfecho da trama. Por quais razões realizara o massacre? Negligência familiar? Descontentamento interno? Crueldade fomentada pela dispensa carinhosa de sua mãe?
Francamente, ao analisar as matizes internalizadas de Kevin, tornei-me extremamente convicta de que ele trajava um vazio tedioso e, por tal razão, sucumbido por um frenesi sedento em sentir-se verdadeiramente vivo e real, dizimara outras pessoas.
A relação discutível entre Kevin e Eva é desconfortável, claustrofóbica e crua. Vislumbro a indiferença conjuntamente compartilhada como uma similaridade palpável que ambos detinham. É demasiado irrisório como o par, cegados pela necessidade em retratar suas falhas adversas, se assemelhavam - no senso de superioridade em detrimento de indivíduos alheios - profusamente. Emoções cinzentas e turvas são nutridas, medo e ressentimento dominam o vínculo estabelecido desta mãe, ávida em perceber as obscuridades que sondam seu fruto e deprimida por sua incapacidade em conectar-se com seu filho, implacável e lacônico.
Comovera-me a maneira detalhada e realista em que a enxurrada de expectativas e a rachadura delas em torno da maternidade fora esboçada. O questionamento se os pais - especificamente a genitora - devem ser martirizados pelos atos cruéis dos filhos, continuará residindo em minha mente por longos períodos.
Ademais, este livro irrompe as entranhas em um esganiço lancinante, resseca o compadecimento, todavia aconchega o seio afável ao reconhecimento de que no fim, desconsiderando as nuances duradouras e os pensamentos odiosos e criticaveis, Eva e Kevin amavam-se, descomunal ou não, eles se amavam.