Fera d

Fera d'alma Herta Müller




Resenhas - Fera d'alma


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Alê | @alexandrejjr 12/10/2020

A metáfora como fuga

A leitura de "Fera d'alma" me proporcionou uma sensação de estranheza que eu ainda não havia sentido. O texto de Herta Müller consegue, em poucas linhas e parágrafos, ser poético e cru ao mesmo tempo. O leitor sente que muita emoção foi colocada entre aquelas palavras cuidadosamente escolhidas, mesmo que em um primeiro momento não consiga perceber.

O livro é interessante por alguns bons motivos. O primeiro e mais óbvio consiste na história em si, que se passa na Romênia do ditador Nicolae Ceaușescu, uma ditadura ao modo europeu. Portanto, para quem gosta de política, o tema está presente com e sem sutilezas na narrativa. O segundo ponto que merece atenção é o fator autobiográfico que está presente em todas as ficções de Herta Müller. No caso deste livro, uma de suas personagens possui, assim como a escritora, um pai romeno de origem alemã que integrou a Schutzstaffel da Alemanha Nazista, organização paramilitar popularmente conhecida como SS. Sentiram o drama, né? Pois é.

A narração, recheada de desconfianças, é permeada por incertezas e tragédias da primeira à última página. Devo confessar que foi uma leitura que exigiu maior atenção e comprometimento, não agradando tanto quanto esperado seu resultado final. Um elogio à parte deve ser feito à tradutora Claudia Abeling. Posso apenas agradecer por ela aceitar traduzir um trabalho que, leigo como sou no quesito tradução, imagino não ter sido fácil.

É um livro composto a partir de um ambiente cercado de dor e sofrimento que usa poeticamente a metáfora como fuga. Vale conhecer a vencedora de 2009 do sempre polêmico Prêmio Nobel de Literatura.
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Bruna 01/06/2021

Fera D?Alma
A escrita é tão poética e a história me lembrou tanto a situação do Brasil atual que senti uma mistura de conforto e tristeza?
moraes_psi 08/04/2022minha estante
Atual não vai ser, né? A Herta Muller trata de um totalitarismo comunista. Pode se dizer qualquer coisa do atual governo brasileiro, mas tudo que não é, é comunista. Isso te garanto hehehe


Alê | @alexandrejjr 12/07/2022minha estante
Acho que tu não entendesse o comentário da Bruna, Fernando...


moraes_psi 11/09/2022minha estante
Acho que entendi sim @alexandrejjr. Foi comentário de delírio de um suposto mundo fascista brasileiro, inexistente, em seu mundo de Nárnia.




Nat 08/12/2020

^^ Pilha de Leitura ^^
O livro se passa em um período de ditatura comunista na Romênia. Após a morte de uma mulher (encenada como suicídio), um grupo de amigos passa a ver vigiado pelo sistema. Enviados para trabalho em localidades diferentes, eles tentam manter a comunicação da melhor forma possível. Achei muito interessante o fato de eles colocarem um fio de cabelo em cada carta, assim saberiam se a correspondência havia ou não sido aberta/checada. Gosto de histórias que envolvem sistemas políticos, é ótimo para se fazer paralelos entre diferentes experiências. A própria autora é filha de um soldado nazista que foi exilado na Romênia. Achei a escrita da Herta um tanto filosófica, gostei bastante.

site: https://www.youtube.com/c/PilhadeLeituradaNat
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Valério 04/09/2017

Denso e sombrio
Herta Müller traz em seu livro a vida dramática, carregada e tensa de um grupo de jovens que vivem na ditadura comunista romena.
Uma escrita repleta de sentimento e ressentimento. Arrepiante sequer imaginar o mundo vivendo novamente o horror comunista a que tantos foram submetidos e pelo qual tantos sofreram. Ou qualquer outro tipo de ditadura, sonho de tantos políticos atuais, que são apoiados por muitos.
Um livro denso, que nos ambienta em um mundo tão diferente do nosso.
Leitura carregada, indicada para quem já possui hábito e facilidade para leitura. Mas que vale muito a pena.
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Ingrit 30/03/2015

Nesse livro, Herta faz um relato, em primeira pessoa, da vida de quatro jovens em uma Romênia ditatorial. A escrita da autora é fantástica! Através de seu texto ela nos passa os sentimentos vividos por esses jovens, suas esperanças, frustrações, sua impotência diante de um poder tão opressor, o medo que sentem a todo o tempo.
A narradora e seus três amigos são jovens universitários pobres, que se conhecem após a morte de uma menina da faculdade. Apesar de não serem propriamente ativos na luta contra a ditadura, são perseguidos e humilhados constantemente. Suas famílias acabam passando por interrogatórios constantemente também.
A autora usa e abusa de metáforas e recursos literários que nos transmitem o ambiente "claustrofóbico" e opressor vivido pelos personagens. Adorei! Pretendo reler, acredito ter muito mais a se apreender desse texto!
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Higor151 22/09/2019

Sobre pressão - e opressão - psicológica em regimes totalitários
Há anos eu esperava pelo nomeado melhor livro e Herta Müller, que lá fora era conhecido como “A terra das ameixas verdes”. O livro recebera prêmios fora do país, catapultando a autora para níveis internacionais e inimagináveis, dando visibilidade para que ela ganhasse o Nobel logo mais, em 2009. Logo, eu queria conhece-lo, afinal, minha experiência com a ficção de Müller não era das melhores, e eu precisava, de alguma forma, ou em algum livro, acertar as contas: passar a detestar sua ficção e amar seus ensaios, ou reverter o quadro.

E não é que o livro estava na minha estante há anos? Traduzido com relativo atraso como ‘Fera d’alma’, eu demorei anos, por negligencia, é preciso dizer, para saciar o que eu tanto ansiava. Temos aqui, de fato, o melhor livro de Müller.

Entre metáforas e sem uma cronologia, acompanhamos a vida de um grupo de quatro jovens universitários no período autoritário comunista que assolou a Romênia, especificamente durante o regime de Nicolae Ceaușescu, entre 1965 e 1989.

Todo começa com Lola, uma garota a quem todos observam sua graciosidade (e ‘vulgaridade’), mas sem saber que ela relata, em um diário como válvula de escape, tudo o que pensa sobre o regime opressor. Bissexual, indiferente a padrões e comentários, e acusada de trair o partido e aparece morta. A narradora, então, passa a compartilhar com os amigos o diário de Lola, e o grupo passa a se apegar a ele, a ter a jovem morta como uma inspiração para ser contrários ao regime opressor.

Embora aborde um tema relativamente comum, o de um regime totalitário, o que se sobrepõe na obra de Müller é a opressão psicológica, e não física. É a sensação de desconfiança, de estar sendo vigiados 24 horas por dia que assola os personagens e o leitor. Essa prisão sufoca, machuca mais que violência.

O grupo precisa esconder livros, fotos, assim como criar enigmas para escrever cartas sem ser descobertos: A palavra tesourinha de unha em uma rase quando alguém tiver sido interrogado, assim como a palavra sapatos para quem fora inspecionado. Em caso de ameaças de morte apenas uma vírgula. E sempre colocar um fio de cabelo na carta. Se não houver nenhum, eles saberiam que foi aberta.

Menos alegórica que em, por exemplo, Depressões, seu primeiro livro, Müller ainda utiliza o recurso para trazer poesia em meio ao caos. Os jovens, de universitários, passam a viver na capital, em empregos impostos pelo sistema, que até nisso mostra quem manda, e o que acontece quando não andam na linha. Sem uma sequer gota de sangue, mas com os nervos a flor da pele, temendo o pior.

Sufocante, ‘Fera d’alma’ é a clara justificativa do prêmio Nobel em laureá-la: dado voz aos despossuídos, à minoria, Müller não hesita em expor ao mundo as atrocidades de uma sociedade totalitária, mesmo que não seja compreendida, e às vezes até tentem silenciá-la.

Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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Marina 22/07/2023

Herta nos conta como era viver durante o período de ditadura na Romênia, sob Nicolae Ceaucescu, mas poderia ser o relato de qualquer outro país vivendo uma ditadura. O autoritarismo, seja ele de esquerda ou direita, é sempre muito parecido em seus mecanismos de opressão.

Ela expõe o que é viver sem liberdade, em constante vigilância, temendo represálias a qualquer momento. Parte do terror infligido pelo Estado é não poder confiar nas pessoas à sua volta. A qualquer momento, alguém que se considerava um amigo pode te trair, não por canalhice, mas por medo. Fica difícil também saber se as mortes que acontecem são pessoas que tiraram a própria vida, desiludidas com a falta de esperança, ou assassinatos políticos, encenados como suicídio para livrar o governo.

No início achei a leitura difícil, a escrita de Herta não é muito objetiva, ela dá voltas, usa metáforas. Creio que pode ser o resultado de ter crescido sob uma ditadura, de ter que usar subterfúgios para dizer o que queria sem ser pega e castigada. Depois de um tempo, no entanto, me acostumei e pude aproveitar a leitura.
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Luís Henrique 20/05/2015minha estante
Suas palavras, Aguinaldo, resumiram muito bem o que senti ao ler este livro. Como é possível ter existido, e ainda existir, e ainda ter gente que acha que isso é uma saída?
A tradução brasileira é muito boa. Uma narrativa meio poética.




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