Psychobooks 18/06/2013
www.psychobooks.com.br
- Quem é o autor?
Essa pergunta é bem pertinente antes de começar a ler um livro cujo tema principal é uma investigação policial e um posterior julgamento.
O autor tem base para contar sua história? Haverá verossimilhança no caso? A investigação, bem como o julgamento terão base jurídica?
Isso é MUITO importante na hora de se escolher um BOM livro no tema para ler. E sem mais enrolação: Michael Connelly preenche todos os requisitos e vai além, com uma lista gigantesca de livros já publicados. Agora vamos à:
- Premissa
Mickey Haller é um advogado de defesa que teve que se afastar da área criminal, pois, com a crise imobiliária que seu país atravessa, ninguém tem dinheiro para bancar uma boa defesa.
Aproveitando a onda de processos contra bancos, Michey se especializa na área imobiliária e passa a defender pessoas que estão prestes a perder suas casas para os bancos por falta de pagamento das hipotecas. O advogado já está há alguns meses na área e conseguiu uma certa fama no ramo. Mas seu coração continua com a área criminal, até que uma de suas clientes, Lisa Trammel, é presa sob a acusação de assassinato de um banqueiro envolvido no processo para retomar sua casa. Michey fica então sob os holofotes e se vê em meio ao caso mais famoso e defendendo uma mulher que já é conhecida na mídia por sua ferrenha luta contra os abusos bancários.
Apresentada a trama do livro, vamos à:
- Narrativa - a.k.a "Balé jurídico"
Você gosta de séries policiais que terminam em julgamento? Se sua resposta foi um sonoro "SIM!", esse livro foi feito na medida para você.
Michael Connelly nos apresenta o caso de Lisa Trammel desde sua prisão até o ponto final de seu julgamento.
A narrativa é feita em primeira pessoa, sob a visão de Mickey, mas não pense que por conta disso o enredo fique amarrado. Pelo contrário. Mickey, como um bom advogado de defesa, é superatento a tudo que ocorre em seu redor e a visão em primeira pessoa, é usada sagazmente pelo autor para que as ferramentas jurídicas usadas pelo protagonistas sejam explicadas de forma clara ao leitor sem que a situação pareça forçada a nossos olhos. Quando uma lei é revista, quando uma situação é ponderada, quando uma manobra jurídica é utilizada, o autor, através dos pensamentos de Mickey, nos apresenta todos os cenários e seus possíveis desdobramentos.
O livro é dividido em quatro partes, que são como atos de uma peça. Connelly dividiu seu texto de uma forma que vamos acrescentando fatos aos que já temos acumulados de forma clara e objetiva, ao ponto de podermos chegar às nossas próprias conclusões sobre o julgamento em si.
Em dado momento, o protagonista cita a música "Bolero", de Ravel e a toma como exemplo para a construção da apresentação do caso da promotoria, onde tudo é orquestrado para as notas - no caso do julgamento, as provas de acusação - sejam tocadas de forma a irem se acumulando até atingirem o clímax.
Tomo aqui emprestado essa comparação. O texto de Connelly corre exatamente dessa forma. As notas vão subindo de volume, a narrativa vai se avolumando, até que o autor apresenta seu clímax, deixando o leitor de queixo caído.
- Construção dos personagens e apresentação do plano de fundo
Mas antes de me aprofundar na narrativa, quero deixar claro que esse é o quarto livro da série, isso por si só causa uma certa estranheza com a vida pessoal dos personagens que estão na série toda. Por exemplo, Mickey revela várias situações que aconteceram nos livros anteriores e inclusive dá um baita spoiler da série do investigador "Harry Bosch", que trabalhou nos dois primeiros livros juntamente com Mickey.
Não me senti muito perdida com o plano de fundo dessa série, já que o personagem revisita alguns acontecimentos e explica porque está na situação que está, mas com certeza me sentiria mais confortável com todos eles se tivesse acompanhado os outros números da série.
- Vale a pena, Alba?
Foi minha melhor leitura de maio! Vale MUITO a pena. Sem sombra de dúvidas um dos melhores livros de julgamento que já li. O final é simplesmente inesperado e sensacional!
A leitura é fluída e o protagonista nos conquista com sua sagacidade e sua personalidade provocativa e falha. Ele é uma pessoa real.
Super-recomendo!
"Tudo eram estratégias e estratagemas nessa altura do jogo e eu tinha de admitir que essa era a melhor parte de um julgamento. Os movimentos executados fora do tribunal eram sempre mais significativos do que os que eram feitos dentro. Estes eram todos ensaiados e coreografados. Eu preferia a improvisação feito longe da sala do tribunal."