A Psicanálise dos Contos de Fadas

A Psicanálise dos Contos de Fadas Bruno Bettelheim




Resenhas - A Psicanálise dos Contos de Fadas


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martinho.bia 09/03/2024

O conteúdo do livro têm muitos conceitos e pressupostos da psicologia e psicanálise se o leitor não tiver conhecimento sobre o assunto a leitura fica muito massante e enfadonho. Porém, é um livro direcionado a todos que têm interesse na abordagem da psicologia infantil.
Fábbio Xavier 13/03/2024minha estante
Deve ser top




Tha_Reis 09/03/2024

Relevante mas com ressalvas
É uma leitura bastante pertinente e interessante, recomendável para quem atua nas áreas da psicologia e pedagogia, porém tem lá seus entraves teóricos.

O maior deles é o fato do autor querer a todo custo forçar referências psicanalíticas em todos os contos, com base em argumentos muitas vezes forçados e aleatórios.

Algumas escolhas de contos simplesmente não combinaram com os tópicos relacionados pelo autor. E nos momentos em que a psicanálise não deu conta, o autor pegou referências a crenças e folclore pagãos, fugindo bastante do viés da psicanálise.

Outro entrave é que o autor pegou tantas versões de um mesmo conto para evocar tantas referências que, no fim das contas, acabou fugindo da essência do próprio conto abordado.

E o fato do autor criticar a Disney por alterar os contos ao mesmo tempo em que ele próprio escolhe qual das versões é mais conveniente à análise, me soou muito hipócrita.

Por fim, achei muito limitante a análise psicanalítica se resumir a Freud. O autor insiste numa leitura das fases do desenvolvimento infantil e dos conflitos edípicos em todos os contos, ignorando o potencial dos arquétipos e símbolos que poderiam ser explorados sob o viés da psicanálise de Jung, por exemplo.
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ju sena 04/03/2024

Sou iniciante na psicanálise...
Tô começando a estudar sobre psicanálise e confesso que não curti muito, li com viés científico mesmo e talvez eu não queira me aprofundar muito nesse assunto... falar sobre os reflexos dos contos de fada no subconsciente infantil foi meio tenso pra mim, principalmente a análise feita de chapéuzinho vermelho... acho que ainda preciso estudar mais sobre o básico da psicanálise e psicopedagogia também pra poder fazer um melhor proveito desse livro... foi uma leitura bem densa pra mim... eu li na disciplina
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Thay262 22/02/2024

É um livro muito bom para estudar a psicanálise conceitualmente, porém é um péssimo livro para entender a prática.
Isso se dá porque, como o próprio autor pontuou, é o paciente que deve atribuir um sentido a estória (e não o analista/terapeuta/psicólogo/psicanalista).

Desta forma, o livro pode ser interessante para entender conceitos da psicanálise porque o leitor entrará em contato com eles e buscará no Google ou em seus livros acadêmicos sobre o assunto para melhor entende-los, por outro lado o autor cai no erro de querer atribuir significado para qualquer coisinha nos Contos de Fada, quando em uma técnica de análise real deveria ser a criança que dá esse significado, da forma exclusivamente dela (um exemplo do autor, aquele menino que se fixou na estória da Rapunzel vendo a maneira como ela usou os cabelos para solucionar um problema, daí ele tirou como lição que também ele poderia usar a si mesmo e elementos de seu próprio eu para resolver/sair de situações complicadas em sua vida).

Ou seja, não importa quais significados o autor/psicanalista dá para cada um dos contos, numa análise real o importante é o significado dado pelo paciente, e fim de papo. Isso se dá porque a análise é do paciente, não do psicanalista (nesse livro vemos a análise de um psicanalista sobre os contos, daí é ele quem está atribuindo significado).
Porém numa análise real é o paciente que reflete e atribuí significado para suas ações, desejos e pensamentos, não o psicanalista. Assim tiro estrelas do livro, pois achei que não deixou isso claro o suficiente.

O livro pode confundir pessoas que não estão habituadas com a psicanálise, seja de forma técnica/teórica, seja de forma prática. Por isso não indico para pais ou educadores, que poderão erroneamente tomar partes do livro como "regras absolutas". Por outro lado, se você for psicólogo, psicanalista, estudante ou entusiasta desses temas, o livro pode agradar; desde que você entenda oque falei nos primeiros parágrafos.

Mas o livro não é de todo ruim, como eu disse, é ótimo para estudar conceitos chaves da psicanálise (pois ao lê-los aqui terá de buscar/procurar maior aprofundamento neles). E também vai de encontro a ideias pertinentes sobre o imaginário infantil (mas que também pode ser ampliado para adolescentes e adultos).

Eu gostei bastante da maneira como o autor pontua como é importante a criança entrar em contato com temas como velhice e finitude (morte). Ou temas como ansiedade de separação, luto, rivalidade, bem e mau. Mostrando-nos como os contos trazem justamente essas temáticas a criança.

Hoje em dia há muitos pais que "super-protegem" os filhos e os privam desses temas, porém criança cresce, e esses temas fazem parte da vida. O autor trás a importância de não privar a criança desses temas, mas de deixa-los aprender e saber lidar com eles. Os Contos de Fada sempre abordam temas como esses, e é por isso que o autor diz que criança tem propensão a se interessar neles (mostrando que não é a criança que teme esses assuntos, mas sim o responsável da criança que teme não saber aborda-los com a criança! Vendo isso, quem você acha que precisa de análise? Adultos que não sabem lidar bem com esses temas, não saberão aborda-los, e privarão a criança deles, de modo a criar novos adultos que não sabem lidar com esses temas).

Então vemos que essas estória ajudam a criança a entender tais conceitos e como agir frente a eles, lhes ensinam resiliência e mecanismos de enfrentamento da situação, lhes ensinam que o mundo não é "uma fábrica de realização de sonhos" e que há situações ruins e pessoas más, mas que apesar de tudo ela ainda pode enfrentar isso tudo e sair vitoriosa como fez o protagonista da estória. Por isso as crianças amam Contos de Fadas. Mas não só eles, veja como muitas outras ficções também ensinam tais coisas para crianças e adolescentes!

A divisão muito sistemática entre "bem e mal" nos contos também ensina a criança regras morais, porque a criança se espelha no protagonista. Daí o autor explica porque uma estória infantil precisa personificar de forma objetiva "o bem" e "o mau", para não deixar dúvidas.
Achei interessante também a pontuação do livro em dizer que todos nós, inclusive as crianças, temos propensão a desejos e sentimentos "bons e maus", e que tais estórias ajudam a discernir melhor sobre tais condutas, quando olhamos os personagens e perguntamos "com quem quero parecer?". Então embora as estória infantis personifique de forma muito óbvia "quem é bom" e quem "é ruim" naquela trama, na realidade essa divisão é puramente para fins de instruir a criança quanto a conduta esperada dela, mas que na realidade todos nós estamos propensos a pensamentos/desejos de cunho positivos ou negativos, o importante é saber lidar com eles. Oque as Estórias de Fadas ensinam com perfeição.

O livro não aborda, mas isso também me fez pensar em como adolescentes estão propensos a gostar mais de Anti-Heróis, justamente porque estão nessa fase de rompimento com ideais familiares e busca pelos próprios ideais, passando por mudanças psíquicas e físicas muito grandes, sentimentos a flor da pele e rebeldia é esperado, daí o adolescente pode ver nos Anti-Heróis uma maior complexidade moral e intelectual, mais próximo do que um ser humano é verdadeiramente do que uma caricatura entre "bem e mau", que vêem nos "personagens bonzinhos" das estórias infantis. Porque nós não somos bonzinhos o tempo todo, e mesmo quando somos, podemos ter o desejo de não ser. E isso é oque adolescentes vêem nos Anti-Heróis. Talvez isso explique essa adesão adolescente a eles, mas isso é só uma fase.
Nós adultos também somos assim, podemos achar as estórias infantis "bobas" justamente porque já passamos da fase de precisar dessa divisão muito óbvia entre bem e mau. Já sabemos moralmente oque é certo e errado, bem como já sabemos que temos desejos e sentimentos diversos dentro de nós, e que cabe a nós media-los adequadamente.

E de todo modo, embora o livro fale mais de Contos de Fadas e do impacto disso no psiquismo infantil, podemos lembrar que até adultos estão propensos a gostar de personagens e se espelhar neles, tal como vemos adultos apaixonados por HQs ou filmes de heróis ou ficção e fantasia. Então estórias, sejam elas de fada ou não, tem muita relevância na vida infantil, tanto quanto na adulta. Afinal, por que lemos? Por que estamos aqui no Skoob consumindo diversas tramas, personagens e assuntos? O que aprendemos com tantos livros e personagens? Com quais temas e tipos de personagens nos identificamos mais e por quê?

Então no fim, a maior lição que tirei desse livro é como cada um, seja criança, adolescente ou adulto, se espelha em estórias fictícias, qual significado atribui pra elas e seus personagens, e qual o impacto, quais lições, disso na vida delas.

site: entulhandoideiasdiversas.blogspot.com/
Flávia Menezes 22/02/2024minha estante
Esse livro foi a base da minha monografia da pós-graduação que fiz. E Bettelheim tem uma escrita tão gostosa, tecendo de uma forma tão incrível sobre o gênero, que só abrilhanta ainda mais a literatura dos contos de fadas.


Thay262 22/02/2024minha estante
Jura?? Agora fiquei com vontade de ler sua monografia! Eu achei o texto muito bom, com a ótica psicanalítica freudiana. Porém, meu interesse no livro de deu porque um professor disse ter dado/indicado esse livro para os pais que atendia. Daí comecei a leitura acreditando que seria algo mais genérico, porém me surpreendi em ver muito da base da psicanálise ali, daí não sei se indicaria o livro para pais e educadores, a menos que estes já tivessem algum conhecimento prévio de psicanálise. Tem coisas no livro que acho passível de entendimento sem aprofundamento, mas outras não.


Flávia Menezes 22/02/2024minha estante
Eu concordo plenamente com você. Acho que indicar para pais é confuso, porque acho profundo demais, até mesmo para quem tem pouco conhecimento dos simbolismos e seus efeitos na literatura. Acho que é válido quando se explica?quando são indicadas essas oficinas de contação de histórias, que expliquem essa prática oral e o que ela proporciona na vida das crianças (e de todos nós). Concordo com a sua visão, Anne! E acho que seu jeito de ver ajuda mais do que simplesmente entregar um material desses sem preparo algum. ?
Obs.: e olha que foi uma monografia na área da Psicologia das Organizações? ?. Mas me diverti muito fazendo. Foi uma ótima experiência. Ainda te mostro essa? ??


Thay262 22/02/2024minha estante
De fato, seria super edificante ler esse livro em uma oficina de leitura, e/ou uma leitura conjunta. Pois é um livro realmente muito bom, trás muita coisa excelente para debater e refletir, daí qualquer pessoa leiga em psicanálise poderia acompanhar e, em caso de dúvidas, teria como obter maiores explicações de uma coisa ou outra. Mas é um livro muito bom mesmo, em vários pontos.
P.s: vou ler sua monografia.


Flávia Menezes 22/02/2024minha estante
Então?na verdade essas oficinas que tivemos em um centro cultural aqui, ensinavam a contar histórias. E a partir daí, ensinar a olhar a história através das metáforas e compreender a composição de um contos de fadas?como a questão dos ritos de passagem (maturidade), das morais e valores? essas coisas.
Mas um livro desses, sabe o que é bom? Em um grupinho de estudos! Dá uma boa discussão!!!! ????
Agora?esse livro, pra mim é assim: se a pessoa tem interesse em se aprofundar em algo voltado aos contos de fadas é bem interessante. Caso contrário, é uma teoria que vai soar mais confusa do que ajudar em algo. E acho isso um problema na atualidade. Porque muitas vezes a pessoa acaba consumindo muita coisa, porém sem uma compreensão aprofundada?de que isso servirá? Daí passar isso para os pais?a menos que sejam ligados a alguma área da educação ou da psicologia?o que traz de lucro? Especialmente levando em consideração que não tem como uma pessoa que nunca estudou esse tipo de conteúdo, entender. Igual tentar falar pra quem não tem nenhum conhecimento psicanalítico, sobre as teorias sexuais infantis de Freud. As pessoas precisam entender que são anos de estudo, e não é um livro que vai te dar todo um conceito! Por isso que acho sua resenha perfeita!!! Porque concordo com você em número, gênero e grau!
Obs.: depois me conta o que achou! ???


Thay262 22/02/2024minha estante
Gostei dessa ideia de oficina de contação de historias, hein. Inclusive tem um trecho nesse livro onde Bettelheim fala disso, né, dos pais que não sabem contar porque nunca tiveram quem contasse a eles, e de como é importante não só saber contar a estória mas como também se conectar a criança nesses momentos.

De todo modo, não gostei tanto do livro justamente pelo excesso de significação que ele faz dos contos, em geral prefiro ver como isso vem espontaneamente do leitor/analisando. Quando ele, o autor, entrega de bandeja esses significados, substituímos o significado primário que damos pelas noções dele como psicanalista [em geral porque vamos colocá-lo como uma figura de saber acima de nós]; mas mesmo no livro ele demonstra aqui e ali que o importante é como o leitor/ criança/ adolescente/ adulto pensa a estória. Achei mais interessante os momentos que ele conta, por exemplo, como uma paciente inverteu a estória de João e Maria, fazendo com que tivesse sido João que os salvou da bruxa. Isso mostra melhor o inconsciente trabalhando, mais do que ele fornecer por ele mesmo o significados dos contos, a tendencia é o leitor reprimir os próprios significados e aderir aqueles dados pelo autor aqui nesse livro; Um quase desserviço ao inconsciente, diga-se de passagem. Daí eu torcer o nariz quase toda vez que ele vinha inferir um significado geral para os contos em questão. Haha.

Por outro lado, o livro é muito bom para estudar conceitos da psicanálise, de fato funcionaria em grupos de estudo e debates. E por isso não consigo ver qualquer pessoa leiga pegando esse livro, nem indicaria esse livro para qualquer um, a menos que o interesse pela psicanálise já esteja arraigado de algum modo nessa pessoa[tem psicanálise no nome, então acho que funciona com um fator atrativo ou de exclusão logo de cara]; e como você disse, ninguém aprende esses conceitos do dia pra noite numa única leitura, logo para melhor se comprazer com essa leitura é bom já ter algum conhecimento prévio dos conceitos.

Vou ler sua monografia, pode deixar que te conto! Beijos e até mais!




Deby 02/02/2024

Muito interessante
Achei muito interessante, repleto de teoria, bem escrito e fluido. Porém, psicanálise não é muito minha praia, achei difícil em alguns momentos. Mas vale a pena experimentar!
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Andy 16/01/2024

Um livro totalmente necessário, comenta e nos faz olhar mais afundo em histórias que não são consideradas e levadas a sério. Pra nós não parece tão importante o impacto dos contos, quando na verdade eles influenciam e muito.
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Rodrigo 03/12/2023

A psicanálise dos contos de fadas
O autor explora a profundidade psicológica dos contos de fadas clássicos, destacando como essas histórias atemporais desempenham um papel vital no desenvolvimento emocional e psicológico das crianças.

No livro, Bettelheim argumenta que os contos de fadas fornecem uma maneira segura e simbólica para as crianças explorarem seus medos, desejos e conflitos interiores. Ele analisa contos populares, como "Cinderela", "Chapeuzinho Vermelho" e "Hansel e Gretel", demonstrando como elementos específicos dessas histórias refletem as ansiedades e as questões emocionais das crianças.

Ao interpretar os personagens, eventos e simbolismos dos contos de fadas, Bettelheim sugere que essas narrativas ajudam as crianças a enfrentar e compreender seus próprios desafios emocionais. Ele enfatiza a importância dos contos de fadas como ferramentas terapêuticas que capacitam as crianças a lidar com as complexidades da vida.

Assim, "A Psicanálise dos Contos de Fadas" oferece uma perspectiva única sobre a função psicológica dessas histórias atemporais, destacando sua relevância no crescimento e desenvolvimento emocional das crianças.
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Lu 25/11/2023

Livro incrível!!!
o livro é carregado de uma teoria freudiana muito forte, eu comecei a ler no início do ano e fui só terminar agora, depois de ter desenvolvido um entendimento maior sobre a teoria psicanalítica(principalmente no que riz respostonas a freud). As análises dos contos são maravilhosas e encantadoras, a única coisa que me impediu que eu desse 5 estrelas foram pequenos momentos em que eu achei uma psicologização excessiva das coisas.De resto, só elogios.
Meu contos preferidos foram: Chapeuzinho vermelho, cinderela e a bela e a fera
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Wispofsilk 19/11/2023

Para Dona Gilda
Dedico essa leitura a mulher que plantou em mim a sementinha da curiosidade ao me contar as "temíveis e assustadoras" - de fato bizarras - historias reais dos contos de fada que tanto conhecemos. E em meio a tudo isso, meu interesse foi crescendo e crescendo, e se juntou com outra coisa que amo; psicologia, pra melhorar as coisas, então... eu não pude aguentar, aproveitei cada página. É denso, mas muito interessante
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Caa 07/11/2023

Super interessante, todos que tem contato direto com crianças deveriam ler - principalmente da área da educação. Tem um astral pesado, mas necessário.
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Carla.Parreira 21/10/2023

A psicanálise dos contos de fadas
?
Eis um resumo geral da leitura em si: A criança ?divide? as pessoas que a rodeiam em boas e em más. ?Divide-se? a ela própria quando não se assume como culpada de coisas que fez e que a desgostam: chega a afirmar que não foi ela quem fez isto ou aquilo (que realmente fez). Num mundo já de si perfeitamente antagônico, ela intuitivamente ?divide? tudo em bom e mau, para assim encontrar o seu equilíbrio. E, no entanto, quantas vezes se inquieta: porque será, ela própria, obediente e teimosa, boa e má, valente e medrosa, uma contradição viva?
A maturidade psicológica consiste na aquisição de uma segura compreensão do que pode ou deve ser o sentido da nossa vida. E esta realização é o resultado final de uma longa evolução: em cada estádio procuramos, e temos de encontrar, um mínimo de sentido, adequado à forma como o nosso espírito e a nossa compreensão já evoluíram. Os contos de fadas são portadores de mensagens importantes para o psiquismo consciente, pré-consciente ou inconsciente, qualquer que seja o nível em que funcionem. Lidando com problemas humanos universais, especialmente com os que preocupam o espírito da criança, as histórias falam ao seu ego nascente, encorajando o seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, aliviam tensões pré-conscientes ou inconscientes.
A psicanálise foi criada para habilitar o homem a aceitar a natureza problemática da sua vida sem ser vencido por ela e sem se entregar à fuga sistemática. É esta exatamente a mensagem que os contos de fadas trazem à criança, de múltiplas formas: que a luta contra graves dificuldades na vida é inevitável, faz parte intrínseca da existência humana, mas se o homem com coragem e determinação enfrentar as dificuldades, muitas vezes inesperadas e injustas, acabará por dominar todos os obstáculos e sair vitorioso. Os temas dos contos de fadas não são sintomas neuróticos, algo que importa compreendermos de forma racional, para mais depressa nos vermos livres deles. Esses temas são sentidos como autênticas maravilhas pela criança, porque através deles se sente compreendida e apreciada no seu âmago, nos seus sentimentos, nas suas esperanças e angústias, sem que seja preciso trazer tudo isso à superfície para ser investigado à luz crua de uma racionalidade que ainda está para além da compreensão infantil. Os contos de fadas enriquecem a vida da criança e apresentam-se com uma qualidade de encantamento, exatamente porque ela não sabe como é que as histórias produziram em si semelhante prodígio.
O objetivo dos contos de fadas não é dar informação útil sobre o mundo exterior, mas sim sobre os processos psicológicos interiores que têm lugar num indivíduo. A história ilustrada perde muito do conteúdo pessoal que poderia trazer à criança que lhe aplicasse somente as suas próprias associações visuais, em vez das de quem as desenhou. Quando todos os devaneios da criança se personalizam numa fada bondosa, todos os seus desejos destrutivos numa bruxa má, todos os seus receios num lobo voraz, todas as ciências da sua consciência num homem sábio encontrado numa aventura, toda a sua zanga ciumenta nalgum animal que dê bicadas nos olhos dos seus rivais detestados ? então a criança pode finalmente começar a pôr ordem nas suas tendências contraditórias. Iniciado este fato, a criança será cada vez menos submergida por um caos incontrolável.
Ao contrário disso, se contarem a uma criança histórias ?verdadeiras como a realidade? (o que quer dizer falsas para partes importantes da sua realidade interior), ela pode concluir que muito dessa realidade interior é inaceitável para os seus pais. Assim, há muita criança que se afasta da sua vida interior, e isso a depaupera. Consequentemente, ela pode depois, já adolescente e, fora da ascendência emocional dos seus pais, vir a detestar o mundo racional e escapar-se completamente para um mundo de fantasia, como que para se desforrar do que perdeu na infância. Quando for mais velha, isso poderá implicar numa severa quebra com a realidade, com todas as perigosas consequências para o indivíduo e para a sociedade. Ou, menos seriamente, a pessoa poderá continuar esta clausura do seu ?eu? interior toda a sua vida, e não se sentir nunca plenamente satisfeita com o mundo, porque, alienada dos processos inconscientes, ela não pode usá-los para enriquecer a sua vida na realidade das coisas. A vida deixa então de ser ?um prazer? ou ?uma espécie de privilégio excêntrico?. Com tal separação, o que quer que aconteça na realidade deixa de oferecer satisfação apropriada às necessidades inconscientes. O resultado é que a pessoa sente sempre que a sua vida é incompleta.
Somos mais do que os nossos corpos, mentes, emoções, necessidades, desejos e sonhos pessoais. Temos uma natureza superior e transcendente e fazemos parte de uma espécie que está paulatinamente a evoluir no sentido da totalidade. A criança pequena não está separada desse eu transcendente, mas o adolescente, em busca do conhecimento racional e intelectual do mundo, acaba por se distanciar da sua natureza espiritual. As imagens mentais dirigidas dão aos adolescentes uma oportunidade valiosa de sanar esta dicotomia entre mente e coração. A primeira coisa que devemos fazer é ouvir ou ler os contos, deixando que as imagens e as sensações surjam livremente, como se estivéssemos a sonhar. Neste estágio, é importante não tentarmos interpretar o sentido da história ou dos símbolos. Temos de experimentar interiormente o que os personagens vivem e sentem, a fim de que o poder do conto e das suas imagens possa atingir o seu pleno desenvolvimento. As crianças sabem predispor-se instintivamente à escuta dos contos. Os adultos sentem uma maior dificuldade, por causa das barreiras mentais e dos juízos de valor que abafam frequentemente a emoção. Temos de nos colocar em sintonia com o conteúdo da história e seguir atentamente as mínimas peripécias, mesmo que nos pareçam incompreensíveis. Antes de estudar detalhadamente as regras precisas que os contos nos ensinam, é bom saborear a sua magia e abordá-los com um coração de criança. Esta abordagem exige humildade da parte do ouvinte ou do leitor e é um ato de fé face à porção de verdade que a história traz até nós.
Para ler um conto sob o ponto de vista da psicologia analítica junguiana, é necessário levar em conta que todas as personagens são uma só ? o protagonista diante de todos os aspectos da sua psique e o caminho frequentemente difícil para alcançar a individuação. É a história de nós mesmos a caminho de nós mesmos. Enquanto que a fantasia é irreal, os bons sentimentos que nos oferece sobre nós próprios e o nosso futuro são reais e estes bons sentimentos efetivos são aquilo de que precisamos para nos apoiar. O conto de fadas não nos fala de uma solução feliz que se atingiu sem qualquer esforço. As mais variadas histórias falam todas de certo problema que só se resolve quando o herói ou a heroína se submetem a provas e a sofrimentos. Isto significa que a criança não ultrapassará a sua crise até estar pronta para evoluir por meio de um combate e até que seja capaz de reconhecer, de forma ampla, o seu problema, e tenha assim atingido a maturidade.
O crescimento implica mudança. Pode parecer paradoxal que, para fortalecer a nossa identidade, devamos estar disponíveis para aceitar a mudança, mas é igualmente paradoxal que a nossa identidade se dilua quando a tentamos fortalecer evitando qualquer alteração na nossa aparência exterior. Atrás de cada objeto experimentado por nós, por mais inanimado que seja, há, de certa forma, uma consciência viva. O universo em que se vive somos nós que o fazemos: metamorfoseamos uma realidade que aparentemente é estática e animamo-la com o nosso imaginário. E o que é que acontece? Olhar para uma porta que é um objeto inanimado é uma coisa. Outra coisa é sonhar com uma porta que se abre e dá acesso a um elemento irracional e simbólico: a porta que me leva para outro mundo, para uma realidade diferente. Há elementos de caráter mágico-religioso nos nossos sonhos, que correspondem um pouco a essas portas que se abrem no conto de fadas, a esses seres pequeninos que servem de guias nas nossas aventuras.
Apenas na idade adulta podemos obter uma compreensão inteligente do significado da própria existência neste mundo a partir da própria experiência nele vivida. Infelizmente, muitos pais querem que as mentes dos filhos funcionem como as suas ? como se uma compreensão madura sobre nós mesmos e o mundo, e nossas ideias sobre o significado da vida não tivessem que se desenvolver tão lentamente quanto nossos corpos e mentes. Nos contos de fadas a menina edípica vê na mãe a madrasta ou feiticeira que impedem o amante (pai) de encontrar a princesa (ela própria enquanto filha). O menino edípico, por sua vez, que se sente ameaçado por seu pai devido ao desejo de substituí-lo nas atenções da mãe, projeta o pai no papel de monstro ameaçador.
Enquanto que o menino edípico não deseja qualquer criança que interfira no completo envolvimento da mãe com ele, as coisas são diferentes para a menina edípica. Ela realmente deseja dar a seu pai o presente amoroso de ser mãe de seus filhos. É difícil determinar se isto é uma expressão de sua necessidade de competir com a mãe a este respeito, ou uma leve antecipação da sua futura maternidade. Este desejo de dar um filho ao pai não significa ter relações sexuais com ele ? a menina, como o menino, não pensa nestes termos concretos. Ela sabe que os filhos são o que liga o homem do modo mais intenso à mulher. Esta é a razão pela qual, nas estórias que lidam simbolicamente com os desejos edípicos, com os problemas e esforços de uma menina, os filhos são mencionados ocasionalmente como parte do final feliz.
Assim, tanto as meninas como os meninos edípicos, graças ao conto de fadas, podem ter o melhor dos dois mundos: podem gozar plenamente as satisfações edípicas na fantasia e na vida real, manter boas relações com os dois pais. Para o menino edípico, se a mãe o decepciona, existe a princesa do conto de fadas no fundo de sua mente ? aquela mulher maravilhosa do futuro que compensará todas as labutas presentes, e cuja lembrança torna mais fácil suportar estes esforços. Se o pai dá menos atenção à filha do que ela deseja, ela pode suportar esta adversidade porque chegará um príncipe a quem ela preferirá mais que todos os outros rivais. Como tudo ocorre numa terra-do-nunca, a criança não precisa se sentir culpada ou ansiosa de projetar o pai no papel de um dragão ou de um gigante malvado, ou a mãe no papel de uma madrasta ou bruxa miserável.
Assim, a criança obtém o melhor dos dois mundos, que é o que necessita para se transformar num adulto seguro. Em fantasia, a menina pode vencer a (mãe) madrasta, cujos esforços para impedir sua felicidade com o príncipe fracassam; o menino pode matar o monstro e obter o que deseja numa terra distante. Ao mesmo tempo, tanto o menino quanto a menina podem manter em casa o pai real como protetor e a mãe real que fornece todos os cuidados e satisfações de que a criança necessita. Como fica claro todo o tempo que a matança do dragão e o casamento com a princesa prisioneira, ou o encontro com o príncipe encantado e a punição da bruxa malvada ocorrem em tempos e países longínquos, a criança normal nunca os mistura com a realidade. Alguns pais temem que os filhos sejam arrebatados pela fantasia; que, expostos aos contos de fadas, passem a acreditar em mágica. Mas toda criança acredita em mágica, e deixa de fazê-lo ao crescer (com exceção dos que foram muito decepcionados com a realidade para poder confiar nas suas recompensas). Há crianças com distúrbios que nunca ouviram estórias de fadas, mas que colocam num ventilador ou motor elétrico mais mágica e poder destrutivo do que qualquer estória de fadas impõe ao personagem mais poderoso e execrável.
Se uma criança, por qualquer razão, é incapaz de imaginar seu futuro de modo otimista, estabelece-se uma parada no desenvolvimento. O exemplo extremo pode ser encontrado no comportamento da criança que sofre de autismo infantil. Ela não fez nada ou intermitentemente irrompe numa explosão temperamental grave, mas em qualquer caso insiste que nada deve ser alterado no seu ambiente e nas condições de sua vida. Tudo isto é a consequência de sua incapacidade completa de imaginar qualquer mudança para melhor. Sabemos que, quanto mais infelizes e desesperados estamos, tanto mais necessitamos de ser capazes de envolvermo-nos em fantasias otimistas. Mas estas não estão à nossa disposição nestes períodos. Então, mais do que em qualquer outra ocasião, necessitamos de outros que nos levantem com sua esperança por nós e nosso futuro. Nenhum conto de fadas por si só fará isto pela criança; como a criança autista nos faz lembrar, necessitamos primeiro que nossos pais instilem esperança em nós. Embora a fantasia seja irreal, os bons sentimentos que ela nos dá sobre nós mesmos e nosso futuro são reais, e estes bons sentimentos reais são o de que necessitamos para sustentar-nos. Pessoas esquizofrênicas geralmente não conseguem estabelecer contato com a realidade porque não querem perder o mundo imaginário, o qual, independente de ser bom ou ruim, defende a todo custo.
Repetidamente nos contos de fadas uma relação insatisfatória com um dos pais ? como é invariavelmente uma relação edípica ? é substituída, como o elo de Cinderela com um pai fraco e ineficaz, por uma relação feliz com o parceiro conjugal salvador. A ansiedade da criança quanto ao fracasso se centra na ideia de que, se falhar, será rejeitada, abandonada e totalmente destruída. Assim, só uma estória na qual um ogro, ou outra personagem malvada, ameace o herói de destruição, se ele falhar em mostrar-se o bastante forte para enfrentar o usurpador, está correta, de acordo com a visão psicológica da criança quanto às consequências de seu fracasso. Não há maior ameaça na vida do que ser abandonado e ficar completamente sozinho. A psicanálise chama isto ? o maior medo do homem ? de ansiedade de separação; e quanto mais novos somos, mais excruciante nossa ansiedade quando nos sentimos abandonados, pois a criança nova realmente perece se não for adequadamente protegida e cuidada. Por conseguinte, o consolo fundamental é o de que nunca será abandonada.
Os contos de fadas falam à mente inconsciente e são vivenciados quando nos dizem algo importante, independente do sexo dos protagonistas ou do nosso. Nos contos onde pessoas são transformadas em animais por causa de um feitiço ou punição, isso encera a ideia-tabu do sexo animalizado. Vale notar que na maioria dos contos ocidentais a fera é masculina e só pode ser desencantada pelo amor de uma mulher. Podemos presumir que os inventores destes contos achavam que, para se conseguir uma união feliz, cabe à mulher vencer sua visão do sexo como repugnante e animalesco. Há também contos ocidentais em que a mulher, por feitiço, transforma-se em animal, e então cabe ao homem desencantá-la através do amor e coragem firme. Mas em praticamente todos os exemplos de noiva-animal não há nada de repugnante ou perigoso na sua forma animal, ao contrário, elas são encantadoras. O ensino básico é: enquanto um dos parceiros sentir repulsa pelo sexo, o outro não poderá apreciá-lo; enquanto um deles encará-lo como algo animalesco, o outro permanecerá parcialmente um animal diante de si mesmo e para o parceiro. Em outro nível tais estórias dizem que não podemos esperar que nossos primeiros contatos eróticos sejam agradáveis, pois são demasiado difíceis e estão cercados de ansiedade. Mas se prosseguirmos, apesar de uma repugnância temporária, permitindo que o outro se torne sempre mais íntimo, em algum momento vivenciaremos um choque feliz de reconhecimento quando a intimidade completa revelar a verdadeira beleza da sexualidade.
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Livia 08/10/2023

Explicativo, prático e diverso
Uma análise dos contos de fadas na visão da psicanálise, simplesmente perfeito, muitos contos que gostava e me identificava acabei vendo o motivo daquilo através da interpretação psicanalítica, confesso que como uma grande fã de obras sobre psicologia e psicanálise esse livro me encanta pois não cita apenas os psicanalistas óbvios, é diverso, uma leitura complexa, simplesmente fascinante
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Bruno.Carvalho 03/09/2023

A importância dos contos de fadas!
???- intro ???-

Eu sou da area de TI, mas sempre tive gosto por coisas da psicologia apesar de nao saber nada. Quando eu vi a capa desse livro eu julguei o livro pela capa, parecia algo incrível somente pelo titulo. Comprei ele a dois anos atras mas acabei nao tendo tempo de sobra para ler, esse ano eu consegui ler ele e olha, sinceramente eu achei incrível demais.

???- Book ???-

Mesmo para pessoas nao formadas em psicologia ou sem entendimento algum ele consegue te passar a mensagem das psicanalises de forma bem simples( lembrando que vai ter coisas que voce tera que pesquisar caso não conheça muita da psicologia, tal qual eu fiz). Acredito que após ler todo esse livro o que eu aprendi de fato é a importância dos contos de fadas para nossas vidas, independente de você ser uma criança, adolescente ou adulto, obviamente que os contos irão fazer sentindo dependendo da fase na qual se encontra. Porém vale ressaltar que os contos de fadas eles são de total importância para as crianças e principalmente para elas, afinal eles conseguem fazer a criança entender e superar os problemas que ela enfrenta e nao sabe ou nao entende.

Enfim, para aqueles mais curiosos leiam o livro e tenham suas próprias conclusões e principalmente adquiram o conhecimento ou se divirtam durante a leitura.
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Jesebhelly 17/07/2023

Uma leitura surpreendente e um grande mergulho nas profundas da psicanálise, Bruno conseguiu fazer associações impressionantes e certeiras em relação aos contos de fadas e sempre enfatizou a importância dos contos de fadas nas nossas vidas e nos ensinos de uma criança.
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