Karla Lima 09/03/2017
Um livro tão incrível que resiste até mesmo às dezenas de lamentáveis erros de revisão
Tinta está para a literatura como “It’s only rock’n’roll, but I like it” está para os roqueiros: é o homenageador, a homenagem e o homenageado. Nesta história envolvendo um autor, um revisor, um impressor, um editor e um livreiro, quem mais se envolve é o leitor apaixonado por livros sobre livros.
A história se passa entre maio de 1900 e junho de 1910 em Mainz, a cidade alemã onde, cerca de quinhentos anos antes, Gutenberg havia pela primeira vez produzido um exemplar da bíblia utilizando a revolucionária prensa de tipos móveis. Neste local histórico, conta-nos Tinta, ocorre a cerimônia descrita na abertura do livro: “Todo mês de junho, em Mogúncia [tradução de Mainz para o português], celebra-se a festa de São João. O momento culminante dos festejos acontece no dia 21, com o batismo dos novos impressores. Em plena rua, eles juram lealdade à sua profissão e são batizados, mergulhando completamente numa grande tina de água do Rio Reno”.
Personagens angustiados e sem esperança vagam pela narrativa em busca de explicações para seus problemas existenciais: o livreiro é traído pela mulher que ama, o editor se tornou incapaz de amar, o impressor ama seu irmão, o revisor perdeu a amada e o autor perdeu um grande amor. Um livro os une em um abraço coletivo do qual o leitor é o par de braços fundamental.
Tinta, que coerentemente não saiu em versão digital, tem uma linguagem tão simples que quase chega a ser simplória, tem pouco mais de cem páginas e é idealmente lido de uma vez só. Na minha escala pessoal de avaliação, está categorizado em duas seções: “fofucho-ternurinha, para leitores que amam livros sobre livros” e “erros numerosos e absurdos de revisão”. Qualquer personagem da história teria dedicado à obra mais carinho do que a editora. É lamentável, mas ele é superior até a isso.