psykloz 06/10/2014De escrita informal e intimista (repleta de opinião pessoal, "jeito de falar" e ditados na fala do autor, o que acaba por criar bordões e aproximar o leitor da leitura), passível de ter o infantojuvenil como público alvo, a narrativa se faz de modo simples e romântico - sendo tendido mais para o lado sentimental do que o poético - trazendo um sentimento de pacatez, mesmo nas partes mais aceleradas da estória.
Com todo o respeito aos envolvidos nesse projeto, deixo a minha opinião como sendo de cunho totalmente pessoal intendendo-se a agir apenas como uma crítica construtiva:
Talvez por ser o primeiro livro do autor, isso explique as lacunas no desenvolvimento de conteúdo da narrativa. A impressão que se tem é a de que o autor teve um "BOOM" de ideias e quis usá-las todas ao mesmo tempo, criando contradições em certos trechos que poderiam terem sido evitadas através de um amadurecimento melhor da ideia a que se propunha passar para o papel, antes de fazê-lo de fato. Ou mesmo através de uma intensa revisão no final da escrita, para as devidas correções. Um exemplo mais evidente disso é a Roberta ser mais velha que Maria e, duas páginas depois, Maria ser mais velha que Roberta (p.82 e p.84). Assim como o autor dizer que, em um dado momento da estória, Maria havia perdido o brilho. Em outra parte diz "Sua vida sombria não tinha conseguido ofuscar seu brilho".
Senti uma carência de descrições aprofundadas - isso também pode ser um sinal da pressa em finalizar a escrita - como a exemplo dos espaços, faltou um pouco de tato e detalhamento na formulação dos cenários e, principalmente, dos personagens. Informações mais íntimas a respeito deles e suas caracterizações físicas e comportamentais seriam bem-vindas. Não pude visualizar muito bem o aspecto físico dos personagens e, até o término do livro, todos eles ainda tinham um rosto borrado. Quanto mais e maiores são os detalhes expostos e suas descrições, mais conseguimos entrar na narrativa e vivenciar o que o autor está nos mostrando. Fez-se falta uma dedicação maior em cada ponto narrado o que resultou em uma sensação de estória resumidamente corrida.
*spoiler*
Como André, que não entendia nada de arte, muito menos de teatro, conseguiu tantas informações a respeito de onde começar, que procedimento tomar para dar continuidade ao projeto da peça? Pouco foi falado a respeito desse processo de aprendizagem e fez falta no acompanhamento da estória. Foi uma parte não narrada em sua totalidade e que poderia ter sido desenvolvida como uma aventura.
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Também faltou referenciar (e valorizar) melhor as datas, o espaço de tempo. Passaram-se vinte anos e então é falado de modo bem raso sem atribuir muita importância aos dias que se passaram, a sensação que sentiam com relação aos dias, a forma como enxergavam esse tempo, assim como a duração dos acontecimentos dentro das partes do livro. Isso tudo faz com que o leitor sinta-se menos parte do livro e não veja os fatos com muita clareza. Do mesmo modo, falta um estudo mais aprofundado sobre o que se propõe a falar. A exemplo da cena onde Pedro conhece uma arquiteta chamada Diana. O autor diz que ela se interessou em saber sobre o passado teatral de Pedro "apesar de nunca ter feito nada ligado à arte, conhecer alguém que tinha seu valor a seduzia" (p.92), sendo que ela era arquiteta e arquitetura é uma forma de manifestação artística a qual se inclui nas artes aplicadas.
Cinco considerações pessoais a respeito da estória:
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1) Penso ser um tanto estranha a informação, no fim, de que no passado eles tentaram ter um filho sem nem ao menos terem casado. Considerando a época, difícil o casal que faria isso.
2) Por que Pedro hesitava em escrever o "ato dez" como se fosse uma vergonha de si próprio frente a algo o qual ele teria que enfrentar, quando na verdade ele nunca havia feito nada de errado? Foi apenas uma forma de criar um suspense para o leitor e incitá-lo a pensar o pior?
3) A cena do mal-entendido é improvável, ao menos que Pedro fosse desprovido de raciocínio. Os dois, seminus, abraçando-se, com certeza é algo que qualquer pessoa com o mínimo de bom senso enxergaria a cena de cima e de fora e destacaria um possível erro.
Primeiro que Sandra não precisava mostrar os seios para ele. Ele não era médico e não precisava ver ferida alguma em seio de ninguém.
Segundo que ele poderia ter vestido um roupão, pelo menos. Não era algo tão urgente para sair seminu do quarto, visto que não era novidade alguma a falta de respeito no modo como Sérgio tratava Sandra a qual ela já fora alertada várias vezes.
4) Senti falta da Antônia como tendo o dom de dançar e seguindo os passos da mãe dela (mas isso é apenas uma sugestão pessoal).
5) Outra sugestão pessoal: O André poderia ter levado a mãe dele para prestigiar a peça também. Até porque eles também participaram, de certa forma.
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Por fim, completo dizendo que acima de questões técnicas de escrita, a ideia foi muito bem sucedida e a estória é realmente envolvente, emocionante, romântica e dramática. A forma como a vida dos personagens principais foi narrada em partes diferentes do livro através da perspectiva de cada personagem, fez com que compreendêssemos a mesma estória vista sob diversos pontos de vista. Senti-me envolvida em saber como seria o fim da trama e não houve reação diferente senão lágrimas e aplausos.