O Viajante e o Mundo da Lua

O Viajante e o Mundo da Lua Antal Szerb




Resenhas - O Viajante e o Mundo da Lua


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Renata 06/03/2019

“Foied vinom pipafo, cra carefo” (“Hoje bebo vinho, amanhã não haverá mais”)
Antal Szerb (1901-1945), escritor e acadêmico húngaro, católico praticante, mas enquadrado pelas leis raciais como judeu, foi assassinado por espancamento em um campo de trabalhos forçados em 1945. Publicou “O viajante e o mundo da lua” em 1937.

O título bonitinho engana, a história contada é a da trajetória, a peregrinação de Mihály, entremeando seu passado, sua juventude, com aquilo que determinava ser seu futuro. O cenário é predominantemente a Itália, Roma, Siena, Foligno, Perúgia, e para quem gosta de descrições é uma delícia, as cenas de andança pelas cidades, seus detalhes e descobertas históricas.
Mesmo que fundado na realidade dos cenários, o livro mantém uma pegada fantástica, a partir das reações de seu narrador Mihály, que se torna um fugitivo em plena lua de mel, e não um fugitivo da polícia, mas de sua própria vida, daquilo que havia construído até ali.
Depois de passar anos convivendo com sua repulsa por sua origem e realidade burguesa, controlada, previsível, um vislumbre de seu passando o faz sair da rota, jogando tudo pro alto, praticamente um breaking bad.
Enquanto ele rompe com tudo aquilo que pautava sua vida, o casamento, o dinheiro, o status, faz o caminho de descobrir o que se passou com outros personagens de sua juventude, justamente aqueles que um dia lhe deram a experimentar esse rompimento com a realidade. Personagens em volta dos quais foi vivida toda uma experiência responsável pela nostalgia que o faz fugir, correr e negar a si mesmo.
A história é feita de personagens marcantes, mistura de angústias profundas, crises de ansiedade e malandragem, mostra o reflexo de uma juventude vivida e sentida ao extremo, fora do comum, beirando o imoral, a violência e o suicídio.
A morte inclusive é um dos pontos mais interessantes, passando por toda história, seja o ato em si, seja a construção filosófica desta, a morte como elemento erótico. Neste ponto merece destaque o personagem Waldheim, filólogo e historiador húngaro, colega de juventude de Mihály, que estava fora do circuíto de seu espírito nostálgico, mas que rende as melhores sacadas do livro, em especial sobre a morte que imediatamente associei à teoria de Freud sobre a pulsão de morte, mas isso é outra história.
Gostei bastante e recomendo sem receios.
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