jota 08/05/2019Forster para sempre...Além de ótimo ficcionista – dele li Passagem Para a Índia, Maurice, Um Quarto com Vista e Howards End - , E. M. Forster (1879-1970), publicou em 1947 este livro de teoria literária, reunião das palestras por ele ministradas no respeitado Trinity College, em Cambridge, cerca de vinte anos antes (1926-1927) e que acabou se tornando um clássico.
É verdade que Aspectos do Romance trata sobretudo de livros e autores ingleses, mas volta e meia comentários são feitos sobre importantes obras estrangeiras como Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, Moby Dick e Billy Budd, de Melville e Guerra e Paz, de Tolstoi, romances que Forster admirava bastante, entre outros lembrados no volume.
Depois do longo e esclarecedor prefácio de Luiz Ruffato – A Poética do Romance de Forster -, em que o autor brasileiro destaca os principais pontos do livro, temos a (também longa) Introdução do organizador, Oliver Stallybrass, que conta como surgiu este volume. Em seguida, desfilam pelas páginas comentários sobre obras de Daniel Defoe, como Robinson Crusoé e Moll Flanders, Grandes Esperanças e A Casa Soturna, de Charles Dickens, A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy, de Laurence Sterne, Adam Bede, de George Eliot, além de referências aos conhecidos Walter Scott, Henry James, James Joyce, Virginia Woolf, entre outros.
São vários autores e muitas as obras citadas por Forster para explicar o que ele entende por aspectos do romance, título do livro. Sete tópicos são tratados com destaque, ilustrados com trechos ou citações daqueles autores para que fique bem claro cada um desses pontos, a saber: A Estória (em vez de simplesmente história, como estamos acostumados), Pessoas (os personagens), O Enredo, Fantasia e Profecia e Padrão e Ritmo.
Muitas vezes Forster dá sua interpretação para determinado trecho de um livro com a finalidade de ilustrar o aspecto que está tratando, também pode fazer um pequeno resumo da obra e algumas vezes nem mesmo se furta de contar como ela termina ou o que acontece com determinado personagem. Como ocorre com Os Embaixadores, de Henry James, somente para citar uma obra que ainda não li.
Bem, e vale a pena ler Aspectos do Romance? À primeira vista o livro parece ser interessante apenas para estudantes de literatura e especialistas em teoria literária. Mas para um leitor que tenha lido algumas das obras tratadas por Forster – e muita gente leu os livros de Defoe, Dickens, os clássicos russos e mesmo um volume de Proust – o interesse vai crescendo a cada página, ainda que nem sempre fique lá muito claro para o leitor comum um ou outro ponto de vista do autor. Mas sim, sempre vale a pena ler Forster, teorizando sobre literatura ou nas páginas de seus inesquecíveis romances. Principalmente neles.
Lido entre 27/04 e 07/05/2019.