Fernanda631 29/12/2022
Louca Para Casar
Louca Para Casar foi escrito por Madeleine Wickham nome verdadeiro de Sophie Kinsella e foi publicado em 2000.
Tendo sido esse meu primeiro contato com uma obra da autora assinada por seu nome verdadeiro, eu não imaginava em que ela poderia se diferenciar tanto das assinadas pelo pseudônimo que a fez famosa, e agora sei que as diferenças são nítidas.
No livro Louca para Casar, Milly Havill está prestes a ter o seu casamento dos sonhos com o homem da sua vida, mas tudo está por se perder quando o fotógrafo a reconhece de outro casamento que Milly participou: o dela mesma, com um homem gay que queria continuar morando no país para ficar com o seu amado, de quem ela nunca se divorciou.
Em seus 18 anos, Milly se aventurou num curso profissionalizante em outra cidade, e lá conheceu seu futuro marido, Allan, um professor americano. Mas não era um casamento comum ou real. Eles casaram para que Allan pudesse ficar no país e ficar com Rupert, sua grande paixão. Após voltar pra casa, Milly nunca mais os viu.
Milly nunca tinha contado para ninguém sobre isso e também nem pensou que ela poderia cometer o crime de bigamia se ela fosse em frente com o seu casamento sem antes se divorciar. Uma personagem bem bobinha.
Ao passar 10 anos, Milly está para subir o altar com Simon. Aquele casamento da juventude meio que foi esquecido, abandonado e apagado. Era o que Milly achava, sem se ligar dos trâmites legais e que poderia estar cometendo bigamia.
O destino (in)felizmente traz alguém do passado para recobrar a consciência da protagonista e tratar a situação – antes que alguém descubra.
Milly Havill é uma personagem fútil e complicada que vive mentindo para agradar seu noivo, o idealista Simon, filho do milionário empresário Harry Pinnacle. Vivendo um padrão duplo para conquistar o amor e a estabilidade que sempre sonhou, ela acaba varrendo para debaixo do tapete um grande segredo do seu passado.
A trama se inicia com um flashback de dez anos na vida de Milly em Londres, quando então estudava para se tornar uma secretária. É nessa época que ela conhece Allan e Rupert, dois lindos jovens que logo fazem amizade com ela. Anos depois, ela questiona se algum dia eles realmente foram amigos ou apenas queriam se aproveitar da ingenuidade dela.
Olivia, a mãe da noiva, nos causa pena com sua patética agitação, dedicando suas energias a um casamento que nem é seu, ela representa muito bem o embate entre frustração e expectativa que muitas mulheres de meia idade sentem com o rumo de suas vidas. James, seu marido, está cansado da rotina de aparências que mantém com Olivia, mas ela parece não enxergar o mundo além de seu caderninho de tarefas para o grande dia da filha bobinha.
A chegada de Alexander, o fotógrafo que vai registrar o matrimônio – e que, por um acaso, tem um registro do primeiro casamento da nossa protagonista – coloca o mundo de Milly de pernas para o ar. Temendo que ele revele seu passado para Simon, ela pede ajuda para sua madrinha, a excêntrica Esme, e sua irmã, a centrada Isobel, que também vem guardando um segredo que irá abalar as estruturas de sua família.
A premissa toda do livro se baseia no medo da protagonista de contar para a família e amigos que ela se casou com um estranho para que ele pudesse ficar no país. E por causa desse medo ela estaria disposta a cometer o crime de bigamia, não sei exatamente como ela achou que pudesse esconder isso quando o cartório fosse registrar o seu segundo casamento, pois existe pesquisa entre cartórios ou nos Estados Unidos não?
O livro tem seus momentos legais, alguns capítulos são protagonizados pelo homem com quem Milly se casou, que nos dias atuais, decidiu que ser gay era pecado e foi tentar viver uma vida de hétero e tudo desmorona quando Milly aparece pedindo o divórcio.
Esse livro trata de assuntos muito interessantes, é uma pena que a narrativa é um tanto enrolada, tornando o livro meio cansativo de se ler.
Louca para Casar não é exatamente um romance, ele tem seus momentos fofos, mas ele trata mais de superação de medos, traumas e de se aceitar e não se importar com que os outros pensam.
A começar, a narrativa se dá em terceira pessoa, e não em primeira como em seus mais conhecidos chick-lits. Acredito que tenha sido essa a causa para meu estranhamento, porque, por consequência, diversos outros aspectos da história foram afetados. Não me entendam mal: sua escrita continua fluida e gostosa de ser lida, em momento algum se fez monótona ou cansativa. Narrado na terceira pessoa, a trama é sólida e bem desenvolvida, seguindo um ritmo ligeiro e agradável como diferente do costume de seu gênero.
Contudo, foi inegável meu afastamento com a protagonista. Normalmente, são as protagonistas de Kinsella que fazem de seus livros brilhantes aos meus olhos: suas maneiras únicas de pensar e agir fazem do humor da autora perfeito para meu gosto, além de causarem um enorme grau de envolvimento por ser possível compreender as personagens mesmo quando suas decisões são as piores possíveis.
Já em Louca Para Casar, durante a maior parte da história, só o que consegui sentir por Milly, a protagonista, foi irritação por conta da maneira de como ela lida com seu problema. Simon, seu futuro marido, também não contribuiu para que eu me afeiçoasse a ele e ao romance de ambos. Diria, aliás, que as únicas personagens que me agradaram desde o início foram Isobel, irmã de Milly, e Harry, pai de Simon. Além disso, o humor da história é extremamente suave e em momento algum chegou a me causar verdadeiras risadas, principalmente porque somos privados da voz interior de Milly.
Por outro lado, o fato da narrativa ser em terceira pessoa possibilita ao leitor que outros aspectos do enredo, inclusive outras tramas, sejam também acompanhados, tirando o foco de Milly em alguns pontos. Como não foi a trama central a que me conquistou, achei isso positivo, porque foram as paralelas as que, de fato, fizeram com que eu me envolvesse com o enredo, chegando a, inclusive, me sentir emocionada em alguns momentos.
Assim, um livro que começou, sinceramente, me deixando sem entender como poderia ter sido escrito por uma autora querida, já que não estava conseguindo me envolver ou verdadeiramente me divertir, melhorou consideravelmente durante seu decorrer por conta do desenvolvimento de suas tramas paralelas.
Mas o que mais impressiona é como Madeleine (Kinsella) retrata a vulnerabilidade de seus personagens e como se utiliza de uma situação para despertar a todos de suas realidades. Nesse sentido, sua voz narrativa funciona quase como um microscópio emocional que nos conduz perfeitamente às emoções e papeis de cada um na história. E assim se pauta o status, a instituição do casamento, as insatisfações pessoais, problemas familiares, preconceitos, as maneiras para agradar pessoas e as maneiras de ser feliz.
Ainda que “Louca para Casar” tenha seus momentos divertidos, é sempre curioso comparar o humor vertiginoso do pseudônimo Sophie Kinsella com a escrita mais contida da autora Madeleine Wickham, uma ação que revela pleno domínio sobre a sua escrita. Não diria que esta é uma obra dramática, ainda que a trama de Rupert atravesse pontos bastante delicados e emotivos Aos que procuram um bom entretenimento, recomendo a leitura.