Janaina Vieira - Escritora 02/02/2014E tudo isso é verdade...Ler esse livro é entrar em contato com uma realidade tão distante, tão diferente e tão estranha à nossa, que chega a ser uma visita a outro planeta, com a diferença, porém, de que tal lugar existe e tal realidade - a retratada no livro - aconteceu há menos de dez anos, ali do outro lado do mundo, neste mesmo planeta.
Viver no Afeganistão é algo inimaginável para mim. E as histórias retratadas pela autora, uma jornalista norueguesa, tocam profundamente a sensibilidade de qualquer pessoa que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir. Porém, é necessário ter a mente aberta para compreender tantas diferenças culturais, que são chocantes, claro, mas também são parte da realidade.
O que mais me chocou? A posição da mulher nessa sociedade... que não significa nada. Simples assim. As mulheres afegãs ainda vivem um dia a dia onde não cabem palavras, opiniões, perguntas ou reivindicações. Quem manda é o homem e a mulher aceita isso, pois nunca conheceu uma vida diferente. E o domínio do Talibã deixou marcas e devastou não somente as cidades, mas a alma dessas mulheres, que ainda hoje se calam, em sua maioria.
Além disso, ao conhecermos um pouco da realidade desse país, é possível perceber o quanto reclamamos o tempo todo e em excesso, quando na verdade temos tudo que eles não têm. Ou seja, escolas, hospitais, universidades, empregos, lazer, leis mais justas. Nada disso existe por lá e o pouco que existe em nada se aproxima da realidade do Ocidente. Cada cultura é única em si mesma, com certeza, e não se pode compará-las com base em juízo de valor. Ainda assim é impossível não pensar e tentar compreender o por que de existirem tantas diferenças absurdas num mesmo planeta, habitado pela mesma humanidade.
Esse livro é um chute no estômago. É forte, doloroso e emocionante. Recomendadíssimo!