Vania.Cristina 30/03/2024
Um vilão microscópico
A história narra cinco dias de investigação para resolver uma crise científica nos Estados Unidos, na década de 1960. É estruturada para parecer uma reportagem real e precisei pesquisar para ter certeza de que realmente tratava-se de ficção.
Quando eu era criança, assisti ao filme da década de 70 que adaptou com sucesso essa história, e me lembro de ter ficado realmente impressionada e assustada.
No livro, os primeiros momentos são de terror, depois, quando entramos de cabeça na ficção científica, a narrativa alterna momentos descritivos, de experiências e teorias científicas, com um suspense tenso.
O narrador misterioso, que têm as iniciais do escritor, diz que seu relato é baseado em documentos e depoimentos coletados por ele. Chega a apresentar, durante a narrativa, gráficos e ilustrações desenhados pelos computadores da época a partir da ciência real.
O jovem Michael Crichton, na época um estudante de medicina, criou essa história, baseando-se em muita pesquisa, e imaginou como seria a primeira grande crise biológica. A humanidade já presenciou (de fato) a crise da energia atômica, pós Segunda Guerra, e a crise da corrida espacial, mas todas eram de ordem física e química. Os grandes conselheiros de governo eram cientistas desse campo. Mas nas últimas décadas, o mundo viu crescer o interesse pela pesquisa biológica: o antibiótico, o controle da natalidade, transplantes, código genético e... as possibilidades do uso de armas biológicas nas guerras.
Na história, um projeto secreto do governo estadunidense, chamado Scoop, está mandando satélites até o espaço próximo, visando trazer para estudo organismos coletáveis. Um desses satélites perde o rumo e cai próximo a uma cidade minúscula chamada Piedmont, com apenas 48 habitantes.
O Projeto Scoop manda dois homens para localizar o satélite. Ao chegar na cidade, eles encontram toda a população morta, com exceção de um velho doente e um bebê recém nascido. Imediatamente após localizar o velho, algo desconhecido contamina os dois homens, que morrem em questão de segundos.
A cidade entra em quarentena secreta e outro projeto automaticamente é acionado. Agora é o Wildfare, criado para investigar, estudar e conter qualquer contaminação que possa vir do espaço.
Algumas descrições dos avanços tecnológicos podem parecer datadas. O excesso de procedimentos e teorias científicas podem não agradar todo mundo. No entanto, nós que vivemos a pandemia de Covid 19 sabemos como as preocupações levantadas no livro são atuais e pertinentes. Conhecemos os interesses da indústria armamentista e sabemos que, mesmo as democracias, escondem segredos.
Não estou dizendo que o covid foi criado em laboratório, não defendo teorias da conspiração para além da ficção, mas é evidente que coisas do tipo podem acontecer, e o livro apresenta essas reflexões.
Aviso que há cenas que descrevem o uso de animais como cobaias da ciência, e sei que alguns podem ficar desconfortáveis com isso.
Para quem gosta de ficção científica, leitura recomendadíssima.