Jaqueline 25/01/2022
Ao contrário do primeiro volume, que era bem introdutório, aqui já surgem algumas pistas e indícios sobre onde a história pretende chegar. A primeira parte da hq não prendeu muito a minha atenção, mas a parte final trouxe reflexões interessantíssimas. O primeiro ponto alto para mim foi a história de Jud Süss e de como as pessoas transformam histórias para que elas atendam aos seus próprios propósitos, mesmo que isso descaracterize totalmente a obra original. O segundo foi o diálogo sobre a existência de um "espaço negativo" nas histórias:
"Toda história tem um espaço negativo, senhor Coelho. Coisas que não devem ser consideradas. Verdades que podemos concluir, ou pressupor, mas nunca são ditas. Um jeito de escrever para crianças - o jeito dela - é tentar ser ela mesma uma criança. E então, se fizer isso... O espaço negativo é enorme. Luto. Dor. Traição. Mortalidade. Você tem que fingir que não sabe. Tem que suprimir as coisas que você aprendeu quando adulto. Voltar a ser pequeno o suficiente para passar por baixo da porta. Mas você não pode fazer as coisas assustadoras sumirem. Você só pode trancá-las longe, onde ninguém as vê. (...)."
Talvez hoje já seja possível ver uma mudança nesse "espaço negativo" em histórias infantis. Questões como morte e perda já são retratados em contos para crianças, mas claro que com uma abordagem diferente. Fica uma questão para reflexão: será que estamos vivenciando um estreitamento desse espaço negativo? Se sim, qual o efeito disso no leitor?