souluba 11/12/2022Fenomenologia: busca interminável ou uma universalidade não-toda (atualizado em 12/2022)Sartre, Jean-Paul. Esboço para uma teoria das emoções. Porto Alegre: L&PM, 2019.
O livro é dividido na seguinte estrutura: uma breve história do autor (3 ou 4 páginas) uma introdução e 3 capítulos para o desenvolvimento. É um livro bem curto, como o próprio título sugere: esboço.
Fiz um comentário durante a leitura do livro em 28/02/21 que gostaria de apresentar antes de escrever a resenha:
Talvez, confesso, possa estar um pouco entusiasmado por está lendo Sartre e descobrindo uma coisa que não foi me apresentado na universidade até o momento. Estou me permitindo sentir e experimentar. Aconselho, inclusive."
INTRODUÇÃO AO TEMA COM BREVÍSSIMOS COMENTÁRIOS ACRESCENTADOS POR MIM REFERENTES AO DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA HUMANÍSTICA.
Sartre (1939) e Amatuzi (2009) destacam que a Fenomenologia é um modo de pensamento oriundo da filosofia cujo objetivo é analisar a experiência enquanto realidade subjetiva. Realidade baseada em vivências concretas e situadas, ligadas a um fenômeno, não se tratando, portanto, de uma simples introspecção.
Para Sartre (1939), a Fenomenologia busca evidenciar os fenômenos e as suas significações, em sua base encontra-se a intuição eidética. Os fenomenólogos ajudaram a fomentar o que hoje nós chamamos de Psicologia Humanística vertente pautada na promoção da autenticidade e com foco no diálogo - considerada a terceira força da Psicologia, ao lado da Psicanálise e das terapias sucessoras do Behaviorismo.
A começar por Edmund Husserl, considerado o pai da fenomenologia ele é posterior a Kierkegaard (1813 1855), primeiro filósofo existencial -, este filósofo (Husserl) propõe o método de investigação fenomenológico, por sua vez pautado na descrição dos fenômenos da maneira em que eles aparecem na consciência. Para isso, o sujeito orientado pela teoria da fenomenologia precisaria realizar a redução fenomenológica isto é, abstrair o máximo possível do próprio senso de moral -, que só seria possível com a aplicação da atitude fenomenológica não julgar as experiências documentadas a fim de manter o máximo de neutralidade possível (o máximo de neutralidade possível!). Para Husserl, o conhecimento de mundo do homem é intersubjetivo e pressuposto porque ele é nos dado através da interação social, segundo Amatuzi (2009). O método de Husserl foi muito importante tanto para o crescimento da própria fenomenologia quanto para o desenvolvimento das teorias humanísticas. É possível encontrar pegadas do seu método nos princípios da não-diretividade dentro da Abordagem Centrada na Pessoa.
Buber traz uma perspectiva um pouco singular e que é muito utilizada pela Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Esse filósofo busca analisar a forma em que o homem se relaciona com o mundo a sua volta. Ele traz dois elementos: 1) Eu-tu: no qual há um encontro verdadeiro entre o homem e outrem, com respeito e valor; e 2) Eu-isso: há um encontro coisificado, uma relação que não há a mesma consideração, opondo-se ao eu-tu.
O desenvolvimento das correntes teóricas humanísticas se deu, sobretudo, baseado nas correntes filosóficas da Fenomenologia. Pode-se destacar como principais (e atuais) abordagens humanísticas: 1) Gestalt terapia (Kurt Koffka, Wolfgang Köhler e Max Werteime); 2) Logoterapia (Viktor Emil Frankl); e 3) Abordagem Centrada na Pessoa (Carl Rogers).
DESENVOLVIMENTO DAS EMOÇÕES DENTRO DO LIVRO (DA MANEIRA QUE EU ABSORVI)
[...] em suma, na emoção é o corpo que, dirigido pela consciência, muda suas relações com o mundo para que mude suas qualidades p.66.
O método proposto de análise, supracitado, é a fenomenologia, que consiste em investigar a percepção da essência por meio da experiência e da subjetividade do indivíduo, compreendendo o existir. Abrindo parênteses, ainda estou estudando sobre a prática fenomenológica, por isso não irei me alongar nesse assunto.
A emoção está no corpo, na realidade concreta dos fenômenos internos. De modo geral, ele se utiliza de exemplos práticos da emoção (me recordo da alegria e da cólera) para explicar enquanto usa alguns aspectos da fenomenologia. Para o autor, a emoção é sempre referente a um aspecto biológico, enquanto o sentimento fica totalmente a cargo do nosso intelecto. A consciência é elaborada através da percepção organizada/ interpretada.
Gostei da obra de uma maneira específica. Estou com um pouco de medo (ou posso ter criado alguma fantasia referente a isso já que filósofos são tidos como difíceis de entender).
No começo fiquei muito entusiasmado para ler, as emoções são uma busca minha por aprendizado. Estou inserido em alguns projetos que lidam com a emoção, preciso pesquisar e tentar entender como acontece o fenômeno da sensação e da percepção e a fenomenologia me encantou desde o primeiro contato.
Nota: 4 estrelas.
REFERÊNCIAS
Amatuzi, M.M. Psicologia Fenomenológica: uma aproximação teórica humanística. Campinas: Estudos de Psicologia, 2009.
Sartre, Jean-Paul. Esboço para uma teoria das emoções. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2019.
*A escolha por citar Sartre com a data da publicação original do livro é porque eu senti uma estranheza enorme em datar em 2019 um autor que faleceu em 1980. A ABNT que me perdoe, mas como aqui é uma plataforma de leitores, sinto que possuo uma liberdade maior de expressão.