Breve Espaço Entre Cor e Sombra

Breve Espaço Entre Cor e Sombra Cristovão Tezza




Resenhas - Breve espaço entre cor e sombra


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Bruno 27/01/2014

Terceiro livro do Cristovão Tezza que eu tenho a oportunidade de ler, Breve espaço me encantou de maneira que nenhum dos antecessores conseguiu. Ao ler meu primeiro livro dele, O filho eterno, provavelmente a sua obra mais aclamada, vencedora de enésimos prêmios literários e mesmo traduzido para diversas línguas, encontrei uma obra de boa leitura e que me fez experimentar sensações: partilhei até certo ponto o medo e a frustração do protagonista (que me parece ter requintes autobiográficos que me aproximaram da obra), mas não me deixou encantado como fico com alguns livros. Envolveu-me até certo ponto, mas talvez uma certa ansiedade, um nervosismo resultante da temática da obra (não consegui a momento algum deixar de imaginar como deve ser difícil me colocar no papel daquele pai), acabou com que eu não me entregasse por completo ao livro.

Mas, afinal, essa resenha não é de O filho eterno. Só não consigo deixar de comparar as leituras que fiz do mesmo autor, mesmo estas tendo dez anos de diferença. O filho é de 2007, enquanto Breve espaço foi publicado pela primeira vez, com o título “Breve espaço entre cor e sombra”, em 1998. Cristovão Tezza decidiu por uma mudança de título para a segunda edição, na qual ele revisitou seu eu de anos antes e deu uma polida em sua obra.

A história narrada é a de Eduardo “Tato” Simmone. Vinte e oito anos, pintor, vive do dinheiro da mãe (negociadora de artes em Nova York), dono de um apartamento respeitável e uma garagem improvisada em ateliê em Curitiba. Após a morte de seu antigo mentor, Aníbal Marsotti, com o qual Tato já não tinha tanto contato, ele precisa de um novo “mestre”: um referencial, alguém que esteja disposto a ver e discutir, criticar suas obras, colocá-lo como sua referência. Ele nunca conseguiu viver sem um mentor, e agora pode encontrá-lo na figura do misterioso marchand Richard Constantin, um senhor, velho e boa-pinta, com uma reputação deveras suspeita que lhe precede. Ao mesmo tempo, é abordado no próprio enterro de seu antigo colega, por uma mulher, pálida de cabelos bem pretos, que lhe diz que Aníbal sempre o apreciou como amigo e pintor. E já diz Constantin: cuidado, ela é uma vampira, e como fez com Marsotti, sugar-lhe-á o sangue até a última gota.

(Mais no link.)

site: http://adlectorem.wordpress.com/2014/01/27/breve-espaco/
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Dostolexi 09/02/2024

Italiana apaixonada, cabeça de pedra
Breve Espaço é daquelas melhores coisas da vida que são encontradas por acaso. Nunca que poderia imaginar encontrar o meu livro nacional favorito por vinte reais em uma feira de livros no colégio. Confesso que fiz um julgamento superficial do livro: comprei porque me interessei pela cor rosa da capa e pelo título, péssima crítica de arte. Mas não poderia imaginar ler a mais perfeita das abstrações feita em um livro. De todos os caminhos que Cristóvão Tezza poderia tomar a partir das nuances do controverso e estrangeiro (distante das relações humanas como Meursault de Camus) Tato Simonne, a necessidade de validação externa, as pessoas que se perdem e se vão de sua vida, seu (ex) vício em drogas, seu jeito leve e leviano, suas inseguranças e aceitação da própria mediocridade, sua família conturbada, o enterro do melhor amigo, o autor escolhe o que abarca todos eles, e o trilha com maestria. A obra merece elogios não só pela narrativa, totalmente emocional e psicológica que faz você não se apegar pelos personagens pois se torna, eventualmente, eles em algum momento do livro, mas a maneira como é escrito. Tezza esbanja técnica e sentimento, destrinchando com rico vocabulário e detalhes, fazendo o leitor visualizar as cenas como um filme, ou como uma tela em um museu, além dos sentimentos e pensamentos e devaneios dos personagens expressos de maneira veloz como os ônibus e trens da lógica em períodos extensos. Um livro repleto de cat(arte), onde o dilema moral dos grandes artistas e os impactos das artes, expressas em sua totalidade aqui, no mundo são questionados e postos a prova, qual o valor da arte? perder a cabeça por uma cabeça de pedra. A partir de um enterro, uma ousada abordagem logo de início mas longe do clichê de "começar o livro pelo fim", a ganância, os amores e as oportunidades boas e más que vem junto da arte são desenroladas, em uma sucessão perfeitas de encontros, desastres, coincidências e baques que explodem todas juntas nas últimas cem páginas.

É merecido um parágrafo exclusivo dedicado a carta da Italiana apaixonada, personagem que me serviu de espelho, que mergulha suicida em uma paixão de um dia que acontece literalmente acidental, já muito decepcionada com a vida e com o amor mas perseverante, e dedica o que chama de "testamento" lindas declarações para um homem que amou intensamente por menos de doze horas e trocou poucas correspondências e desenhos desde então. Escreve sem pretensão de ser ouvida ou respondida para seu amado do outro lado do mundo, declara sua paixão e explica a sua vida de maneira a aproximar um homem eternamente distante. Distância essa refletida na existência da própria personagem sem nome. Como ela, outros personagens não carregam nome pois são aqueles que esperaram uma proximidade do protagonista que ele nunca fez questão de ter, e os que tem nome são aqueles que invadiram a intimidade de Tato por conta própria e o deixaram sem escolha. Triste, sentimental, iludida, sofrida, apaixonada e carinhosa, a romana carrega com sobra todos os sentimentos que o pintor brasileiro falta, possui o calor tropical das emoções mesmo com a distância européia das gerações e do clima.

Breve Espaço diz coisas que parecem sempre ditas, que pareceram que existiram dentro de mim para sempre, mas que eu desesperadamente precisei ouvir.
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