Adriana Scarpin 29/10/2016Meu assassino"hoje encontrei meu assassino.
dispersa, olhei para a plateia e ele estava lá
os olhos fixos em mim.
soube na mesma hora
de quem se tratava
tentei disfarçar a chuva
que deixou a franja bagunçada
na frente dos olhos mas o assassino
me olhava mas eu revidava
muito dura: era um jogo.
sabia que a qualquer respiração
se eu desconcentrasse ou tropeçasse
ele não perdoaria nunca (isso já aconteceu antes).
lembro bem quando
o meu assassino me atirou
pela primeira vez
a diferença é que agora sei
como se chama sei o formato do maxilar
e como ele me olha com esses olhos
de assassino.
pensei em chamar a polícia, os jornais
pensei sobretudo
em mudar de cidade
e não contar para ninguém, assim
o meu assassino me procuraria
nos mesmos lugares de sempre
mas frustrado voltaria para casa
e me escreveria longas cartas
dizendo fique avisada, seus dias estão no fim.
contudo meu assassino jamais seria
capaz de me encontrar
e por isso as longas cartas
que ele levaria ao correio muito bem
dobradas em envelopes com cheiro
de canetinhas coloridas
as cartas não chegariam em parte alguma
pois não constaria o meu nome
em nenhuma página amarela
ou conta de luz.
meu assassino bateria na porta
da minha antiga casa
no que eu o convidaria para entrar
ofereceria um café e diria
que pena! que desencontro! que perda!
ela não mora mais aqui."