Nath 31/03/2024
Incômodo
"Apesar de a sociedade estar ali, representada pelos carcereiros e pelos curiosos aterrorizados, o crime a provocava cara a cara, e daquele castigo terrível se fazia uma festa de família."
Publicado em 1829, o último dia de um condenado narra o percurso de um criminoso entre julgamento, condenação e execução de sua pena de morte.
O livro é narrado em primeira pessoa, como forma de diário do apenado, que logo nas primeiras páginas recebe sua condenação.
O infrator - de quem não se sabe nada, além de sua sentença - narra seu processo interno e externo de adaptação à ideia da morte na forca.
Apesar de curto, a narrativa é intensa e angustiante, em alguns momentos beirando o desespero. Do ponto de vista do condenado acompanhamos de perto o seu sofrimento, a saudade de sua família, a angústia de saber o que está por vir e a impotência de não poder alterar o seu destino.
O que me chamou atenção nesta história é que em momento algum o crime é nos revelado. Este fato me levou a uma reflexão: será que, a depender do crime cometido, o leitor teria uma diferente reflexão às dores do prisioneiro?
Claramente uma crítica ao sistema, Victor Hugo traz à tona os sentimentos mais dolorosos e agoniantes do personagem, aproximando-o ainda mais do leitor, tornando a leitura ainda mais incômoda.