/QMD/ 11/06/2013
Sophia também não é blogueira.
O livro número 1 da Lote 42 é uma coleção de textos do blog Já Matei por Menos - E Já Escrevi Por Mais, escrito por Juliana Cunha. O blog tem cunho pessoal, mas a autora relata aquilo que quiser, não necessariamente sobre sua vida. Livros lidos, filmes assistidos, páginas que acessou, pessoas que conheceu, dramas que aconteceram. Cotidianices, gostos, vontades, analogismos. O último post, por exemplo, foi escrito depois de revirar uma gaveta e encontrar um boletim escolar do namorado dela.
Em Já Matei por Menos podemos ler sobre os leitores de blogs, os blogs que dão dicas em vez de opiniões, carros que estacionam na calçada, Clube da Luta, pessoas que não se emocionam, flexibilidade de senhoras que conseguem sentar no chão, ser crítico, Gisele Bündchen, simplicidade, trabalhar no verão, famosos, pessoas bonitas que se tornam chatas e/ou obesas na adolescência, viciados em doces, Maurício de Souza, internet, jornalistas de moda, como a ficção influencia nossas mentes no processo de desidiotização, reflexão inútil, religião, Povos do Mar, dentistas, escrever com letra pequena, energia sustentável proveniente do ego, calor, buscas no Google, ufologia, constrangimentos, comportamento de pessoas na chuva, ser
freela , comer chocolate sem culpa, preconceito, a sujeirinha do próprio umbigo, Seinfeld, leitores que abrem os livros num ângulo obtuso, idiotas, feng shui, brincadeiras de "bom dia" e "com licença", móveis das Casas Bahia, pavê (dos infernos), antropologia, ser humilhado, Daiane dos Santos, incompreensão, modelos (ou pessoas que espirrando são mais bonitas que a gente casando), boas notícias e a serenidade segunda Juliana mesma.
Juliana Cunha nasceu pra fazer o que faz. À medida que lemos cada um dos 70 textos do livro vemos que a moça tem talento pra arrancar pensamentos, risadas e concordâncias de uma forma bem sutil, delicada. É fácil balançar a cabeça para a autora, mesmo quando você parece discordar do que ela diz. É fácil se enxergar arranhando um carro depois que ela explica porque este é um grande ato de civismo. Algumas opiniões são polêmicas sim, como a crônica sobre o kardecismo, mas são expostas com clareza e com agressividade ausente.
As crônicas não são descritivas demais, porém conseguimos imaginar Juliana e seu namorado ou, quem sabe, qualquer outro casal divagando por um eufemismo para casamento e relacionamento (eles escolhem o termo "pegação" para ser usado; uma pessoa que acaba de ser demitida chorando em posição fetal enquanto a água do chuveiro cai sobre ela; uma pessoa procurando seu nome no Google e se entristecendo porque seu resultado não aparece no primeiro lugar. De identificação fácil, Juliana dá uma cara irônica e ácida àquilo que estava ali mas nós, tolos, não enxergamos.
Os aspectos gráficos do livro também são ótimos. Papel amarelado e diagramação bacana nas páginas internas, em especial pelos marcadores dos contos. A capa tem essa ilustração linda do Hitler sendo atropelado por um tigre e um pato laranja na quarta capa. O marcador, tem alguma celebridade que empresta sua cabeça ao Harry Potter. Se não me engano, é o Renato Aragão, vulgo Didi. Se a editora quiser mandar alguns pra gente tirar a prova... hihi
Todas as crônicas são legais? Sim.
Então, Sophia, você curtiu tudo? Não. Acho que falta um segundo volume. E terceiro. Quarto. Quem sabe um livro só com contos inéditos, né?
RESENHA COMPLETA: http://www.quermedar.com/2013/06/jamatei.html