Concerto para Quatro Mãos

Concerto para Quatro Mãos Henrique Komatsu




Resenhas - Concerto para Quatro Mãos


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Pri 22/05/2016

Uma vida em poucos minutos
Baixei o e-book de graça pelo site da Amazon e fiquei lendo pelo celular, quando estava na rua e tinha tempo, o que acabou me fazendo demorar mais do que o normal para ler. A sinopse no Skoob é bem enigmática, o que me deixou curiosa a respeito da história.

"A experiência visual e autobiográfica que antecede a morte é acompanhada por um único sentimento, o medo. Não se trata de pavor ou pânico, mas de uma desconfiança muito forte, quase uma certeza, de que nada daquela vida será novamente apreciado. É a mais insaciável das saudades."

Toda a história do livro se passa durante um acidente de carro. O protagonista e seu irmão mais novo um dia decidiram que seria bom fazerem uma viagem juntos. Organizam tudo, pegam o carro e saem em busca de sua aventura. Até que, surpreendendo nosso narrador, o rumo do carro muda abruptamente e ele se encontra em meio a um acidente, que não sabe como começou, nem como vai terminar.

"Um aspecto dessa película vital que nos sucede diante da morte – ao menos na minha, digo – é que, por vezes, não segue exatamente uma ordem cronológica... ela passa por um misterioso processo de edição."

Enquanto, lentamente, o acidente vai acontecendo, o personagem vai então relembrando sua trajetória até ali. Lembra de sua infância, na pequena cidade de Chaval, sempre ao lado de seu irmão. Relembra as brincadeiras, a escola, os pensamentos infantis. E um certo equilibrista que um dia conheceu, e que marcou sua memória. Relembra também como foi a decisão de ir viajar e como foi o retorno à sua antiga cidade, a primeira parada dos dois. Enquanto esses pensamentos voam por sua mente, o medo de não saber se vai sobreviver o domina aos poucos, o que o faz refletir ainda mais sobre sua vida e a presença constante e confortadora do seu irmão.

"De um jeito ou de outro, todo mundo vai voltar pro chão, mas alguns vão ter sentido o vazio debaixo dos pés, porque enquanto você caminha na corda, você vê seu tombo a cada passo que dá. Esse é o grande medo... Ninguém tem medo da altura, tem medo da queda. Não é lá grande coisa – eu concordo – mas... Todo mundo acaba no chão, só que você pode escolher o jeito."

Sabe aquela frase que a gente sempre ouve, que, ao passar por uma situação de morte certa, a vida inteira passa em frente aos nossos olhos? É exatamente ela que descreve esse livro. O protagonista (seu nome não é revelado) passa pela situação surreal do capotamento do carro e repassa os momentos mais marcantes que viveu enquanto isso.
Apesar de não acontecer muita coisa, o principal fator que faz o leitor querer continuar lendo para chegar até o final é para descobrir se os irmãos irão sobreviver ou não ao acidente. Isso instiga a leitura até nos momentos em que está mais parada.

"Escrevemos sempre para esclarecer, descrever ou julgar alguma parte de nossas almas. Nossa caligrafia estampa a página em branco com impressões, pensamentos... ou mesmo, quase sempre, com alguma mentira, nossas mentiras."

A narração é divida praticamente em três partes que se revesam: o presente (o que está ocorrendo durante o acidente), o passado mais distante (infância) e o passado mais próximo (acontecimentos da viagem). Essas mudanças me deixavam confusa algumas vezes, mas rapidamente estava inserida de novo no momento certo da história. O livro não é dividido em capítulos, mas possui divisões de partes, e os diferentes momentos tem separações que indicam a mudança de pensamento. Tem poucos diálogos, possuindo muita descrição sobre os acontecimentos e pensamentos do personagem.
É um livro bastante filosófico que nos traz a mensagem da efemeridade da vida, do quanto tememos o desconhecido e da intensidade do egoísmo humano. Sua escrita um tanto poética nos faz refletir sobre o que estamos lendo, então fiquei feliz por ter lido bem devagar, porque tive tempo de absorver os eventos narrados, caso contrário acabaria achando a história cansativa.
Não é um livro para relaxar, nem para ser lido sem atenção. Foi escrito para reflexão e deve ser lido com paciência, por leitores que gostem desse tipo de história filosófica, pois não é qualquer pessoa que irá gostar. É um romance diferente, que trata de um amor que muitas vezes passa despercebido em nossas vidas: o amor entre irmãos.
Gostei de começar com esse livro do Henrique, e espero ter oportunidade de ler seus outros livros também. :)

"Ora, a vida é a experiência, a constante realização do egoísmo. Experimenta-se-o de todas as formas, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte... Arrogância. Pura e simples."

site: http://www.sigolendo.com.br/2016/05/cheiro-de-livro-novo-concerto-para.html
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