Xing Ling

Xing Ling Victor Mascarenhas




Resenhas - Xing Ling


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Andreia Santana 06/04/2013

Revolta baiana made in China
As citações a Antonio Risério, em crítica do antropólogo à obrigação do soteropolitano ser feliz os 365 dias do ano e à carta de demissão do governador-geral e fundador de Salvador, Tomé de Souza, que, de forma comovente, implorou a D. João III para dispensá-lo do pesado cargo, sinalizam o que o leitor irá encontrar nas breves 80 páginas de Xing Ling – Made in China, primeiro romance do escritor e roteirista Victor Mascarenhas, lançamento da Solisluna Editora.

Seja no ritmo caudaloso das palavras ou no tom revoltado e panfletário, de nítida conotação política, embora apartidária, o livro remete aos versos de escárnio do poeta colonial Gregório de Mattos, mas sem deixar de recordar o deboche do velho Cuíca de Santo Amaro, que, quando encarapitado em caixotes de feira, disparava farpas contra os poderosos da “Cidade da Bahia” em inspirados cordéis.

Xing Ling é anárquico até no nome, que faz referência às quinquilharias tecnológicas pirateadas pelos chineses. Mas, nem por isso, deixa de expor as feridas de uma Salvador em vias de desintegração. O livro, embora entretenha com seu tom escrachado e a narrativa mirabolante de filme de aventura, tem um objetivo mais sério: abrir consciências, tanto quanto a droga sintética Eparrey!, arma utilizada por um grupo de guerrilheiros esfarrapados no combate ao sistema – aqui representado pela grande indústria do entretenimento baiano – que envolve e espreme a cidade idealizada pelos portugueses para representar o poder da Coroa no Atlântico, tal qual os tentáculos de um polvo gigante.

Em resumo, a obra se passa em um futuro hipotético, quando o Pelourinho – patrimônio arquitetônico e cultural da humanidade pela Unesco – é transformado por um conglomerado empresarial chinês, numa espécie de Costa do Sauípe Intramuros do Dendê. O Centro Histórico, núcleo original da fundação de Salvador, é metaforizado no coração da capital, logo, em uma espécie de centro de força gravitacional de seu povo.

O “Pelô” de Xing Ling está cercado por muralhas e fossos eletrificados que mantêm a população nativa afastada, enquanto turistas estrangeiros e endinheirados abrem as bocas entediadas diante das suntuosas igrejas barrocas. Arte sacra, baianas, capoeiristas e toda a sorte de personagens míticas daquele cenário medieval, que embasbacavam cronistas e viajantes estrangeiros, como Maria Graham e Maximiliano da Áustria em tempos idos, e que inspiraram Jorge Amado, agora não passam de imitações em plástico ou atores contratados e controlados por chips para divertir os “gringos”.

Do lado de fora dos muros, um grupo de nativos se organiza e, usando a Eparrey! como o comprimido vermelho de Matrix (a referência à saudação a Iansã e à transcendência do Candomblé não são meras coincidências), tentam retomar o coração de Salvador e devolvê-lo ao seu povo, instaurando uma guerra civil para resgatar a identidade legítima dos baianos e abolir as distorções de uma baianidade fake.

Não faltam ironias disparadas contra os partidos de esquerda ou direita que se sucedem no poder e rateiam a cidade ora para um grupo empresarial, ora para outro. E, tampouco, o livro deixa de tocar nos males advindos da pasteurização da cultura baiana e sua reembalagem tipo exportação. Sobram tiros de Eparrey! para a axé music e seus ritmos derivados e para o fundamentalismo religioso que ameaça liberdades civis. Não deixa de haver, ainda, a crítica amargurada contra os próprios soteropolitanos, que, passivos e anestesiados (como a população descrita em Admirável Mundo Novo e suas doses de Soma) pela promessa de “eterno Carnaval”, assistem a transformação da cidade em um monstrengo de aço, vidro, engarrafamentos caóticos e injustiça social.

Xing Ling, com seu desfecho surpreendente e em aberto, é um desabafo pessoal de seu autor, mas que pretende representar os anseios coletivos de uma população que perdeu a si mesma nos exotismos da própria cultura.

Quem é – Victor Mascarenhas é escritor e roteirista. Já publicou dois livros, Cafeína, de contos e vencedor do Prêmio Braskem de Cultura e Arte de 2008, e A insuportável família feliz, em 2011, após ser um dos finalistas do Prêmio Off Flip, que ocorre em paralelo à Festa Literária Internacional de Paraty. No cinema, foi um dos roteiristas de Esses Moços (2010, José Araripe Jr).

*Resenha escrita originalmente para o Caderno 2+, suplemento cultural do jornal A TARDE (BA) e publicada na edição de sábado, 06/04/2013. Também replicada no blog Luz sobre a escrivaninha, que mantenho no portal A TARDE (www.atarde.uol.com.br)
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Daniella Souza 18/09/2016

"A grave crise econômica mundial, que abalou o século XXI e destroçou a economia de vários países, abriu espaço para grandes empresas chinesas, como a poderosa Shanzai Entertainment Group, que aproveitaram a sua enorme liquidez financeira, a força do Yuan, a vocação natural chinesa para a pirataria econômica e a corrupção dos burocratas para comprar pedaços de cidades, florestas, monumentos e vastas extensões de terra em todos os continentes."

É um livro que pede para virar filme. Ao mesmo tempo que é divertida, a história fala de diversos problemas de Salvador, tratando de forma irônica coisas como, por exemplo, o metrô que nunca acaba. O autor critica não só a decadência da cidade, como a "baianidade para turista ver".
Xing Ling é uma história que se passa em um futuro dominado pelos chineses, que transformaram diversas cidades em parques temáticos, inclusive Salvador, onde o Pelourinho foi transformado no Terra da Felicidade. No livro o autor traz muito da cultura baiana e conta muito da história de Salvador, inclusive "lendas urbanas" (ou não) bem engraçadas.
Depois que o Terra da Felicidade foi implantado, Salvador que já não era uma grande maravilha, foi deixada totalmente de lado pelos chineses. Os cidadãos que não conseguiam um emprego no parque viviam na miséria e todos que trabalhavam no parque eram controlados por um chip.
Mas claro que os soteropolitanos não iam aceitar isso tão fácil assim e um grupo de rebeldes, os caramurus, foi criado para tomar o Pelourinho dos chineses e ter Salvador de volta.
Imaginaram a confusão? Leiam e não vão se arrepender. ^^

Sinopse

Como define o próprio autor, esta é uma alegoria debochada sobre a cidade de Salvador em um futuro imaginário, que mistura Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley) com Capitões de Areia (Jorge Amado). Os chineses dominaram o mundo e na capital baiana, transformaram o Pelourinho, tombado como patrimônio cultural da humanidade, em um complexo turístico para "gringo" ver, com muralhas e fossos eletrificados separando o velho centro histórico do resto da cidade. Um grupo de soteropolitanos, usando como arma uma droga sintética, pretendem retomar o coração da cidade, nem que para isso seja preciso fazer uma guerra civil...

site: http://canastraliteraria.blogspot.com.br/2013/05/xing-ling.html
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