JeffersonCevada 20/09/2016EpifaniasUm jovem – não sabemos seu nome nem ao certo sua idade – nos conta fatos de sua vida. Em sua maioria, fatos para fora de sua casa. Sua família, nas poucas vezes que é mencionada, nos passa despercebida, quase como se fossem figurantes. Não há uma história propriamente narrada (já aviso, se seu negócio é enredo engenhoso, esqueça esse livro), mas há um “tecido” de acontecimentos, como prevê o título.
O mérito está na forma de apreender e narrar esses acontecimentos.
A estupefação, as sensações profundas, as nuances dos momentos fugazes compõem a matéria recolhida pelo narrador personagem. Com isso o livro se coloca cheio de experiências epifânicas. O personagem está sempre buscando o isolamento, a solidão, os espaços secretos do seu entorno e de si mesmo. É recorrente as situações em que ele se vê dentro de um fosso profundo de um terreno baldio, no alçapão de um teatro deserto, no subsolo de uma estação de trem e, geralmente, só – como uma metáfora ao esforço do personagem em seu mergulho ao mais profundo de si. Por outro lado esses mergulhos representam também um esforço para recuperar a realidade que se configura em seu entorno, que é sempre descrita com alta carga sensorial. As descrições são repletas de cheiros, brilhos, texturas, sons e sensações vindas da intuição ou da alucinação.
O personagem parece ter algum “desvio” psicológico embora tudo que ele narre – e há muitas situações absurdas e bizarras – é feito com naturalidade, como se aquilo fosse banal e acontecesse com qualquer um. Com qualquer um que pergunte: “Em que consta o sentido da minha realidade?”.