Corpus Delicti

Corpus Delicti Juli Zeh




Resenhas - Corpus Delicti - Um Processo


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Ian.Luc 21/02/2020

@DepreBooks | Resenha
"[...] Esse é o segundo livro que leio de Juli Zeh, um dos mais fortes nomes da literatura contemporânea alemã, e mais uma vez fiquei preso nessa história do início ao fim.
.
A bióloga Mia Holl perde seu irmão, um idealista, e agora se vê questionando os propósitos do Método e o significado da existência, uma vez que o Estado nos controla a todo instante. Será que eles realmente estão "livres"? [...]"

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Cláudia 23/05/2013

Corpus Delicti é uma distopia que se passa em um futuro próximo, não é um futuro apocalíptico ou nada assim. O Método, o sistema que controla o país, surgiu com a busca por uma vida mais longa, livre de doenças. Os crimes e infrações são todos ligados a saúde da nação, os cidadãos não devem pensar como indivíduos, eles devem fazer tudo pelo bem maior, não é permitido colocar a si ou outros em risco. Por isso todos tem obrigações relacionadas a alimentação, limpeza e atividade física.

A casa e corpo de cada um devem estar sempre limpos e desinfetados, só é autorizado o consumo de alimentos controlados e benéficos, além da obrigação de praticar exercícios físicos diariamente. O sistema controla os esgotos, para ter certeza que nenhuma substancia proibida esta circulando e cada cidadão precisa apresentar exames mensais provando que suas tarefas foram cumpridas. Os relacionamentos não acontecem mais naturalmente, assim como o resto, as relações devem acontecer entre pessoas biologicamente compatíveis, o órgão CBP – Central de busca de parceiros, esta aí para “facilitar” a vida de todos nessa questão.

Mia Holl, a protagonista desse romance, sempre aceitou bem o Método. Ela é uma bióloga de 30 e poucos anos, ainda sem interesse em buscar um parceiro. Ela vive bem em um bairro condecorado pelo cumprimento das regras e a esta satisfeita com sua carreira. Alias o seu trabalho é mais um fator que a torna uma simpatizante do Método. Bem, pelo menos por enquanto.

O irmão mais novo de Mia – o estudante de 27 anos Moritz, nunca aceitou o Método, ele quer experimentar a vida como ela é, comer uma fruta direto da árvore, andar pelas áreas não controladas, nadar no rio. Ele quer ser livre. Apesar dos irmãos serem bem próximos, Mia não entende bem esse lado do irmão, assim como Moritz faz piada da natureza submissa da irmã. Moritz odeia o Método, porém ele se diverte bastante com o CBP, vive tendo encontros com as escolhas compatíveis para ele e é um desses encontros que vai bagunçar toda essa história. Uma das pretendentes de Moritz é encontrada morta (e estuprada) no local do encontro dos dois, o DNA encontrado no corpo da vítima é de Moritz, portanto ele é preso e condenado. Isso afeta imensamente Mia, ela começa a sair dos trilhos, deixa de fazer exercícios e outras tarefas, passa a ter dúvidas sobre tudo em sua vida, inclusive o infalível - Método.

Uma narrativa envolvente que mostra o passado – Mia e Moritz conversando, refletindo e discutindo – e o presente – Mia lidando com a morte do irmão e agora um processo por quebrar as regras, numa trama que vai crescendo. O Método não é algo fácil de julgar, a ideia principal é positiva - uma sociedade saudável e feliz, o problema são mesmo as pessoas, dos dois lados. Não conhecia o trabalho da autora e fiquei realmente impressionada com a trama que ela criou. O Método é só um nome dado ao sistema que esta no poder naquele momento, porém não nego que ele é bem intrigante e desenvolvido de forma realista, quero dizer, não seriam necessárias tantas mudanças para implementa-lo. E isso, é assustador.

O ponto alto da história sem dúvida são os relacionamentos. As lembranças de Mia com o irmão, as discussões dela com a amante dele (uma mulher imaginária sem confiança alguma no mundo) e o advogado (irritantemente animado) que cuida do caso dela. Além do enigmático Kramer, o cara que ela considera culpado direto pela morte do irmão, ao mesmo tempo esses dois tem uma dinâmica incrível, para inimigos as opiniões deles até que combinam em alguns pontos. Dentro das relações estão as maiores sacadas da autora, os jogos de palavras, a forma como os lados apresentam suas verdades, cheguei a ficar triste pelo andamento do caso de Mia. Destaco também, já falei de um órgão do Método, então nada mais justo do que comentar um antimetodista, o DAD – Direito à Doença, achei genial, o ódio é tanto que as pessoas realmente buscam esse direito.

O livro aborda vários assuntos sobre os quais gosto de ler, achei bem interessante a visão do Método sobre a depressão e doenças em geral, me fez pensar bastante. Como muita gente não quer deixar de ter algum problema, afinal isso é um tópico de conversa, fonte de atenção e afeição instantânea. Assim como eles mostram a segurança total, e não é vida, significa apenas passar pelo mundo sem muitas experiências, sem nunca tocar em ninguém, tudo é previamente testado, não é possível criar nada sozinho. É aquele velho lance dos extremos. Contudo é um livro essencialmente sobre as pessoas, como elas nunca deixam de nos inspirar e chocar para o bem ou mal.

http://www.concentrofoba.com.br/
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Miguel.Martins 26/08/2021

Foi uma experiência interessante ler, no meio de uma pandemia, uma ficção distópica sobre uma sociedade que considera a saúde o bem comum supremo. Ninguém adoece há mais de meio século, todos são obrigados a se manter saudáveis, apresentando relatórios periódicos de saúde e higiene, não se pode fumar nem beber. E ainda por cima, todo mundo de máscara rs

Com esse pano de fundo, a autora levanta umas questões muito interessantes sobre a validade dos sistemas sociopolíticos postos. Seria realmente possível atingir uma sociedade perfeita? Existem, de fato, sistemas melhores do que os outros? Existem ditaduras válidas, se elas de fato estiverem buscando o bem comum? Aliás: é possível alcançar o bem comum em sua perfeição?

Ficam aí os questionamentos.
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Natalia.Eiras 28/05/2013

Um distopia tensa, densa e assustadoramente possível
Imaginem um mundo que vive constantemente em guerras; onde conceitos como nação, religião e família perderam sua importância rapidamente; os valores estavam em decadência e perdera-se completamente toda e qualquer segurança. Todos começaram a temer uns aos outros, com o medo regendo a vida dos indivíduos. As consequências para isso foram as quedas na taxa de natalidade, o aumento de doenças como o estresse, assassinatos em massa e terrorismo.

Você pode achar que eu estava descrevendo apenas o mundo que vivemos hoje. Bem, de certa forma, você esta absolutamente correto, mas a descrição acima é um resumo de como, e por quê, o mundo deixou de ser um caos e passou a ser controlado pelo Método, um novo sistema de governo onde o indivíduo é altamente controlado e monitorado a fim de extinguir qualquer possibilidade de doença, física ou mental, e aproveitar ao máximo o potencial humano. Tudo nesse novo mundo é regido pela lógica, e o que a lógica diz? Ela diz, por exemplo, que não é muito inteligente e saudável trocar saliva com uma outra pessoa durante o ato de um beijo. Afinal, a saliva contém milhares de germes e bactérias nocivas a sua saúde bucal. Isso é um exemplo bobo, porém demonstra muito bem como passou a funcionar o cérebro das pessoas. Agora utilize essa lógica para tudo que esta a sua volta e você compreenderá bem como é o mundo que Mia Holl vive.

Mia Holl é uma bióloga brilhante, que já nasceu em um mundo dominado pelo sistema do Método. Ela nunca experimentou uma doença ou uma dor física. Ela possui um chip implantado sob a pele no braço direito, que envia as informações médicas para o Método, e precisa seguir a risca uma série de protocolos de exames regulares, bem como se alimentar conforme as recomendações médicas e fazer exercícios diários.
Tudo neste mundo é feito para promover a saúde do indivíduo e sua longevidade. Não existem bactérias. Você precisa usar um protetor bucal para não transmitir doenças relacionadas a saúde bucal. Até a escolha de um parceiro sexual esta ligado ao Método. Assim como uma agência casamenteira, o Método escolhe uma parceira para você procriar, de acordo com seu histórico médico, sua genética e etc...

O sistema jurídico do século XX que era basicamente para condenar criminosos, como estupradores, ladrões e falsários, ganha uma nova vertente: julgar aqueles que vão contra as normas sanitárias impostas pelo método, ou seja, aquelas pessoas que querem ter o direito de ficarem doentes. Que são descuidadas com a saúde.

Tudo ia muito bem, até que o irmão de Mia é condenado injustamente por esse novo sistema judicial, após ser acusado de matar e violentar uma possível parceira sexual.
Mortiz jura que nunca tocou na mulher, mas seus sêmen é encontrado no corpo, e em um sistema onde a lógica impera, um teste de DNA que dá 99% de chances de acerto é muito mais confiável do que a palavra de um homem.

Sem conseguir comprovar sua inocência, Moritz decide tirar a própria vida, pois como ele mesmo afirma no livro, "a vida é uma oferta que também se pode recusar". Mia sente-se sozinha, passando seus dias e noites trancada em seu apartamento com a amante ideal, uma mulher que Moritz criou e que deixa como último presente para Mia antes de morrer. Mas peraí?! Ficar trancada em um apartamento, com uma mulher que só você consegue ver, sem seguir a dieta e os exercícios impostos pelo Método?
Isso é claramente um caso de depressão com agravamento para esquizofrenia!
Isso indica que ela esta doente, certo? Mas... doenças não eram proibidas? Acho que Mia tem um problema... que vai ficar muito pior quando ela descobrir que o irmão dela era inocente e foi condenado injustamente pelo sistema.

O livro é muito tenso, denso e assutador. Tenso, pois você consegue se colocar no lugar de Mia, vivendo nessa sociedade totalmente desinfetada e extremamente racional. Convenhamos, com os avanços das tecnologias e da medicina, não é nenhuma novidade que a daqui a poucos anos a medicina pode estar tão avançada que o ser humano não terá mais que se preocupar com diversas doenças e passará a viver muito melhor e por mais tempo.

Denso, pois como a sociedade é guiada pela razão, os diálogos são muito racionais. Cada diálogo parece uma manobra de xadrez. Nada ali é dito por acaso. Estamos acostumados a ter um diálogo, onde a ideia é bem explícita, porém, neste livro, cada frase esta carregada de sentidos e de forma rebuscada, ou seja, seguindo à risca a norma culta da língua.
Ex:. Qual é a segunda pessoa do singular? Tu. Logo, quando os personagens querem falar na segunda pessoa, eles utilizam o pronome referente a esta pessoa, de acordo com as regras da gramática portuguesa!
"- Tu não sabes de nada Moritz! Tu és um sonhador!"
Esse é um exemplo bobo, mas é mais ou menos por ai a coisa.

É assustador, pois se pararmos para prestar atenção no que esta sendo dito no livro - que os governos não mudam, o que muda é como as pessoas se submetem a eles, e que um ser humano sem liberdade não tem por que viver - vemos que é tudo verdade; vemos que não estamos muito longe de chegar a realidade apresentada no livro, só que de maneira menos apocalíptica e mais ideológica, mas não menos assustadora. Afinal, será que é tão impossível assim que no futuro o ser humano passe a idolatrar o corpo como algo sagrado e que deva ser preservado a todo custo e por conta disso, ele abra mão da sua própria liberdade?

Ah é... eu esqueci... nós já fazemos isso quando vivemos em dieta quando não precisamos (apenas para perder alguns quilinhos, né?); quando malhamos pra ficar sarados e não pra ter saúde; tudo isso para nos enquadrarmos no modelo de beleza que a sociedade impõe.

O final é completamente inesperado. Eu fiquei pasma com o desfecho e já adianto que se a autora quiser, tem como fazer uma continuação.

Se você gosta de distopias e esta disposto a algo completamente diferente do que você leu até agora... esse livro é feito pra você.
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Núbia Esther 26/07/2017

Quando Corpus Delicti foi lançado aqui no Brasil logo me chamou a atenção. Um sistema totalmente amparado pelo conhecimento científico. A humanidade que goza da saúde perfeita em detrimento de sua autonomia individual. Uma sociedade sem guerras, doenças, fome…, mas, com um controle supremo do Estado. Demorei séculos para lê-lo e rolou um pouco de arrependimento de não o ter feito antes, porque a obra de Juli Zeh, apesar de distópica, tem uma ressonância na realidade que assusta. Em tempos de boom sobre a genômica pessoal e variações do tema. Basta extrapolar um pouco as fronteiras e a sociedade de Zeh bem poderia ser factível.

“Ali nada mais fede. Ali ninguém escava, nada lança fumaça, não se derruba e não se queima; ali uma humanidade que enfim se mostra calma e tranquila cessou de combater a natureza e assim também de combater a si mesma. ” (Página 13)

Para atingir esse nível de bem-estar social tudo é controlado pelo Estado. Níveis de cafeína na corrente sanguínea, quantidade de exercícios semanais, exames médicos periódicos, etc. Tudo é monitorado e julgado pelo Estado. O indivíduo que imputa danos ao seu corpo deve arcar com as sanções impostas a ele. Nessa sociedade não há espaço, na realidade não há direito, para sentir pudor. Nada referente ao indivíduo é de cunho privado. Tudo sancionado pelo que o governo denomina de o Método.

A bióloga Mia Holl acreditava piamente no Método, até ele se tornar motivo da condenação de seu irmão Moritz. Ele, um jovem idealista que sempre confrontou Mia acerca da esterilidade da existência humana nesse regime, foi acusado de um crime que ele diz não ter cometido. É o estopim para que finalmente Mia entre em conflito com o regime e coloque publicamente em xeque o Método.

“(…) quem combate o MÉTODO é um reacionário. Quer voltar a um estado de dissolução social. Não se volta abstratamente contra uma ideia, mas sim de modo bem concreto contra o bem-estar e a segurança de cada um de nós. Antimetodismo é um ataque belicoso ao qual responderemos com o belicismo da guerra. ” (Página 88)

Mia toma para si a motivação de Moritz, a começar por herdar a amante ideal, mistura de ser imaginário/alter ego/alucinação que vive questionando-a sobre suas escolhas e crenças, e terminando por sua prisão que ecoa a de seu irmão. É aqui o ponto de início da narrativa de Zeh, o veredicto do julgamento de Mia Holl. A partir daqui ela nos convida a voltar no tempo e destrinchar os acontecimentos que nos trouxeram até aqui. A narrativa é em terceira pessoa e o narrador frequentemente conversa com o leitor e pontua suas opiniões, isso garante o tom pessoal que nos arraiga à história. No fim temos um texto envolvente, que apesar de não ser temporalmente linear, não é confuso, porque Zeh conseguiu demarcar muito bem o tempo na narrativa sem precisar recorrer à marcadores temporais explícitos. O livro é curto, mas em poucas páginas Juli Zeh criou seu mundo hipoteticamente perfeito, teceu uma rede de intrigas para abalar o sistema vigente, delineou um processo do Estado contra Mia Holl, e propôs uma quebra de paradigma. E, a exemplo do que pode acontecer na realidade, fatos podem ser falseados, ações podem ser teatralizadas e o chafurdo pode mais legitimar do que denegrir. A trama abre uma boa discussão sobre os limites do Estado ao controlar os indivíduos. Recomendado para ler, discutir ou apenas refletir sobre a vida dessa sociedade que bem poderia ser um reflexo profético da nossa.

“Eu me recuso a confiar em uma política que funda sua popularidade unicamente sobre a promessa de uma vida sem riscos. Eu me recuso a confiar em uma ciência que afirma que não existe livre-arbítrio. Eu me recuso a confiar em um amor que se considera o produto de um processo de otimização imunológica. (…). Eu me recuso a confiar em um Estado que sabe melhor do que eu mesma o que é bom para mim. Eu me recuso a confiar naquele idiota que desmontou a placa na entrada de nosso mundo na qual estava escrito “Cuidado! A vida pode levar à morte”. ” (Página 181)

[Blablabla Aleatório]

site: https://blablablaaleatorio.com/2017/02/09/corpus-delicti-um-processo-juli-zeh/
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Wes 28/04/2018

Um 1984 se passando bem distante de 1984.
Não gostei muito ou quase nada, pela capa pensei que se tratasse de um futuro onde as pessoas poderiam trocar de sexo ou passar por cirurgias ou sei lá, mas não é nada disso. Se passa num mundo onde não existe mais doenças e uma simples gripe foi dizimada para sempre, e no decorrer do livro descobrimos que o irmão da protagonista foi assassinado pelo próprio governo por pensar fora da caixa (clássico de distopias). Mas para mim ele serviu para realmente pensar fora da caixa e algumas vezes os diálogos muitas vezes difícil de entender por causa da tradução, trouxeram reflexões bem severas do que adoramos ou conquistamos para a cura de alguma doença.
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