Arthur 27/07/2017Elefante: uma viagem onírica aonde todas as coisas são maravilhosamente possíveisCom uma prosa poética bastante sensível (seu traço típico, aliás), em "Elefante", Bartolomeu Campos de Queirós conduz o leitor a uma viagem onírica. Nesse sonho, somos convidados a refletir acerca da liberdade, a qual, com seus ventos, sopra possibilidades infindas, incontroláveis e inescrutáveis.
Adentrando no sonho do (e com o) narrador, conhecemos as redes atrás das quais ele sempre se esconde, o que nos leva a conhecer não apenas o elefante que cabe na palma da sua mão, mas o seu íntimo, onde se encontra a verve dos seus sentimentos mais profundos. A delicada exposição do íntimo do narrador funciona como um espelho do interior do leitor, que pode, através e a partir da leitura de "Elefante", realizar um mergulho nos recônditos de si próprio. Assim como o narrador, que quanto mais conhece o elefantinho, mais se descarna e, consequentemente, mais conhece a si mesmo, quanto mais o leitor imerge nesse sonho, mais percebe que sonhar é uma potente via para se encontrar a liberdade e, com isso, compreende a importância de se despir de tudo quanto é restritivo, pois "no sonho, a liberdade voa com mais asas".
As ilustrações de Bruno Novelli (9LI) expressam perfeitamente a essência do texto de Bartolomeu, por meio de traços em formato de redes que mesclam concretude e nebulosidade. Criando imagens oníricas, que, ao mesmo tempo, se apresentam de forma palpável e compreensível, mas sem perder o caráter fantástico e suprerreal, o ilustrador captura e transmite a essência do texto do poeta.
Nas páginas de "Elefante", vislumbramos como a suspensão de tudo quanto pode limitar a liberdade conduz a um autoconhecimento, ainda que indizível ("Sonho, mas não digo palavra"), visto que "no sonho tudo é uma verdade indecifrável". Utilizando-se do sonho, um terreno onde reinam a liberdade, a imaginação e até mesmo o desconhecido, Bartolomeu nos guia numa viagem que somente (nas palavras da poeta mineira Henriqueta Lisboa acerca do autor) "aquele que mergulha nas águas profundas da preexistência e da inocência, o que aporta à ilha onde todas as cousas se tornam maravilhosamente possíveis"; seria capaz.