Ítalo 15/01/2015Dissecando Evil DeadComprar esse livro é como adquirir uma edição especial dupla em DVD recheado de extras. É como “ler um documentário” completo e definitivo sobre a produção dos filmes que compõem a trilogia The Evil Dead (com direito a “comentarios em audio” por Bruce Campbell detalhando cenas dos filmes da trilogia)
Como o próprio autor Bill Warren explica, grande extensão do livro é dedicado ao primeiro filme, simplesmente pelo fato de ser lembrado com mais carinho e emoção pelos envolvidos. Eu acrescentaria que The Evil Dead (1981) realmente merece mais espaço pois tanto as histórias de bastidores quanto a repercussão da película carregam uma importância muito maior que os demais filmes (apesar de TODOS serem excelentes).
A produção de Book of the Dead (primeiro nome do filme) envolve a conhecida Jornada do Cineasta Amador. É a velha história clássica que envolve a paixão por fazer cinema que começa com pequenos filmes caseiros feitos em Super 8, a decisão de fazer o salto para a tela grande (no caso aqui dos Drive Ins), as dificuldades de uma produção de baixíssimo orçamento, o quase não finalizamento da obra, os desafios de distribuição e finalmente a consagração.
A estréia de Sam Raimi na direção de um longa metragem é historicamente conhecida como um dos grandes debutes cinematográficos. Um atestado de futuro promissor de um jovem mais apaixonado por comédias (principalmente Os Três Patetas) e que pouco interesse tinha por (vejam só!) filmes de terror. Com um roteiro econômico em originalidade mas compensado com uma edição seca e precisa unida a movimentos de câmera desconcertantes e modernos, o filme virou um clássico cult.
A primeira parte do livro é quase um curso de cinema de guerrilha, detalhando desde do financiamento do filme junto a comerciantes e médicos da cidade, passando pelos desafios de uma filmagem com orçamento nulo (na falta de um simples aquecedor, a equipe precisou queimar moveis para se aquecer durante um período de forte frio), desistência de parte da produção, enfim tudo que poderia impedir que o filme fosse finalizado. Mas a forte amizade de Sam RaimI (diretor), Bruce Campbell (ator) e Robert G. Tapert (produtor) junto de uma paixão enorme e quase inocente de produzir o primeiro longa foram os motivadores na superação dos obstáculos da produção.
A edição preparada pela DarkSide está de sacanagem (no bom sentido). O projeto gráfico que ficou a cargo da Retina 78 é infinitamente superior a edição norte americana. No lugar de capas genéricas e fotos de bastidores jogadas a esmo nas páginas como na edição internacional, aqui encontramos duas edições diferentes (uma “Classic” em brochura e uma capa dura “Limited Edition”), belas imagens em preto e branco que ora tomam paginas duplas, ora se integram maravilhosamente ao texto, surpreendendo no posicionamento elegante e eficiente.
Logo no começo em uma nota da edição explicando sobre a confusa tradução dos nomes que os filmes receberam no Brasil, a editora já demonstra que os responsáveis são conhecedores do assunto e passam a segurança necessária de que as informações ali contidas não se perderão na tradução. Mais um ponto extra.
E como bônus, ainda temos dois curtos capítulos extras sobre o musical e o remake que não apareciam na versão original. Eles pouco acrescentam e poderiam muito bem ter sido deixados de lado, mas mais uma vez, talvez pela vontade de apresentar uma obra completa, a editora optou por inclui-los o quê, de novo, demonstra respeito pelo leitor.
A DarkSide trabalha com pequenas tiragens dos seus livros, o que é sensato dado que a estratégia da editora é focar em nichos específicos. Por isso um conselho: esse é o tipo de livro que, ao esgotar, custará pequenas fortunas em sites de vendas. Então, seja pela vontade de ter um item de colecionador, seja você um fã de Evil Dead, ou, simplesmente pelo fato de incentivar esses caras que tiveram coragem de entregar uma obra tão luxuosa e bem acabada como essa num mercado editorial sem tradição nesse tipo de literatura, compre o seu agora.
Podem existir várias outras razões para querer se adquirir o livro; curiosidade cinematográfica, admiração pela trilogia ou pelo diretor, o gosto pelo gênero de horror, entre outras. Mas gosto de imaginar que alguém irá ler o livro e devorá-lo em pouquíssimos dias, simplesmente irá pegar sua câmera, juntar uma galera e fazer um filme.
O livro é como um Necromicon por si só, capaz de deixa-lo possuído; seja pelo desejo imenso de fazer um filme como esses caras ou de rever toda a trilogia pelo prazer de vê-la com novos olhos.