spoiler visualizarRodrigo.Rufino 05/09/2016
Clive Barker e o horror de ser.
Excelente. Aqui vão minhas impressões sobre cada conto:
Inicialmente considerei O Filho de Celuloide bom, mas depois reconsiderei, e agora posso chamar o conto de excelente, sendo uma boa (embora distorcida e maléfica) homenagem ao mundo de ilusões do cinema;
Cabeça Descarnada é um conto brutal sobre um ser igualmente brutal e cruel, uma história bem forte e até polêmica em alguns pontos. O embate entre o sagrado e o profano, que nas obras de Barker são retratados como conceitos simbióticos, mesmo aqui, está presente neste conto;
Confissões da Mortalha (De Um Pornógrafo) é revoltante em sua primeira parte, mas depois segue num misto de suspense com toques leves de humor, mas um humor mais sutil ainda que o de O Yaterring e Jack (conto do primeiro Livros de Sangue), sem nos fazer cair no riso - pois riso fica preso conforme você testemunha as ações extremas do protagonista;
Bodes Expiatórios é outro conto muito bom, narrado em primeira pessoa por sua protagonista, contado num ritmo cadenciado, mesmo sendo mais curto, e com um final honesto à proposta. Nada é o que parece quando se trata de expiação, pelo menos aqui;
Fechando com Restos Humanos: talvez o conto mais profundo deste terceiro volume, com questões envolvendo a própria humanidade, nossos sentimentos, sobre encararmos a nós mesmos, sobre espelhar-se em algo. Também vemos pela primeira vez, neste conto, um mesmo detalhe que vemos em The Hellbound Heart/ Hellraiser, envolvendo sangue. E me surpreendeu chegar à última página sem perceber, num final que, se não surpreende mas também não encerra o conflito de maneira convencional, termina num ponto em que o conflito interno do personagem principal se resolve, sendo mais importante, talvez, que o conflito externo, físico. Os horrores do físico, do anatômico apenas refletem o horror de ser.